O que são IPOs e por que tem tanta empresa querendo fazer um | EXAMINANDO

Examinando explica como acontece um IPO, o que isso significa para as companhias e porque tantas empresas buscam abrir seu capital ultimamente

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Quando você vai ao mercado ou à feira encontra várias opções de produtos iguais e diferentes com os mais variados preços. Você escolhe o que quer comprar considerando o que precisa e o valor de cada coisa. Essa ideia de mercado vai muito além dos alimentos, e vale também pros investimentos. Você já deve ter ouvido falar no mercado financeiro. De forma resumida, o mercado financeiro funciona como um mercado mesmo, com vários ativos disponíveis para comprar. Os ativos funcionam como os produtos e uma parte desse mercado é conhecida como Bolsa de Valores. Existem outras formas e lugares de adquirir investimentos, mas hoje nós vamos focar na bolsa. 

Como é que faz para entrar nesse mercado? Como vender o seu produto lá? As ações das empresas são um dos ativos negociados na Bolsa de Valores, mas elas não estão lá desde sempre. Se você conferir, não são todas as empresas que estão disponíveis para comprar. Por que? A entrada na bolsa de valores acontece por um processo chamado de oferta pública inicial de ações, que na sigla em inglês é o IPO. No Examinando de hoje nós vamos te explicar como acontece um IPO, o que isso significa para as companhias e porque tem tanta empresa tentando fazer um ultimamente. 

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Imagina que você é dono de uma empresa e ela tá em um ritmo constante de crescimento, mas apesar dos bons resultados, o lucro que ela tem não é o suficiente pra reinvestir de forma a aumentar ainda mais o tamanho do negócio. Uma das saídas para essa situação é buscar sócios, pessoas que têm dinheiro para investir na empresa e em troca vão receber uma parte dos lucros. Mas quantas pessoas você conhece que estariam dispostas a investir assim em um negócio? Não é tão fácil encontrar, né? Uma opção é buscar sócios desconhecidos. 

Parece irresponsável, mas é basicamente isso que acontece quando uma empresa decide entrar na Bolsa de Valores. Ela abre o seu capital para investimento externo. Como falamos, esse processo é feito pelo IPO, que representa a primeira vez que uma empresa vai receber novos sócios realizando uma oferta de ações no mercado financeiro. Essa empresa se torna uma companhia de capital aberto com papéis negociados na Bolsa de Valores. Nesse caso, papéis são a mesma coisa que ações. 

Normalmente, as empresas que fazem um IPO estão em um estágio de maturidade avançado dos seus negócios. Historicamente, essas operações no Brasil são muito grandes e movimentam centenas de milhões de reais. A estatal da Arábia Saudita, Saudi Aramco, conseguiu arrecadar o valor recorde de 25,6 bilhões de dólares no seu IPO no fim de 2019. Esse, até agora, é considerado o maior IPO do mundo. Aqui no Brasil, a maior oferta pública inicial de ações foi feita pelo banco Santander, que levantou mais de 13 bilhões de reais em 2009. 

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Para as empresas, o IPO é um processo complexo e muitas vezes bem caro. Ele envolve uma mudança de mentalidade das lideranças. Depois de abrir o capital, os gestores precisam fornecer informações próprias pro mercado e também conviver com os novos e desconhecidos acionistas. Mesmo assim, várias empresas têm interesse em fazer um IPO. 

Um dos motivos é que emitir ações é uma das maneiras que as empresas têm para levantar recursos. Para se tornarem acionistas de uma companhia, os investidores precisam comprar os papéis, entregando dinheiro em troca deles. Esses valores são usados para financiar investimentos que são aplicados no crescimento da empresa.

Existem outras formas das empresas conseguirem recursos, é claro. As mais tradicionais são os próprios lucros do negócio ou empréstimos bancários. Mas levantar dinheiro emitindo ações tem algumas vantagens. Diferente de um financiamento, ações não têm vencimento, nem preveem um retorno específico. Ou seja, a empresa fica livre de precisar ter os valores disponíveis, com certa rentabilidade, numa data definida.

Além disso, se considerar o tamanho das operações e o prazo de retorno dos investimentos financiados por meio delas, o custo de emitir ações pode ser bem menor do que o dos financiamentos bancários ou outras maneiras de conseguir crédito. Para fazer um IPO, uma empresa precisa cumprir uma série de requisitos legais e regulatórios. Precisa, por exemplo, estar juridicamente constituída como uma “S/A”, ou sociedade anônima, que é quando o capital da companhia é dividido em ações. 

Realizar um IPO não é algo que se possa fazer de uma hora para outra. Do início ao fim, o processo pode tomar mais de um ano. Esse caminho começa com o planejamento e a auditoria, passa por várias reuniões com várias pessoas envolvidas e acaba quando a empresa faz o pedido de registro de IPO. Esse pedido é feito para o órgão regulador de cada país, aqui no Brasil é a Comissão de Valores Mobiliários, a CVM. A empresa também precisa pedir a listagem na B3, a bolsa de valores brasileira, porque só as companhias que estão listadas lá podem ser negociadas. Se todos esses passos forem cumpridos e aprovados, a empresa marca o dia em que suas ações entraram na Bolsa de Valores, ou seja, o dia em que acontece de fato o IPO. 

Apesar de ser um processo complexo e caro, cada vez mais e mais empresas se interessam em fazer um IPO. Abrir o capital na bolsa de valores é um dos atestados de sucesso que uma companhia pode desejar. É um reconhecimento de que o crescimento acumulado por anos tornou a empresa atraente para os investidores. Mas aqui no Brasil, chegar à bolsa é quase um privilégio. Enquanto nos Estados Unidos existem mais de 6.000 companhias com ações negociadas, a quanti­dade de empresas listadas na B3, é atualmente uma das menores da história: quase 400.

Mas esse cenário pode estar caminhando para a mudança. Em um ano tão atípico como 2020, em que a pandemia paralisou o mundo, o Brasil registrou pelo menos 24 estreias de empresas na bolsa. Parece pouco, mas mas essa quantidade é uma das maiores da história do país. E ainda existem cerca de 50 companhias na fila para abrir o capital. O motivo pra tanto interesse na bolsa vem de razões da macroeconomia. Com as taxas de juros super baixas, os investidores têm saído da renda fixa e apostado mais nas ações. O número de investidores na B3 saltou de 1 milhão em maio de 2019 para 3,2 milhões em novembro de 2020.

Os especialistas vem essa tendência com bons olhos para a economia como um todo. Essa onda de otimismo com o mercado de ações trouxe expectativas até muito pouco tempo atrás impensadas. É crescente o número de especialistas que estimam que a bolsa brasileira poderá ter 1.000 ou mais companhias na próxima década. É consenso entre os profissionais que trabalham com a organização das ofertas de ações que, se esse cenário se mantiver, o país vai deslanchar e a bolsa brasileira poderá, finalmente, refletir a economia real e até mesmo impactá-la de forma consistente.

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