Tecnologia

Udemy: a explosão dos cursos de programação no Brasil

Antes pequeno para a Udemy, o Brasil agora é um de seus principais mercados, com 2.500 cursos em português e crescimento de 300% em 2017

UDEMY NA CAMPUS PARTY: marketplace de cursos online investiu no evento diante de grande demanda nas áreas de tecnologia, análise de dados e programação (foto/Divulgação)

UDEMY NA CAMPUS PARTY: marketplace de cursos online investiu no evento diante de grande demanda nas áreas de tecnologia, análise de dados e programação (foto/Divulgação)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 2 de março de 2018 às 15h49.

Última atualização em 2 de março de 2018 às 15h49.

Quando comparado a outras indústrias, o mercado de tecnologia é bem mais flexível com o autodidatismo. O movimento do software livre, por exemplo, é uma defesa da capacidade de aprender algo por conta própria para que todos possam mudar ou recriar um programa de computador. Nesse cenário que entrelaça tecnologia e aprendizado, a Udemy vem ganhando força. Ao encontrar um público faminto por conhecimento e cursos sobre assuntos mais novos — como análise de dados e blockchain, a plataforma do Bitcoin — a Udemy viu o mercado brasileiro ganhar relevância e crescer quatro vezes em 2017 ante 2016.

Segundo Sérgio Agudo, diretor da Udemy no Brasil, em 2015 o país era um mercado insignificante para a empresa, que passou a investir em conteúdo, tópicos de ensino e buscou durante 2016 completar o catálogo de aulas que tinha por aqui. Em 2017, houve uma consolidação da plataforma, que agora quer abrir um escritório próprio no Brasil e já conta com 2.500 cursos em português, mais do que qualquer outra plataforma de ensino online no país. “O Brasil era um mercado muito pequeno e passou a ser um dos mais importantes para a Udemy no mundo. Começamos a trabalhar mais opções de pagamento e também suporte em português. Em 2018 esperamos um crescimento de três vezes na operação local”, diz.

Segundo uma previsão do fundo de investimentos IBIS Capital, o mercado global para empresas como a Udemy, chamado de Edtech — acrônimo para empresas de educação e tecnologia —, deve valer 252 bilhões de dólares em 2020, crescendo 17% ao ano.

Funcionando como um marketplace, a Udemy permite que alguém partilhe um conhecimento específico com uma comunidade de interesse — e cobre por isso. Em todo o mundo, já são mais de 20 milhões de estudantes e 20.000 instrutores, disponibilizando cerca de 65.000 cursos sobre diversos assuntos, de aulas de piano a escrita, passando por lições de como operar os mais diversos recursos no Excel.

“Como sou formado em publicidade e migrei de área para desenvolvimento e programação, eu tive que me virar para encontrar alternativas pra aprender. Fazer outra faculdade era inviável, então foi basicamente na internet, e em especial na Udemy, que eu aprendi grande parte do que sei”, afirma Ricardo Han, que já comprou 16 cursos online na plataforma — todos em alguma das promoções que a Udemy realiza durante o ano, promovendo cursos específicos (e selecionados) a valores entre 20 e 30 reais.

A Udemy não divulga dados de faturamento, mas, segundo informações disponíveis em um relatório no site da empresa, a venda de cursos em inglês cresceu 23% em 2016, enquanto que a receita de cursos em outras línguas teve aumento de 367% no mesmo período. Naquele ano a empresa realizou uma sétima rodada de investimentos, capitalizando 60 milhões de dólares do grupo de mídia Naspers, elevando o montante investido para 173 milhões de dólares.

A proposta da Udemy é trazer conhecimento em sua forma mais “simples”, com um instrutor que entende de um assunto ensinando alguém que não entende. “Na Udemy alguns cursos custam 19,90 ou 30 reais e as pessoas ficam surpresas com o custo baixo e alto retorno. Não se trata só de um vídeo, o aluno pode entrar em contato com o instrutor também para tirar dúvidas, entender melhor o conteúdo”, afirma Agudo. Depois que o aluno paga pelo curso da Udemy, ele ganha acesso vitalício àquele conteúdo, podendo retornar depois para ver atualizações, e também a um fórum, onde discussões e dúvidas são debatidas entre os alunos e o instrutor.

Da consultoria para o “estúdio de aula”

Por aqui, um dos instrutores que mais têm sinergia com a empresa é Felipe Mafra, analista de inteligência de mercado e cientistas de dados. Ele conta que primeiro conheceu a Udemy quando conseguiu um emprego na empresa de tecnologia IBM e precisava aprender a usar uma ferramenta específica para o trabalho. “Paguei 3.000 reais por um curso que ensinou menos do que eu já sabia. Enquanto pesquisava, vi um anúncio da Udemy e meu primeiro intuito não foi nem aprender algo, mas ensinar. Pra que ninguém mais tivesse que passar pela experiência de investir em um curso que não desse o retorno esperado”, diz Mafra.

Ele criou um curso gratuito na Udemy sobre como rodar softwares virtualmente, que teve alta demanda e boas avaliações, algo que é raro na plataforma para cursos sem taxas. Aí, percebeu que poderia montar uma série de aulas sobre o conhecimento que já tinha como consultor de análise dados. “Eu já havia montado projetos desse tipo em empresas que trabalhei e pensei em aplicar isso a aulas na Udemy, que ainda não tinha cursos sobre a área”, diz. Ele esperava pagar uma conta de celular com o que ganhasse com os cursos que disponibilizava na plataforma. No primeiro mês faturou 3 dólares. No segundo, 170 dólares. No terceiro, 1.000. Em 2017, conseguiu tirar uma média de 8.000 dólares ao mês, ensinando para 31.900 alunos em seus 11 cursos na plataforma.

Durante o primeiro ano, ele manteve a consultoria ao mesmo tempo em que dava os cursos. Depois ficou só na Udemy. “É preciso ter muita disciplina. Você deixa de ter chefes, não tem ninguém cobrando”, fala Mafra, que já cogita alugar um espaço para transformar em estúdio e profissionalizar mais seus cursos.

Modelo em cheque?

Mas há também críticas ao modelo da Udemy. Entre alunos, as principais desvantagens são de que os cursos são introdutórios e não oferecem certificação válida para creditação ou algum tipo de validação acadêmica — algo que a empresa deixa claro. Entre instrutores, há reclamações sobre competição dentro da plataforma, principalmente sobre quais cursos são escolhidos para receber prioridade de buscas e destaque na página inicial.

A dependência do “marketing pessoal” para promover os cursos inicialmente também é uma dificuldade para que professores façam crescer sua base de alunos. Há um algoritmo que joga os cursos mais bem avaliados para a página inicial, deixando os menos cotados para trás. No modelo de capitalização, a Udemy fica com 3% do valor do curso caso o professor consiga alunos por si mesmo. Se as aulas forem contratadas pela plataforma, o valor é dividido meio a meio.

Han afirma que é preciso filtrar bons cursos e bons instrutores na Udemy, por exemplo usando sistema de avaliação da plataforma. Há um motivo para encontrar bons professores: eles aumentam a chance de emprego. “ Já ouvi bastante por aí que uma conta no GitHub [plataforma de controle de alterações] e um portfólio valem mais do que um diploma”, afirma.  Han acaba de conseguir emprego como desenvolvedor numa agência de publicidade digital em Curitiba.

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