oculus (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 27 de março de 2014 às 13h13.
A venda da Oculus VR ao Facebook não foi muito bem recebida pelo mercado, com uma desvalorização das ações da rede social. E o pessimismo da bolsa também apareceu em outros lugares: apoiadores do projeto dos óculos de realidade aumentada no Kickstarter demonstraram, em maioria, revolta e frustração no site de crowdfunding, no comunicado oficial e nas redes sociais.
As causas foram das mais diversas, mas parte considerável afirmou se sentir traída com a venda muito por causa da má reputação da rede social, mas também pelo possível desvio de rota que o projeto pode tomar com a venda. Quero que eles façam games de verdade para o Oculus Rit, e não se transformem em uma jogada de marketing para o Facebook, escreveu Drew Madisen em um de seus cinco comentários quase seguidos feitos pouco depois do anúncio. E como lembrou a Vice, "Notch", o responsável por Minecraft, foi outro a deixar de apoiar o projeto, cancelando os planos de uma versão do game compatível com os óculos de realidade aumentada. "Eu não quero trabalhar com redes sociais, eu quero trabalhar com games", escreveu.
A revolta e a descrença não são totalmente infundadas infundadas, vale destacar: a empresa de Zuckberg afirmou que, de fato, pretende levar o conceito de realidade virtual para além dos videogames. Como afirmou o The New York Times, o Oculus Rift deverá ter sua aplicação expandida para outras áreas, como comunicações, educação, entretenimento e mídia, entre outras, e mesmo o design e o próprio nome do aparelho acabariam modificados tudo para a frustração de outros apoiadores além de Madisen.
O Facebook chegou a desmentir ainda nesta quarta-feira, em declaração ao TechCrunch, a reportagem do jornal, garantindo a total liberdade dos responsáveis pelo projeto. Mas ainda assim, é de se esperar que algo mude, dado o leque de possibildiades que se abrirá para a Oculus VR novos recursos, financiamento de pesquisas, entre outros. A preocupação, portanto, ainda é válida.
Mas essas não foram as únicas razões para a revolta. Parte dos 9.522 apoiadores da campanha dos óculos de realidade virtual também ficou inconformada com a multiplicação repentina do valor arrecadado. O projeto conseguira cerca de 2,4 milhões de dólares pelo crowdfunding fora os investimentos de capital de cerca de 90 milhões de dólares vindos de outras fontes antes de acabar vendido por 1.000 vezes o valor arrecadado.
Ou seja, a colaboração dos usuários se provou, no fim, praticamente desnecessária embora tenha sido de grande ajuda aos fundadores, que não precisaram repassar dos mais de 2 bilhões de dólares aos apoiadores. Soa injusto, mas como bem lembrou Barry Ritholtz, em um texto pesado publicado no site da Bloomberg, aqueles que colaboram com projetos do Kickstarter são "simples apoiadores".
Eles dão seu dinheiro por uma causa e ganham, em retorno, um agradecimento ou brindes, no máximo. Não são sócios, e ficam de fora de decisões de vendas, participando de discussões apenas informalmente e não levando nada em troca caso o negócio se concretize. É algo bem diferente do que fazem investidores, que colocam dinheiro em algum projeto em busca de um retorno financeiro. Nessa situação, estão apenas aqueles que aplicaram 90 milhões de dólares antes da compra.
Para recuperar a confiança da comunidade de apoiadores, o que a Oculus VR poderia fazer é "simplesmente" devolver o dinheiro desses 9.522 doadores. A empresa ainda não se manifestou em relação a essa possibilidade, mas não faltam pedidos do tipo na parte de comentários do Kickstarter como o do apoiador Guilherme Campos, que deu justamente essa ideia. O site de crowdfunding, aliás, não pode agir, já que fica limitado pelos seus próprios termos de uso. Então, resta esperar mesmo pelo posicionamento da nova empresa bilionária e, claro, pelo fechamento em definitivo do negócio, esperado para o segundo trimestre deste ano.