Cérebro: a pesquisa demonstra que as questões psiquiátricas na população transexual são produto da violência e da discriminação (Garpenholm/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 29 de julho de 2016 às 11h17.
Com o objetivo de retirar as pessoas transgênero da classificação de transtornos mentais da Organização Mundial da Saúde (OMS), cientistas mexicanos realizaram o primeiro estudo de campo que demonstra medicamente que as mudanças na identidade de gênero não são uma doença.
O estudo, publicado na revista britânica The Lancet Psychiatry, foi apresentado no México na quinta-feira por autoridades sanitárias e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A pesquisa, informaram, é a primeira de várias que já estão sendo feitas no Brasil, França, Índia, Líbano e África do Sul, e que serão apresentadas em 2018 na discussão da 11ª versão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da OMS, que serve como referência médica para os países-membros.
"Esta reclassificação não só vai promover a discussão de novas políticas de saúde para que a comunidade trans tenha melhores acessos aos serviços de saúde e atenção, mas também (...) pode ajudar a reduzir o estigma e a rejeição de que são vítimas", afirmou Ana Fresán, uma das autoras do estudo.
A pesquisa demonstra que as questões psiquiátricas na população transexual são produto da violência e discriminação que sofrem e não, como se classifica atualmente, produto da sua transexualidade.
"Se não é uma doença agora, então ocorre que nunca foi, que fique claro, não é que antes fosse uma doença e agora não é mais", explicou Eduardo Madrigal, presidente da Associação Mexicana de Psiquiatria.
O estudo de campo consistiu em 260 entrevistas com adultos (maiores de 18 anos) transgênero que recebem atenção médica na clínica especializada Condesa, que trata exclusivamente doenças de transmissão sexual.
A presidente do Conselho Nacional para Prevenir a Discriminação, Alexandra Haas, afirmou que "é problemático que se assuma a identidade trans como patologia".
"Pensar a identidade como uma doença nos obriga a buscar uma cura, e em vez disso os esforços institucionais devem focar em reconhecer a diversidade, promover a inclusão e garantir os direitos", acrescentou.