Tecnologia

Um jogo móvel envelhece em dois anos, diz CEO da Unity 3D

David Helgason analisou o mercado de games móveis e comparando-o com a indústria da música e do cinema


	Angry Birds: segundo CEO, sucesso de jogos móveis é passageiro e hoje no topo do ranking desses games estão novas companhias
 (Rovio)

Angry Birds: segundo CEO, sucesso de jogos móveis é passageiro e hoje no topo do ranking desses games estão novas companhias (Rovio)

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Da Redação

Publicado em 20 de agosto de 2013 às 11h25.

São Paulo - De dentro de um táxi a caminho do aeroporto e depois na fila do check-in: foi dessa maneira, às pressas para pegar um voo, que conversou por telefone com Mobile Time o executivo David Helgason, CEO de uma das principais plataformas de desenvolvimento de games do mundo, a Unity 3D. Tal como um habilidoso jogador, que maneja um controle cheio de botões, Helgason conseguiu pagar o táxi, escolher seu assento no voo e despachar a bagagem, tudo isso enquanto concedia esta entrevista, analisando o mercado de games móveis e comparando-o com a indústria da música e do cinema.

O que é Unity 3D?

David Helgason – Unity 3D é uma plataforma de desenvolvimento de games. Provemos ferramentas de programação, mais ou menos como um SDK (software development kit), com as quais você cria personagens, efeitos especiais etc. E funciona para múltiplas plataformas, não apenas mobile. Serve para jogos de PC, Mac OS, Xbox, Android, iOS, Playstation, Blackberry, Windows Phone, web... tudo. É usada tanto em games simples quanto em games grandes.

É possível construir um jogo inteiro dentro da Unity 3D?

Sim, toda a programação pode ser feita dentro da Unity. Mas é flexível: pode-se plugar ferramentas de terceiros.

Qual o perfil dos seus usuários?

Há desde de gente que desenvolve por hobby, como estudantes, até gigantes da indústria de games, como EA e Glu. Queremos permitir que mais pessoas façam games. Queremos democratizar o desenvolvimento de jogos. Não se trata apenas da plataforma em si: há uma comunidade em torno da Unity 3D.

Quantos jogos foram criados com Unity 3D até hoje?

Não sabemos. Quando vendemos não forçamos a pessoa a nos contar. Oferecemos uma versão gratuita e outra profissional. Temos dezenas de milhares de clientes, mas não falamos com eles depois. Podemos até ver um game e, pelas suas características, saber se usou Unity 3D. Mas não podemos baixar todos os games da App store. Sabemos que 400 mil pessoas acessam o Unity 3D todo mês, muitas delas apenas para estudo. Minha estimativa é de que entre 10 e 20 mil games foram desenvolvidos com a nossa plataforma. E boa parte deles são jogos móveis e para a web. Há de todos os tipos: alguns ruins e outros muito bons. Há também títulos experimentais, como o suíço Year Walk.


Há brasileiros entre os usuários da Unity 3D?

Sim. Lembro do pessoal da Aquiris, que faz web games.

O mercado de games móveis canibaliza aquele de console?

Não vemos competição entre jogos móveis e jogos de console. São audiências diferentes. E todos os públicos estão jogando mais. É verdade que jogos para console não estão crescendo como antes, mas ainda são um grande negócio. E jogos móveis crescem loucamente. A maior parte da receita da App Store e da Google Play provém de games.

Algumas pesquisas indicam que o perfil do jogador em dispositivos móveis é diferente daquele que joga em consoles: a média de idade seria mais alta, assim como a proporção de mulheres. Você concorda?

Os celulares estão mais bem distribuídos pela população (do que os consoles). Há celulares nas mãos de todas as faixas etárias. Muita gente que não se considera um "gamer" joga games no celular de vez em quando. Isso é fantástico para a indústria. E há razões econômicas para isso, como a penetração da telefonia celular. Além disso, no mercado de games para consoles há uma consolidação em certas categorias, o que não acontece no mobile, onde acontece o oposto: há várias empresas pequenas tendo sucesso. É super aberto o mercado. Cabe a comparação com outros tipos de mídia, como a música, que vai mal porque é apenas um stream de bits, o que a torna fácil de piratear. Os jogos atuais, por outro lado, exigem comunicação com um servidor, sendo mais difícil pirateá-los.


Interessante a comparação entre mídias...

