Tecnologia

Startups para o fim da vida

Eilene Zimmerman © 2016 New York Times News Service A morte pode custar caro, mas raramente é vista como uma oportunidade de negócios pelos consumidores. Na verdade, a maioria das pessoas não reflete sobre decisões fundamentais sobre alimentação por tubos, funerárias e outras questões ligadas ao fim da vida até que não se possa mais […]

TESTAMENTO ONLINE: Eliam Medina e Rob Dyson são os fundadores de uma startup cujo serviço oferecido é a possibilidade de registrar os últimos desejos / Scott McIntyre/ The New York Times)

TESTAMENTO ONLINE: Eliam Medina e Rob Dyson são os fundadores de uma startup cujo serviço oferecido é a possibilidade de registrar os últimos desejos / Scott McIntyre/ The New York Times)

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Da Redação

Publicado em 15 de novembro de 2016 às 10h15.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h30.

Eilene Zimmerman © 2016 New York Times News Service

A morte pode custar caro, mas raramente é vista como uma oportunidade de negócios pelos consumidores. Na verdade, a maioria das pessoas não reflete sobre decisões fundamentais sobre alimentação por tubos, funerárias e outras questões ligadas ao fim da vida até que não se possa mais evitar o assunto.

Contudo, à medida que nossa população envelhece, novas empresas – muitas das quais ligadas ao setor de tecnologia – começam a competir por preço e conveniência.

Historicamente, o setor das funerárias, avaliado em US$18 bilhões nos EUA, nunca teve muita relação com a tecnologia, de acordo com Dan Isard, presidente da Foresight Cos., empresa de gestão financeira com sede em Phoenix, Arizona, especializada em profissões ligadas a funerárias e cemitérios.

Isard afirmou que os diretores de funerárias “geralmente se encontram diretamente com os clientes e conversam cara a cara, o que significa que não há muito o que ver na internet”. Essa também é uma das razões pelas quais o setor tem sido capaz de manter um baixo nível de transparência. Mas com a morte de quase 2,6 milhões de pessoas a cada ano nos EUA, os empreendedores encontraram uma oportunidade de inovação.

Uma nova geração de startups de tecnologia espera ficar com uma fatia desse mercado. Muitas empresas foram fundadas por jovens que cresceram conectados à internet e compram praticamente tudo on-line”.

À medida que os baby boomers se sentem cada vez mais confortáveis com compras on-line, essas startups encontraram um público cativo. Além disso, pessoas de 20 ou 30 e poucos anos que chegam a momentos cruciais da vida, como casamentos, nascimento de filhos, ou a morte de entes queridos também começam a procurar serviços de planejamento.

O consumidor típico se parece com Michelle LaBerge, moradora de Oshkosh, no Wisconsin, que acaba de completar 50 anos de idade e ajudou os pais a se mudarem para uma comunidade da terceira idade. Depois desses dois momentos, ela pensou em organizar o próprio futuro.

Contudo, ficou desanimada com o custo e a dificuldade de procurar um advogado. Porém, quando recebeu em fevereiro a oferta de uma startup chamada Willing no Groupon, oferecendo planejamento para a documentação de testamentos específicos para cada estado que podem ser modificados a qualquer momento, caso ela desejasse.

Por US$30, Michelle criou um testamento adaptado às suas circunstâncias. “Foi muito fácil. Comparei o meu ao dos meus pais, que foi feito por um advogado, e para mim os dois eram idênticos.”

Os criadores da Willing, Eliam Medina e Rob Dyson, queriam desenvolver uma plataforma que permitisse que os usuários preenchessem os próprios documentos, como testamentos, procurações e diretrizes de cuidados de saúde.

“Se você pensar no que a TurboTax fez com o planejamento fiscal nos EUA, vai entender o que queremos fazer com o planejamento de documentos de fim de vida”, afirmou Medina, executivo-chefe da empresa.

Uma versão inicial da plataforma foi lançada na Flórida em janeiro de 2015. Os consumidores foram convidados a testar o serviço gratuitamente e 500 testamentos foram criados, de acordo com Medina. Este ano, a Willing, com sede em Miami, passou pela incubadora de startups Y Combinator, onde se expandiu pelos 50 estados. A empresa arrecadou US$7 milhões em investimentos e Medina afirma que 25 mil testamentos são criados a cada mês na plataforma.

