Pesquisa: quando se considera o impacto obtido pela produção científica de cada instituição, a brasileira que mais se destaca é a Universidade Federal do ABC (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2013 às 11h47.
São Paulo – Três instituições paulistas – Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) – lideram o ranking das universidades brasileiras que mais publicaram artigos científicos entre os anos de 2007 e 2011, de acordo com a edição mais recente do SIR World Report, divulgado em julho pela Scimago Lab. Quando se considera o impacto obtido pela produção científica de cada instituição, a brasileira que mais se destaca é a Universidade Federal do ABC (UFABC).
O SIR World Report 2013 avaliou cinco anos de produção científica das instituições de ensino superior de todo o mundo que publicaram, em 2011, pelo menos cem trabalhos científicos indexados na base de dados Scopus. Produzida pela editora holandesa Elsevier, a Scopus é considerada uma das maiores bases de dados científicos do mundo, englobando mais de 20 mil periódicos especializados.
Quando se leva em conta o número total de publicações (desconsiderando trabalhos feitos por academias de ciência, hospitais, fundações e centros nacionais de pesquisa), a USP é a instituição brasileira mais bem colocada – ficando em quinto lugar no ranking mundial, com 48.156 trabalhos publicados entre 2007 e 2011. Em primeiro lugar, está a Universidade Harvard, dos Estados Unidos, com 80.467 publicações. Em seguida, estão Universidade de Tóquio (51.796), Universidade de Toronto (48.944) e Universidade Tsinghua (48.396), da China.
O pró-reitor de Pesquisa da USP, Marco Antonio Zago, destacou que a instituição tem uma longa tradição de valorizar a pesquisa associada ao ensino de qualidade. “A USP investe parcela considerável de seu orçamento para apoio à pesquisa, além de captar financiamento de agências como FAPESP, CNPq e Finep. Nos últimos anos intensificou a relação com universidades expressivas do exterior. Está também evoluindo na cooperação com o setor produtivo e com empresas, no que diz respeito à pesquisa mais aplicada, ao mesmo tempo em que vem valorizando também outras formas de produção intelectual. Neste panorama, a relação com a FAPESP é muito relevante, não apenas pelos recursos que nossos pesquisadores captam da agência, mas também porque introduz um componente competitivo e de controle sobre a qualidade de nossa produção”, disse à Agência FAPESP.
A segunda brasileira mais bem colocada no ranking global foi a Unicamp, que ficou em 135º lugar com 17.130 trabalhos publicados. Na 137ª posição está a Unesp, com 16.998 artigos.
Para Gláucia Maria Pastore, pró-reitora de Pesquisa da Unicamp, o resultado expressa a força das três universidades estaduais paulistas e sua produção científica de grande relevância.
“Se levarmos em conta o tamanho das instituições e o fato de que a Unicamp é uma universidade bem menor do que a USP, nosso segundo lugar reflete a importância de nossa produção científica, que abrange todas as áreas do conhecimento, e o grande aporte feito em pesquisa na fronteira do conhecimento. A posição é boa, mas queremos sempre aprimorar e, para isso, a pró-reitoria de Pesquisa tem trabalhado para integrar os diversos grupos de pesquisa de tal forma que a gente consiga resultados ainda mais promissores”, afirmou Pastore.
“Considerando os trabalhos publicados pelas dez universidades brasileiras mais bem colocadas (148.047 publicações), a produção científica dessas três instituições paulistas representa 56% desse total (82.284 publicações)”, destacou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
Com apenas 3.956 publicações, a UFABC ficou na 1.345ª posição nessa modalidade. Mas no quesito “Q1”, que mede a porcentagem de artigos de uma universidade publicados nas mais conceituadas revistas de cada área do conhecimento, a instituição salta para a primeira colocação entre as brasileiras, com 55% de seus artigos publicados em revistas conceituadas.
A UFABC é seguida pela Universidade do Vale do Paraíba (Univap), com 45%; pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com 40,6%; e pela USP, com 39,1%. Nesse quesito, a Unicamp ficou na décima colocação entre as brasileiras, com 37,5%, e a Unesp em 34º, com 30,5% dos trabalhos publicados em revistas conceituadas.
Entre as dez universidades brasileiras mais bem classificadas no ranking Q1, seis estão situadas no Estado de São Paulo – UFABC, Univap, Unifesp, USP, UFSCar e Unicamp. Ao se considerar o volume de artigos no quesito “Q1”, cinco universidades paulistas estão entre as 10 primeiras – ficando a USP em primeiro lugar, com 17.985 trabalhos, e a Unicamp em segundo, com 5.967 publicações nas revistas mais conceituadas.
Quando o critério de classificação usado é o de “impacto normalizado” – que mede quantas vezes os trabalhos de cada instituição são citados em comparação com a média mundial –, novamente a UFABC vem em primeiro lugar entre as brasileiras com a marca de 1,67 – o que significa que os artigos da instituição tiveram média de citações 67% maior que a média global.
Em seguida, estão a Universidade Estadual da Paraíba (0,95), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (0,93) e a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (0,92). A USP é a nona brasileira nessa modalidade, com a marca de 0,86. A Unicamp é a 12ª, com 0,84, e a Unesp, a 35ª, com 0,70.
No critério “colaboração internacional”, mais uma vez a UFABC é a brasileira mais bem colocada, seguida pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Universidade Estadual de Santa Cruz (BA) e Universidade Federal de Alagoas (Ufal). A USP aparece em sétimo lugar, a Unicamp está em 22º e a Unesp em 40º.
Com 20,3% de sua produção científica inserida no grupo dos 10% trabalhos mais citados do mundo na respectiva área do conhecimento, a UFABC é a instituição brasileira que lidera também no critério “excelência”. “A UFABC é nova e está no caminho da qualidade acadêmica, enfrentando o desafio de crescer”, disse Brito Cruz.
Política de apoio à pesquisa
Segundo Klaus Capelle, pró-reitor de Pesquisa da UFABC, há quatro fatores que explicam o bom desempenho da instituição. O primeiro é a alta qualidade do corpo docente, composto apenas por doutores contratados em regime de dedicação exclusiva.
“Nossa segunda vantagem é decorrente do fato de sermos uma universidade muito nova, com apenas sete anos. Por esse motivo, todos os nossos laboratórios – que por enquanto são poucos – são de última geração. E grande parte dos equipamentos foi adquirida por meio de projetos apoiados pela FAPESP”, contou Capelle.
Outra razão do bom desempenho acadêmico apontada por Capelle é a existência de uma política interna de apoio à pesquisa. A instituição reserva parte da verba recebida pelo Ministério da Educação para oferecer bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, além de auxílios para pesquisas interdisciplinares e para a formação de núcleos estratégicos.
Por último, Capelle ressalta o modelo de organização da universidade, que aboliu a divisão das áreas do conhecimento em departamentos para favorecer a interação de pesquisadores.
“Essa diferenciação entre o que é Física, o que é Química e o que é Biologia representa a forma como se enxergava o conhecimento no século 19. Como nós construímos a universidade nos primeiros anos do século 21, abandonamos a ideia do departamento. Isso faz com que a pesquisa interdisciplinar seja particularmente forte na UFABC, pois não há barreiras artificiais que separam um engenheiro de materiais, por exemplo, de um físico de estado sólido”, afirmou Capelle.