21 de janeiro de 2025 às 17:45
Em um ano crítico para a ação global contra a crise climática, o retorno de Trump à Casa Branca balançou Washington (e o planeta) com a confirmação de medidas imediatas anti-clima já nas primeiras horas de sua posse e a assinatura do decreto que retira os EUA do Acordo de Paris.
Mais cedo, a cerimônia de posse desta segunda-feira (20) no Capitólio, às 14h de Brasília, já parecia confirmar muitos dos temores de desmonte e retrocesso em políticas climáticas e ambientais norte-americanas.
Vale lembrar que o novo presidente assume, logo após 2024 se confirmar como o ano mais quente da história, em que a temperatura média global ultrapassou o 1,6°C acima do período pré-industrial.
Ao mesmo tempo, o mundo ainda tenta manter vivo o limite de 1,5°C de Paris até 2030 e mira nas negociações da Conferência de Mudanças Climáticas (COP30) neste ano pela primeira vez no Brasil, em Belém do Pará.
O novo presidente americano também afirmou que irá declarar emergência energética nacional, algo que já era especulado. A medida permite que o presidente utilize até 150 poderes especiais, como parte de seu plano para abrir caminho para novas explorações de petróleo e gás.
"O ouro líquido está sob nossos pés. Exportaremos a energia norte-americana mais uma vez e produziremos [petróleo e gás] mais do que qualquer outro pais da Terra. Vamos usar este arsenal", disse Trump no discurso. Atualmente, os EUA já são o maior produtor de petróleo do mundo.
Além disso, reforçou novamente a saída de acordos verdes cruciais como o de Paris, assinado em 2015 pelos 195 países membros da ONU que se comprometiam com a redução das emissões, e também prometeu acabar com regras federais e incentivos a veícúlos elétricos.
"A política de 1.5ºC está morta a partir de hoje. É o fim da estabilização do aquecimento global, mas não é o fim da luta contra a mudança do clima", disse em entrevista à EXAME, Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima.
A distração a temas urgentes como clima, igualdade e diversidade contradiz o fato da crise climática ter sido apontada como principal risco global de longo prazo pelo Global Risks Report 2025, relatório que guia o encontro.
O efeito Trump também volta a dominar a política americana, em um EUA assolado por eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e devastadores -- a exemplo dos incêndios florestais históricos na Califórnia.
A saída dos EUA do Acordo de Paris também significa colocar em xeque as negociações da COP30 pela primeira vez no Brasil neste ano, com o enfraquecimento de compromissos nacionais em mitigação e financiamento climático para nações mais vulneráveis.
Após a assinatura do decreto, leva um ano para que o país tecnicamente esteja fora do grande acordo global do clima. Atualmente, os EUA são o segundo maior emissor de gases estufa do mundo, atrás apenas da China.