Até a recessão de 2008, o setor de funerárias havia se transformado muito pouco, de acordo com David Nixon, presidente da Nixon Consulting, que presta assessoria para donos de funerárias. Mas, desde então, os consumidores buscam melhores negócios e novas formas de simplificar os processos em torno dos funerais.

É aí que entra a startup Parting, fundada há cerca de um ano em Los Angeles para servir como um diretório virtual de funerárias, organizadas por código postal, permitindo que os usuários comparem preços e serviços, além de exibir a localização de cada uma.

Uma equipe se passa por clientes para perguntar sobre preços e serviços sem que as funerárias saibam que a informação irá para o site. Contudo, um número cada vez maior de empresários está procurando voluntariamente o Parting para acrescentar essas informações na base de dados, que já conta com mais de 15 mil funerárias.

A startup é financiada por um investidor anjo e tem visto um aumento de 27 por cento ao mês no número de buscas e visitantes, de acordo com um dos fundadores do serviço, Tyler Yamasaki.

Outra startup com sede em Los Angeles, a Grace, tenta resolver todas as situações que possam afetar familiares que passam pelo luto da morte de um ente querido. Não existem muita instruções do que fazer quando alguém morre, afirmou Alex Kruger, um dos fundadores e executivo-chefe da Grace.

“Quais são as 60 coisas que preciso fazer nos próximos três meses? Na Grace nós dizemos quais são as 17 coisas que você precisa fazer naquela semana e você pode eliminar da lista o que já foi resolvido. Também indicamos o que é preciso ser feito uma semana antes da morte, no dia da morte e duas semanas depois”.

Atualmente, a maioria dos clientes da Grace ligam e são orientados por funcionários com formação em serviços funerários – incluindo Kruger e os outros fundadores da empresa. “A morte ainda exige que falemos com outras pessoas”, afirmou.

A Grace permite que as famílias entrem em contato com fornecedores selecionados, incluindo advogados, planejadores financeiros, funerárias e outros prestadores de serviço. Os clientes recebem uma lista de tarefas que devem ser realizadas antes e depois de uma morte, incluindo a papelada necessária, e a equipe também pode ajudar com o planejamento de funerais, o preenchimento de formulários e outras tarefas.

Kruger afirmou que a Grace já recebeu pedidos curiosos, como enviar um corpo para a Romênia ou encerrar a conta no Tinder de uma pessoa falecida.

A empresa, fundada em junho, já arrecadou quase US$2 milhões e os negócios têm crescido cerca de 20 por cento ao mês. Os serviços da Grace só estão disponíveis no sul da Califórnia, mas Kruger afirmou que chegarão ao norte da Califórnia até o fim do ano, chegando aos estados vizinhos em 2017.

Uma das situações mais difíceis encaradas pelos clientes é planejar o que deve ser feito depois de sua morte, além de comunicar isso aos familiares.

A Cake – uma startup com sede em Boston, criada durante o Grand Hack da conferência Hacking Medicine, no MIT em 2015 – ajuda os usuários a decidirem quais são suas preferências de fim de vida, como o uso de aparelhos para manter a vida ou o que fazer com suas páginas no Facebook. Em seguida, a empresa armazena essas escolhas na nuvem e as compartilha com as pessoas indicadas.

A startup é autofinanciada até o momento, mas está fechando a primeira rodada de investimentos, de acordo com Suelin Chen, uma das fundadoras e executiva-chefe da empresa.

A plataforma faz uma série de perguntas aos usuários para ajudá-los a determinar suas preferências. As respostas são usadas para preencher o perfil da Cake, ao qual podem ser adicionadas notas e instruções para amigos e familiares.

Um ambientalista, por exemplo, poderia buscar outras pessoas com valores similares e que desejassem doar seus corpos para a ciência. Ou então poderia organizar um enterro biodegradável.

“As pessoas se sentem muito inspiradas pelo que as outras fazem. Isso é parte da vida e agora da morte também”, afirmou Chen.

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