Smartphone da Samsung: “quando as pessoas gastam US$ 600 a US$ 700, elas não têm vontade de trocar de telefone todos os anos”, diz analista (Sean Gallup/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de junho de 2015 às 17h15.
Chegou a hora da verdade para as fabricantes de aparelhos que há muito tempo lucram com a tendência dos americanos de trocar frequentemente de telefone celular.
Os consumidores dos EUA sentiram o gostinho do financiamento de telefones, dois anos atrás, e nunca se arrependeram.
Eles compraram novos aparelhos sofisticados em troca de alguns dólares a mais por mês sem ficarem presos a nenhum contrato de serviço.
Agora, eles estão mantendo seus velhos smartphones por mais tempo do que quando assinavam contratos de dois anos e recebiam brindes, e isso significa mais problemas para fabricantes como Samsung Electronics Co. e HTC Corp., que enfrentam uma queda nas vendas.
“Quando as pessoas gastam US$ 600 a US$ 700, elas não têm vontade de trocar de telefone todos os anos”, disse o analista independente de telefonia celular, Chetan Sharma.
Cuidadosos, os consumidores estão começando a comprar aparelhos a cada 20 a 24 meses, contra períodos de 15 meses quando as operadoras subsidiavam todos os aparelhos e compensavam o custo com cobranças mais elevadas pelo serviço, disse ele.
O financiamento de telefones é popular entre os clientes desde que a T-Mobile US Inc. o ofereceu pela primeira vez em 2013 nos EUA. Dois anos depois, o impacto dos ciclos de substituição de aparelhos está prestes a se tornar mais forte.
O motivo é que o financiamento de telefones atualmente é adotado pela maioria dos consumidores, pois a AT&T e a Verizon Communications Inc., duas gigantes das telecomunicações, também adotaram a estratégia.
Quase dois terços dos assinantes da AT&T que compraram novos telefones no último trimestre assinaram o plano de financiamento de aparelhos da operadora.
Enquanto a Apple Inc., fabricante do iPhone -- cujos clientes tendem a se importar menos com os preços --, praticamente não foi afetada, a Samsung e a HTC poderão sentir o maior impacto, disseram analistas.
Mantendo os aparelhos
No início, as fabricantes de aparelhos tiraram proveito da mudança para o financiamento de telefones.
Com as tarifas dos aparelhos separadas, os consumidores, como resposta, passaram a escolher aparelhos mais sofisticados, segundo Roger Entner, analista da Recon Analytics LLC em Dedham, em Massachusetts, nos EUA.
“As fabricantes de aparelhos desfrutaram do passeio no trem da alegria enquanto ele durou; agora vem a época das vacas magras”, disse Entner, para quem o ciclo de substituição de aparelhos se alongará para 28 meses neste ano.
“As fabricantes estavam encantadas, mas agora o ritmo de crescimento está diminuindo. Hoje todo mundo tem um smartphone e mantém esse aparelho por mais tempo”.
A Samsung, fabricante dos telefones da linha Galaxy, está passando por uma reestruturação em meio a uma concorrência maior no ramo de telefonia celular de rivais mais novas, como a Xiaomi Corp.
As vendas de equipamentos móveis na empresa sul-coreana caíram 20 por cento no primeiro trimestre em relação a um ano antes. Muitas razões são responsáveis pela queda, incluindo a desaceleração dos gastos na China e os problemas econômicos da Rússia.
O ciclo de troca de aparelhos mais longo nos EUA também é um fator, disse o analista Sharma.
Na HTC, o estoque de produtos acabados subiu para recordes 2,35 por cento dos ativos totais no fim do trimestre passado -- levando à especulação de que seu telefone mais recente, o M9, não está vendendo bem --.
Em 5 de junho, a empresa taiwanesa reduziu sua projeção e anunciou uma baixa contábil, levando suas ações ao menor nível em uma década.
Representantes da Samsung, da HTC e da Apple preferiram não comentar.
Os ciclos mais longos de substituição de aparelhos contribuirão para a esperada desaceleração nas vendas de smartphones.
Os embarques nos EUA aumentarão uma média de 5,3 por cento ao ano até 2018, segundo a IDC, contra um incremento de 8,9 por cento no ano passado.
O que começou como uma simples mudança para mover os custos dos telefones das operadoras para os consumidores agora tem implicações maiores para o setor, disse Entner, o analista da Recon Analytics.
“A desaceleração da substituição dos aparelhos diminui o ritmo de adoção de novas tecnologias”, disse Entner. “Pensando a longo prazo, o setor está fazendo uma escolha ruim”.