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Da Redação
Publicado em 9 de março de 2012 às 13h17.
Los Angeles - Um vídeo que conseguiu o objetivo de tornar-se viral para chamar a atenção sobre o criminoso de guerra ugandense Joseph Kony dominou o mundo virtual e obrigou os realizadores a defender-se das acusações de ser obsoleto e simplista.
O vídeo, que superou 46 milhões de visitas em apenas quatro dias no YouTube, é uma campanha para levar o fugitivo líder da milícia rebelde ugandesa Exército de Resistência do Senhor (LRA) aos tribunais.
Realizado pela ONG californiana Invisible Children, o filme propõe a intervenção militar americana para prender Kony, acusado de sequestrar, torturar e escravizar dezenas de milhares de crianças nos últimos 20 anos.
"Este é o maior problema", explica o documentarista Jason Russell ao filho no vídeo. "Ninguém sabe quem ele é. Não é famoso, é invisível".
"Assim é como nós o tornaremos visível", continua, ao propor dar fama a Kony e transformar a frase "Stop Kony 2012" em um slogan conhecido da cultura popular.
O emotivo vídeo de 30 minutos ("Kony2012") foi elogiado por ricos e famosos, e até mesmo pelo governo americano.
"Que bom ver o forte interesse despertado por #stopkony - um passo chave para ajudar os mais vulneráveis", escreveu no Twitter o fundador da Microsoft, Bill Gates.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, recordou na quinta-feira que o presidente Barack Obama anunciou em outubro do ano passado o envio de 100 soldados para ajudar Uganda a capturar Kony.
"E acredito que este vídeo viral é parte da resposta, que busca criar consciência sobre as atividades atrozes do LRA", completou.
"Temos que deter Kony #STOPKONY", escreveu a atriz Zooey Deschanel, assim como a cantora Rihanna e o rapper Sean "Diddy" Combs, entre outros.
Mas o vídeo "Kony2012" também foi muito criticado por explicar a situação em termos maniqueístas, por supostamente promover o trabalho do próprio cineasta, por tratar de um tema cujo momento crucial aconteceu há 10 anos e propõe uma solução "ocidental" ao problema.
Além disso, sobraram críticas para o fato de boa parte do dinheiro arrecadado - quase 70% segundo algumas fontes - ser usado para pagar salários, gastos de representação e produzir filmes.
O site Charity Navigator, que avalia organismos de caridade, atribuiu duas das quatro estrelas possíveis no quesito "transparência".
"Por que agora? Por que a campanha busca beneficiar-se ao comercializar a infâmia de um homem já famoso por seus crimes e cuja captura já está na pauta?", questionou em seu blog o escritor e jornalista ugandense Angelo Izama, que mencionou como problemas urgentes do país a prostituição infantil e a Aids.
"Apesar de chamar a atenção para o fato de Kony, indiciado por crimes pelo Tribunal Penal Internacional em 2005, ainda estar fugitivo, o retrato de seus supostos crimes no norte de Uganda já são de outro tempo".
Atualmente, a região ugandesa mencionada no vídeo vive em paz e o LRA seguiu - reduzido - para o nordeste.
Como resposta às críticas, a Invisible Children publicou um comunicado no qual afirma que tem denunciado publicamente as atrocidades do LRA na África Central desde antes do grupo ter abandonado Uganda em 2006.
"E os governos dos países onde Kony tem atuado não foram capazes de capturá-lo", afirma a nota.
A instituição, que tem sede em San Diego (sul da Califórnia) também explica as simplificações: "Em nosso esforço para alcançar um público amplo, a Invisible Children buscou explicar o conflito em um formato facilmente compreensível".
Aos questionamentos sobre suas finanças, a ONG fundada em 2003 afirma que tem duas estrelas no site de auditorias porque não tem em sua direção cinco membros com direito a voto, apenas quatro.
"Atualmente estamos entrevistando potenciais membros da junta", afirma a nota.
A Invisible Children também publicou na internet os números da ONG: dos nove milhões de dólares arrecadados em 2011, 37% foram investidos em programas sociais na África Central.
As críticas, no entanto, parecem importar pouco aos milhões internautas que expressaram apoio.
"Em qualquer caso, apoio o movimento", escreveu no Twitter @MDeGuuzzY, ao comentar a polêmica sobre a idoneidade do vídeo.
(Este não será exibido em iPad e alguns tablets Android)