Repórter
Publicado em 5 de fevereiro de 2025 às 13h56.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2025 às 13h57.
Uma vacina experimental contra o câncer de rim está mostrando sinais promissores em seus primeiros testes. Dados da fase I do ensaio clínico, divulgados esta semana, indicam que a formulação é segura e desencadeou uma resposta imune em todos os nove pacientes testados. Desde que receberam o imunizante há cerca de três anos, nenhum deles teve recidiva da doença.
O estudo, conduzido por pesquisadores do Dana-Farber Cancer Institute, do Broad Institute do MIT e de Harvard, busca evitar o retorno de tumores avançados de rim. O resultado sugere que esse tipo de abordagem pode ter um potencial maior do que o esperado para combater diversos tipos de câncer.
As vacinas tradicionais ensinam o sistema imunológico a reconhecer e atacar ameaças futuras, como vírus da gripe ou sarampo. Alguns imunizantes, como o contra o HPV, ajudam a prevenir infecções que podem causar câncer. Mas as chamadas vacinas terapêuticas atuam de outra forma: elas estimulam a resposta imune para tratar um câncer já existente ou impedir que ele volte.
O problema é que as vacinas contra o câncer, até hoje, tiveram eficácia limitada. Agora, novos métodos buscam melhorar esse cenário. Um dos mais promissores envolve os neoantígenos, proteínas exclusivas geradas por células cancerígenas à medida que sofrem mutações. A ideia é treinar o sistema imunológico para reconhecer essas proteínas e atacar o tumor.
O ensaio clínico, conduzido pelo hospital Dana-Farber e com resultados publicados na Naturem, envolveu nove pacientes com carcinoma renal de células claras em estágio III ou IV.
Todos passaram por cirurgia para retirada do tumor, e alguns também receberam um medicamento imunoterápico chamado pembrolizumabe, que ajuda a reforçar a resposta do sistema imune contra o câncer.
Os pesquisadores analisaram as mutações presentes nas células tumorais de cada paciente e identificaram quais neoantígenos tinham maior probabilidade de gerar uma resposta imune.
Em seguida, produziram esses fragmentos de proteína em laboratório e os incorporaram na vacina personalizada para cada indivíduo.
A importância da pesquisa vai além do câncer renal. O primeiro estudo desse tipo havia sido feito para tratar o melanoma, um câncer de pele conhecido por sua alta taxa de mutações.
Já o tumor renal tem uma carga mutacional menor, o que gerava dúvidas se a abordagem funcionaria nesse caso. O sucesso do experimento, no entanto, indica que esse tipo de vacina pode ser eficaz mesmo para tumores com menos mutações.
Apesar dos bons resultados, o estudo ainda está em fase inicial. Ensaios clínicos de fase I, como esse, servem principalmente para avaliar a segurança de um novo tratamento. Para confirmar sua eficácia, será preciso testá-lo em um número muito maior de pacientes.
Ainda assim, o fato de todos os participantes do estudo terem permanecido livres do câncer por 34 meses (tempo mediano de acompanhamento) é uma notícia animadora.
A equipe já está avançando para a próxima etapa da pesquisa. Um novo estudo internacional, com um número maior de pacientes, testará a mesma estratégia de vacina personalizada combinada com a imunoterapia.