O Windows 8 via rodar tanto em PCs como em tablets (Divulgação)
Maurício Grego
Publicado em 15 de junho de 2012 às 12h09.
São Paulo — A Microsoft pode anunciar uma linha de tablets com sua própria marca nesta segunda-feira. A informação, não oficial, foi divulgada pelos noticiários americanos The Wrap e All Things D. A empresa teria concluído que essa é a única maneira de ter uma integração perfeita entre software e hardware, capaz de resultar num tablet apto a enfrentar o iPad.
A informação surpreende porque vai contra a estratégia habitual da Microsoft, que é fornecer o software e deixar a fabricação dos equipamentos a cargo de parceiros. A empresa convidou parte da imprensa americana para um evento na segunda-feira em Los Angeles, onde ela deverá fazer um “anúncio importante”. A Microsoft não dá detalhes sobre o que será apresentado, mas é muito provável que o evento tenha relação com os tablets.
Zune ou Xbox?
Quais são as chances de a Microsoft ter sucesso com essa nova iniciativa? A empresa já tentou fabricar seu próprio hardware antes, com resultados variados. Em pelo menos um caso, ela fracassou. O Zune, lançado em 2006, foi uma tentativa de criar um concorrente para o iPod. O player de música da Microsoft era tecnicamente avançado, mas nunca caiu no gosto do público. Foi oficialmente descontinuado no ano passado.
Mas há também o exemplo contrário. O console para jogos Xbox, que chegou às lojas em 2001, conseguiu competir com sucesso contra os produtos rivais da Sony e da Nintendo. Foi, também, a plataforma onde floresceu uma das inovações mais interessantes da Microsoft nos últimos anos, o sensor de movimentos Kinect.
Mas há uma diferença importante. O Xbox não criava conflitos com parceiros da Microsoft. Ao contrário, ele permitiu, à turma de Redmond, estreitar os laços com os produtores de jogos, que também desenvolviam títulos para o PC. Produzir um tablet é algo totalmente diferente. Ele vai competir com os produtos de empresas como HP, Dell, Acer, Asus, Samsung, LG e Nokia, que são parceiros importantes da Microsoft.
Na prática, esses fabricantes não terão como deixar de licenciar software de um concorrente. O Google, como se sabe, já optou pelo hardware próprio há alguns anos. A empresa de Mountain View não só comprou a Motorola como mantém, desde 2010, a linha de smartphones Nexus, que é fabricada por outros mas leva sua marca. Agora, rumores indicam que a empresa vai lançar também um tablet com a marca Google. Assim, a empresa compete com parceiros que também usam o sistema Android em seus próprios smartphones e tablets.
Bill Gates contra Steve Jobs
A Microsoft vem fazendo suas apostas no mercado de tablets desde 2002, quando lançou uma edição do Windows XP específica para esse tipo de gadget. Em 2003, no evento D: All Things Digital, Bill Gates falou com entusiasmo sobre os tablets, que, para ele, tinham um futuro brilhante pela frente.
No mesmo evento, Steve Jobs demonstrou desprezo sobre esse tipo de gadget, que ele classificou como um produto de nicho para garotos ricos. “Nós analisamos o tablet e achamos que vai ser um fracasso”, disse. Para a frustração de Gates e sua turma, os tablets baseados no Windows é que se revelaram produtos de nicho. E a Apple, como se sabe, acabou dominando esse mercado muitos anos depois com o iPad.
A reação da Microsoft é tardia, mas é também intensa e arriscada, algo nada usual numa empresa que se tornou lenta e conservadora na última década. O Windows 8 muda radicalmente a interface do sistema operacional, o que deve desagradar a usuários mais tradicionais, especialmente nas empresas. Também muda a forma como os aplicativos são vendidos ao adotar uma loja de apps no estilo Apple.
Tabletização do PC
Ao contrário da Apple, que mantém cuidadosa distinção entre o Mac e o iPad, evitando mexer demais em seu time vencedor, a Microsoft está unificando PCs e tablets. Há duas variantes do sistema operacional – Windows 8 e Windows RT – voltadas para diferentes famílias de processadores. Mas, para o usuário, a experiência será basicamente a mesma num tablet ou num PC. A nova interface Metro privilegia a tela sensível ao toque. Ela representa uma “tabletização” do PC.
Derrotar o iPad é missão impossível, ao menos no futuro próximo. O tablet da Apple conta com o maior e melhor acervo de aplicativos – um fator crucial para o sucesso. Também tem ampla disponibilidade de filmes, músicas, livros e revistas. O Windows parte de uma patamar muito mais baixo e tem uma longa escalada pela frente para formar um acervo de aplicativos e conteúdo.
Pode até ser que a Microsoft consiga, aos poucos, conquistar uma posição de destaque no mercado de tablets. Mas também é possível que esse mercado não comporte uma terceira plataforma (além de iPad e Android). Essa possibilidade parece clara quando se consideram os exemplos da HP, que fracassou com seu WebOS; e da RIM, que não conseguiu ir muito longe com o BlackBerry PlayBook.