Stranger Things (Netflix/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2017 às 20h26.
Última atualização em 31 de outubro de 2017 às 09h38.
Você está vendo TV errado desde que comprou sua última televisão. Talvez até mesmo antes disso. E quem está furioso com isso são os irmãos Duffer, criadores de Stranger Things. Eles, e um grupo de cineastas estão clamando: pegue o controle remoto, e vamos arrumar isso já.
A questão toda é técnica. Os televisores mais modernos já vêm de fábrica com uma configuração que não se adapta à maneira como filmes e séries são filmados.
É que a maioria dessas produções são gravadas em uma frequência de 24 frames por segundo, ou seja, para cada segundo de imagem a filmadora tira 24 fotos – que conseguem enganar nossos olhos para que vejamos movimento ali. O número é baixo, já que câmeras atuais conseguem filmar a mais de 60 frames por segundo; mas é uma tradição.
Desde o princípio da indústria se utilizam duas dúzias de frames por motivos variados: alguns clamam que, por ser uma frequência mais lenta, nosso cérebro interpretaria as filmagens nessa velocidade como algo irreal (o que facilitaria a imersão do espectador em tramas fictícias), outros dizem que a escolha é meramente econômica (já que muitos longas ainda são filmados em película, gravar com uma frequência maior, gastaria rolos e rolos de filme extra, aumentando o custo de produção em milhões de dólares).
O problema é que esse acordo para o número de frames só existe entre as produções culturais. Transmissões ao vivo de esportes, por exemplo, tendem a ter mais frames – já que a frequência maior ajuda na percepção de detalhes importantes, como a trajetória da bola ou revisões de arbitragem em câmera superlenta.
O que os novos modelos de televisão fazem é, automaticamente, exibir tudo em uma frequência superior.
Dessa forma, você consegue ver o Brasileirão como se estivesse no estádio, mas na hora de ver Stranger Things, seu aparelho tenta aumentar o número de frames por cena.
É como tentar pegar um fusquinha charmoso e forçar ele a apostar corrida com um Ferrari. Você sobrecarrega a imagem.
As cenas ficam com pequenos defeitos, como uma espécie de sombra gelatinosa atrás de tudo que se mexe um pouco mais rápido. O vídeo abaixo mostra um exemplo.
“Nós e todo mundo em Hollywood investimos tanto tempo e dinheiro para que tudo fique lindo, e aí quando você vai ver na casa de alguém, parece que filmamos com um iPhone”, disse Matt Duffer, um dos criadores de Stranger Things, em entrevista à Vulture. Os irmãos Duffer estão longe de serem os únicos incomodados.
Em junho, diversos diretores hollywoodianos usaram o Twitter para reclamar sobre a questão. Entre eles, estão responsáveis por grandes blockbusters como James Gunn (Guardiões da Galáxia), Edgar Wright (Baby Driver) e Rian Johnson (Star Wars: Os Últimos Jedi), que chegou a escrever “Se você quer que filmes pareçam diarreia, tudo bem. Mas isso deve ser uma escolha sua, não uma amarra que exige esforço para ser desfeita”.
A luz no fim do túnel é que é muito fácil consertar esse problema. Basta alterar as configurações da sua TV. O tutorial varia de aparelho para aparelho, mas, em geral, tudo se resolve quando você desativa alguma função que tenha algum nome derivado de “Movimento”, ou “motion”.
Algo como “efeito de movimento suave”, ou “Trumotion”. Uma pesquisada rápida colocando o modelo do seu aparelho junto com o termo “Interpolação de Imagens” (nome técnico da função) ou “Soap Opera Effect (como o problema ficou conhecido na internet) deve te trazer o passo a passo específico para seu televisor.
Pelo menos agora você já vai saber o que é, de fato, estranho na série – e o que era só culpa da sua televisão mesmo.
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Superinteressante.