Logo Exame.com
Empresas

Vale Day: 2024 é 'déjà-vu' de 23 e produção deve decolar a partir de 2026

Companhia vai aumentar produção e reduzir custos daqui a três anos - mas, em 2024, pouco disso deve aparecer no balanço

Vale: investor day traz poucas surpresas para estimativas de investidores (Germano Lüders/Exame)
Vale: investor day traz poucas surpresas para estimativas de investidores (Germano Lüders/Exame)
Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 5 de dezembro de 2023 às 14:27.

Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 16:07.

A Vale divulgou nesta terça-feira, em Londres, projeções mais claras de como sua produção deve se comportar ao longo dos próximos três anos. Entre as estimativas de custos, capex e de minério de ferro, a mensagem geral captada pelo mercado foi uma só: a de que a mineradora deve melhorar seu desempenho operacional somente daqui a três anos, por causa dos novos projetos que devem entrar em operação e, consequentemente, vão gerar ganhos de escala.

Não foi exatamente uma surpresa -- o preço das ações pouco oscilou ao longo do dia, com queda de 0,99% no papel às 15h. A apresentação apenas evidenciou, na prática, a percepção coletada pelo mercado ao longo dos últimos anos de que a Vale tem questões com eficiência operacional -- diante da dificuldade de a mineradora atingir, ao longo dos últimos anos, as próprias metas de produção. Em 2022, para ficar no exemplo mais recente, a diferença foi pequena, mas ainda assim, presente: a Vale havia projetado 310 milhões de toneladas de minério de ferro (Mt) e, no fim, produziu 308 Mt.

Nesta terça-feira, a Vale trouxe novos planos de crescimento, confirmando estimativas já divulgadas no início deste ano e que, portanto, estavam precificadas no modelo de analistas e investidores. A companhia projeta chegar a um intervalor de 340 a 360 milhões de toneladas em 2026, um avanço importante em relação às 320 milhões de toneladas projetadas para 2024 (número similar ao de 2023).

Mais do que aumentar a produção, a mineradora quer aumentar a qualidade do minério de ferro produzido. Em fevereiro, a Vale já havia afirmado a investidores que pretende elevar em mais de 70% a produção de minério de ferro de alta qualidade, chegando a 2026 com um incremento de 50 a 55 milhões de toneladas.

Três projetos devem contribuir para esse objetivo: Vargem Grande, Capanema e o S11D, no Pará. O status hoje é o seguinte: a planta de Vargem Grande está 60% completa e tem início previsto para o quarto trimestre de 2024, com a expectativa de adicionar 15 Mt por ano. O projeto de Capanema também está no mesmo percentual de evolução e deve entrar em operação no primeiro semestre de 2025, também com a expectativa de adicionar 15 Mt por ano. Por fim, entra em operação o S11D no segundo semestre de 2026, que deve adicionar 50 Mt de capacidade.

A justificativa para investir em um minério de qualidade superior está relacionada ao prêmio (em alta) que esse tipo de produto deve ter ao longo dos próximos três anos, em meio aos compromissos de descarbonização das maiores siderúrgicas do mundo.

De acordo com a Vale, o prêmio deve passar de US$ 3 a 4 por tonelada hoje a US$ 8 a US$ 12 por tonelada em 2026 e acima de US$ 18 de 2030 em diante. A companhia espera que o combo de prêmios maiores e produção maior de minério de ferro (e de metais básicos) contribua com até US$ 4 bilhões de Ebitda incremental para a empresa até 2030.

Pouco disso deve se refletir no balanço da empresa no ano que vem. Para o próximo ano, a Vale estima custos C1 (que representam produção e frete até o porto) de US$ 21,50 a US$ 23 por tonelada, bastante parecidos com os deste ano, de US$ 22,50 por tonelada -- tudo isso, não custa lembrar, para entregar uma produção bastante parecida com a de 2023.

Os custos totais de produção de minério de ferro devem ficar entre US$ 53 e U$ 57 por tonelada, próximos de US$ 56 por tonelada em 2023. Em 2026, os custos devem chegar a US$ 45 por tonelada -- uma redução significativa em relação ao patamar atual, mas ainda acima dos US$ 41 projetados inicialmente pelo analista Daniel Sasson, do Itaú BBA.

Um ponto positivo, na visão do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) para 2024 foi a projeção de desembolsos com Brumadinho e Mariana, estimadas em US$ 3 bilhões para o ano que vem, abaixo das expectativas do banco, que projeta US$ 3,4 bilhões.

Na contramão, com uma previsão maior de desembolsos -- ainda que não tenha causado sustos -- ficou a previsão de capex. A partir de 2024, o investimento (capex) vai somar de US$ 6 bilhões a US$ 6,5 bilhões, pouco acima das expectativas divulgadas anteriormente, que consideravam apenas o piso do intervalo, de US$ 6 bilhões.

Níquel e cobre

O CEO da Vale, Eduardo Bartolomeo, também sinalizou hoje que a divisão Vale Base Metals -- o patinho feio da companhia, que produz níquel e cobre -- ainda deve passar por melhorias operacionais ao longo dos próximos anos. Para isso, recentemente a empresa chamou Mark Cutifani, ex-Anglo American, para ser presidente do conselho.

No evento de hoje, a companhia diminuiu as estimativas de produção para o médio prazo dessa divisão. O guidance para 2026 de níquel e cobre ficou em 210 a 230 kt e 375 a 410 kt, respectivamente (de uma previsão anterior de 230-245 kt e 290-420 kt). Para 2030, a previsão permaneceu a mesma, de 300 kt por níquel e 900 kt para o cobre.

De olho no longo prazo, a diretora-executiva da divisão, Deshnee Naidoo, afirmou que as vendas de veículos elétricos devem crescer ao longo dos próximos anos, o que deve fazer com que a demanda por níquel cresça 55% entre 2022 e 2030, atingindo 5,1 milhões de toneladas.

Para o cobre, a expectativa é de crescimento de 18% no período, o que levaria a demanda para 36 milhões de toneladas em 2030. Além dos carros elétricos, a busca por geração renovável de energia também deve impulsionar esse minério.

Em julho, a Vale vendeu uma fatia de 13% na Vale Base Metals para um consórcio formado pela Manara Minerals – uma joint venture entre o PIF, fundo do soberano saudita com um a mineradora local – e pela gestora americana Engine Nº1, por R$ 3,4 bilhões.

No caminho para cumprir todas essas metas, a Vale passa por uma série de transformações organizacionais. No ano passado, causou barulho no mercado a entrada da Cosan no conselho de administração, na figura do ex-presidente da holding, Luiz Henrique Guimarães. E, em 2024, todos os olhos estão atentos à possível mudança de CEO da mineradora, diante do fim do mandato de Eduardo Bartolomeo.

Para quem decide. Por quem decide.

Saiba antes. Receba o Insight no seu email

Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade

Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

Continua após a publicidade
Dejà vu: JBS bate (de novo) o consenso, puxada por Seara

Dejà vu: JBS bate (de novo) o consenso, puxada por Seara

Stone bate consenso, com avanço de 20% no TPV e take rate recorde

Stone bate consenso, com avanço de 20% no TPV e take rate recorde