Iniciativa de empresário brasileiro pela cura do câncer cerebral infantil chega à fase de testes
Medulloblastoma Initiative precisa de cerca de 7 milhões de dólares nos próximos meses contra doença que acomete 30.000 crianças por ano
Lucas Amorim
Diretor de redação da Exame
Publicado em 27 de junho de 2023 às 17:10.
Última atualização em 13 de dezembro de 2023 às 19:29.
"Crianças não deviam ter câncer", afirma o empresário gaúcho Fernando Goldsztein em entrevista por vídeo à EXAME. Goldsztein é conselheiro da incorporadora Cyrela, mas fala como presidente da The Medulloblastoma Initiative (MBI), uma organização global com um objetivo mais do que nobre: curar o medulablastoma, um câncer cerebral que acomete cerca de 30.000 crianças por ano no mundo.
O empresário criou a iniciativa em 2021 impulsionado por uma história familiar. Em 2015, seu filho, então com 9 anos, foi diagnosticado com o tumor. A taxa de cura é de 65%. Mas em 2019 o tumor voltou, um quadro que derruba a chance de cura para apenas 5%. "Hoje meu filho está estável, mas não curado", diz o empreendedor. "Quando o tumor voltou, buscamos tratamento nos Estados Unidos e nos demos conta do desafio global de tratar esta doença. A sociedade ignorou essas crianças e investiu em cânceres mais frequentes".
Nos últimos dois anos, Goldsztein liderou uma mobilização global com resultados concretos. No início de junho, ele apresentou o projeto do MBI durante um encontro anual de ex-alunos da Sloan School of Management do MIT, nos Estados Unidos. "Como ex-aluno do MIT, retornar a este local e ter a oportunidade de apresentar o projeto que é a minha missão de vida é uma experiência única", afirmou.
No MIT, apresentou uma coleção de vitórias e uma leva de desafios a serem vencidos. O MBI já levantou cerca de 8 milhões de dólares, e precisa de mais de 7 milhões de dólares para levar suas pesquisas para a fase de testes em pacientes, com o Brasil como foco. Será uma etapa tão decisiva quanto surpreendente.
Quando Goldsztein começou a mergulhar no universdo do meduloblastoma, descobriu que os protocolos de tratamento eram dos anos 1980. Mesmo as crianças curadas ficavam com problemas de crescimento e cognitivos. Durante o tratamento de seu filho, conheceu o médico Roger Packer, do Children's National Hospital, de Washington, que lhe apresentou um caminho possível para a cura. O empreendedor investiu 3 milhões de dólares de seu bolso, e se surpreendeu com o impacto. O próximo passo foi criar o MBI e aumentar o escopo, e a ambição.
Hoje, a iniciativa mobiliza empresas e doadores privados para aplicar recursos em pesquisa com o objetivo de encontrar a cura para a doença. Reúne um consórcio de 13 laboratórios nos Estados Unidos, Canadá e Alemanha, com três dos principais pesquisadores do meduloblastoma no mundo.
Os testes para a doença
Em setembro do ano passado, o MBI publicou um artigo na conceituada revista Nature, em que apresentava novas descobertas sobre a doença. "O meduloblastoma já existe em forma pré-maligna no momento do nascimento... Como o meduloblastoma normalmente se manisfesta durante a infância, por volta dos sete anos de idade, a descoberta da equipe sugere que pode haver uma janela de vários anos durante a qual um meduloblastoma pode ser prevenido", diz o artigo assinado, entre outros, o por Michael Taylor, um dos maiores pesquisadores para a cura de câncer do planeta. "Prevenir o câncer antes de precisar tratá-lo depois que acontece é o melhor resultado possível para as crianças".
Os testes contra o meduloblastoma não tinham como ser feitos em laboratórios antes das descobertas do consórcio do MBI. Agora, há três tratamentos em andamento, com teste clínicos previstos para começar em seres humanos nos próximos 12 meses. É uma das últimas etapas para o tratamento chegar a crianças de todo o mundo. Cada um dos testes clínicos deve durar até 3 anos e envolver de 12 a 18 pacientes. O MBI já está em conversas com hospitais de São Paulo e Porto Alegre para esta fase das pesquisas.
Com o MBI, Goldsztein luta contra uma carência de recursos para pesquisas infantis. Mesmo nos Estados Unidos, a cada dólar que o governo investe em pesquisas contra o câncer, apenas 4 centavos vão para a pediatria. Caso os primeiros testes em pessoas se mostrem bem sucedidos, o cenário de financiamento tende a mudar radicalmente. Por que a partir daí o tratamento tende a chamar a atenção de startups de biotecnologia e das grandes empresas farmacêuticas.
"Não entramos num projeto que estava andando. Nós tomamos a iniciativa de criar um projeto que mobiliza cientistas de todo o mundo. Para avançar nos ensaios clínicos, precisamos de mais recursos", diz o empreendedor. Junto com ele, estão milhares de crianças e seus familiares em todo o mundo.
***Para doar para o The Medulloblastoma Initiative, acesse o site https://www.mbinitiative.org/pagina-inicial/***
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Lucas Amorim
Diretor de redação da ExameJornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, começou a carreira no Diário Catarinense. Está na Exame desde 2008, onde começou como repórter de negócios. Já foi editor de negócios e coordenador do aplicativo da Exame.