protesto_uber (Bruna Mesquita)
Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2015 às 15h21.
De microfone em mãos e utilizando toda sua capacidade pulmonar, o presidente da Associação Brasileira das Associações e Cooperativa de Táxi (Abracomtaxi) Edmilson Americano gritava palavras de ordens na manhã desta quarta-feira (8), na entrada do Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Na frente dele, fileiras de carros com lataria branca, e uma multidão de cerca de 1 000 taxistas, compunham o cenário inicial da manifestação contra o uso do aplicativo Uber no Brasil, que tinha como destino a câmara municipal.
Para a Abracomtaxi, o objetivo do protesto não é frear a tecnologia, mas evitar o uso irregular e desleal da plataforma de carona, que não segue as normas previstas na legislação de mobilidade, aprovada em 2011. "Não podemos promover a clandestinidade com um aplicativo que promove um desserviço, que utiliza carros sem licença, ficar no mercado", diz Americano em entrevista a INFO, que acompanhou o protesto.
Em nota divulgada à imprensa, a Uber, startup fundada na Califórnia e atualmente avaliada em 45 bilhões de dólares, argumenta que, por não oferecer serviços de táxi, mas uma plataforma de tecnologia que conecta motoristas e passageiros, ela não se enquadra nas mesmas regras.
"A Uber acredita que os brasileiros devem ter assegurado seu direito de escolha para se movimentar pelas cidades", escreve a assessoria da startup em nota, e lembra que o serviço já é utilizado em mais de 300 cidades de 56 países.
Mas, para os taxistas presentes no protesto desta quarta-feira, os argumentos da empresa americana não valem. Eles criticam a vantagem que os motoristas do app têm, de não pagar impostos e também de não ter o mesmo parâmetro de cobrança de corridas. "A Uber não é legalizada, para eles é simples trabalhar. Basta ter um carro e sair atendendo aos passageiros, enquanto a gente demora a vida toda para se adequar à lei", diz o taxista autônomo Alexandre Braz, de 50 anos.
Segundo dados da Associação dos Taxistas, desde a chegada do Uber ao Brasil, no ano passado, houve uma queda de 30% no antedimento a corridas noturnas. Ainda não existe um estudo independente demonstrando o impacto do app sobre o mercado de táxi. "Os motoristas que trabalham à noite já sentem o impacto do Uber em suas corridas, já que muitos passageiros têm utilizado o app para ir e voltar das baladas, afirma Eder Wilson de Sousa da Luz, diretor da associação. Ainda segundo esse levantamento, os taxistas paulistanos perdem por dia, em média, 1 000 corridas.
"Até pouco tempo atrás, minha jornada era de 8 horas por dia. Agora, tenho que trabalhar quase o dobro para ganhar a mesma coisa de antes, afirma José Ferreira, de 58 anos, taxista da Tag Rádio Táxi.
O protesto desta quarta aconteceu em cinco cidades brasileiras, esperando chamar a atenção do governo para o aumento da fiscalização e até possível retirada dos prestadores de serviço do Uber das ruas.
Alexandre Braz, taxista autônomo que participou do protesto contra o Uber em São Paulo