A música muda ao longo do tempo. A música de hoje é diferente daquela dos anos 1980 e dos anos 1960. E as pessoas costumam preferir a música nova ou aquela com a qual cresceram. Se você toca guitarra hoje, você ainda compete com os Beatles! Isso acontece porque na música o valor da biblioteca (ou seja, do acervo) é enorme frente à nova produção. Em filmes também há um ciclo de inovação, especialmente ligado à tecnologia e à forma de se contar uma estória. Porém, ainda gostamos de filmes antigos. Mas os filmes novos vendem mais. No caso de games de ação, eles começam a parecer velhos em cinco anos, por causa do progresso em tecnologia, efeitos especiais e narrativa. A música leva de 10 a 100 anos para ficar velha. Os filmes, de cinco a 20 anos. Com jogos de console, esse ciclo é de três a cinco anos. E entre games móveis é até mais rápido: de um a dois anos. Isso tem a ver com a integração social do conteúdo em questão e com a tecnologia. Em jogos, a biblioteca não tem tanto valor. Enquanto a nova produção tem muito mais valor. Em suma: se você faz um game eletrônico hoje, está competindo com quem está fazendo outro ao mesmo tempo, não com quem fez no ano passado. É um mercado supercompetitivo, mas a oportunidade está ali.

Os jogos móveis são menores por causa de limitações no armazenamento dos aparelhos e na banda das operadoras para tráfego de dados. Com isso, times menores têm mais oportunidade. O mercado de console, quando nasceu, também tinha empresas pequenas. Em mobilidade ainda há oportunidades para games de empresas com até 10 pessoas. Clash of clans (N.R.: um dos maiores sucessos recentes da indústria de games móveis) foi feito por um time de 10 pessoas. Angry Birds, se não me engano, foi criado por quatro pessoas. A inovação feita por times pequenos hoje é muito mais possível do que era 10 anos atrás.

Em games, empresas que fizeram sucesso com um título não necessariamente repetirão o desempenho com novos jogos. Claro que em qualquer mercado quem chegou primeiro leva vantagem. Mas essa vantagem é menor em games móveis.


Mas e o caso da Rovio, com Angry Birds?

Angry Birds foi lançado quando havia menos telefones, três anos atrás. E seu jogo de porcos não deu tão certo (N.R.: Helgason se refere a Bad Piggies). Hoje, no topo do ranking de games móveis, estão novas companhias. Não digo que seja fácil – é supercompetitivo –, mas os investimentos são menores.

Quanto custa desenvolver um jogo móvel?

Custa algumas centenas de milhares de dólares. Poucos investem mais de US$ 1 milhão.

Outro dia ouvi o ex-presidente da EA comentar sobre o valor de mercado da App Store, que gira em torno de centenas de bilhões de dólares. O problema é que os donos da plataforma estão com uma participação muito alta no valor desse negócio. Isso pode prejudicar a indústria. Há uma desigualdade no valor entre quem desenvolve e quem distribui os games. Isso acontece em mobilidade, mas não entre games de console.

E a produção de jogos de console: quanto custa em média?

Os grandes games de console custam dezenas de milhões de dólares. E alguns passam de US$ 100 milhões antes mesmo do marketing! Em mobilidade, poucos jogos custaram mais de US$ 2 milhões.


Os smartphones estão evoluindo rapidamente, com mais memória, resolução de tela melhor e processadores velozes. Contudo, a usabilidade para jogos de ação continua sendo um problema em dispositivos móveis. Concorda?

Realmente, não se jogam muitos games de ação em celulares por causa da falta de joysticks. Cada plataforma tem diferentes desafios.

Os dispositivos móveis estão ficando poderosos. Agora há jogos móveis em 3D ou que mesclam 2D e 3D. Um ano atrás poucos eram 3D. Agora é meio a meio. Os 3D estão ganhando força, especialmente com jogos de tiro. Consequentemente, os custos de produção estão crescendo, mas não de forma louca como em consoles.

E os controles estão melhorando nos games. Antes eram dois círculos na tela. Agora pode-se usar qualquer parte da tela. Está ficando mais fácil de jogar. Está cada vez melhor.

Acredita que haverá jogos para Google Glass?

Talvez games sem interface, que sejam de encontrar um caminho. Muitos devices que não eram projetados para ter games acabaram tendo. Quando eu era criança, criei um jogo de memória dentro de uma calculadora com agenda de contatos do meu pai. Dava para programar em Basic nela.

Quais games móveis você tem jogado ultimamente?

Ski Safari e Shadowgun são meus preferidos no momento.

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