tubarões (Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de março de 2015 às 07h55.
As barbatanas de tubarões são tão cobiçadas em alguns países que muitas vezes são arrancadas do corpo do animal sem que seja possível identificá-lo depois, um problema que pode ser solucionado a partir de uma nova ferramenta digital lançada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O programa iSharkFin, desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em parceria com a Universidade de Vigo, na Espanha, permite reconhecer as espécies de tubarão, principalmente aquelas mais ameaças pela pesca ilegal, a partir da imagens das barbatanas, muito visadas por servir para a fabricação de produtos da indústria farmacêutica, além de ser muito usadas em sopas na China.
"A identificação é muito complexa quando a mercadoria é descarregada nos portos", explicou à Agência Efe Cástor Guisande, professor do Departamento de Ecologia e Biologia Animal da Universidade de Vigo.
Aos litorais de todo o mundo chegam navios com toneladas de barbatanas, enquanto os tubarões mortos e mutilados são lançados ao fundo do mar, uma prática proibida em alguns lugares, como a União Europeia.
A nova ferramenta permite baixar no computador ou no dispositivo móvel a imagem da barbatana, escolher quatro pontos de referência para delimitar sua forma e, apertando um botão, obter o nome da espécie em apenas alguns segundos.
Por enquanto, o iSharkfin é capaz de identificar 35 espécies de tubarões, embora o objetivo seja ampliar a base de dados e desenvolver um aplicativo para o sistema Android nos próximos meses.
O pesquisador da universidade destacou que existem 1 136 tipos de tubarões e arraias, apesar de os trabalhos se centrarem em coletar informação daquelas espécies em perigo de extinção e de interesse comercial, reduzidas a pouco mais de uma centena.
"A exploração dos recursos pesqueiros tem um claro impacto nestas espécies, que se reproduzem muito lentamente e têm má recuperação", explicou, em alusão aos tubarões.
Estes grandes predadores ocupam um nível muito alto da cadeia alimentar nos oceanos e se alimentam das espécies mais abundantes, ajudando a equilibrar povoações de diferentes tipos.
Outro valor que a barbatana do tubarão tem é a produção de pratos de luxo que impressionam na mesa. Seja pelo sabor ou pelas propriedades afrodisíacas e terapêuticas atribuídas a elas, um quilo dessa barbatana pode valer até 30 vezes mais do que a própria carne do tubarão, comentou Guisande.
Frente a esta tradição, o governo chinês está tentando evitar seu consumo em festas oficiais e, de acordo com alguns estudos, a venda tem caído no país.
Monica Barone, que dirige a equipe da FAO encarregada de desenvolver o novo software, se mostra confiante em que a ferramenta melhore as estatísticas sobre as exportações e importações mundiais desse peixe, já que inspetores de portos e gerentes ambientais já podem começar a identificação de barbatanas de tubarões com esse sistema para controlar que não sejam pescadas espécies ameaçadas.
O programa também pode ser usado por pesquisadores, docentes ou por aquelas pessoas que tenham curiosidade em identificar este animal, tão temido quanto admirado.
Além desta iniciativa, a especialista lembra que há outros aplicativos parecidos, como o desenvolvido pela Universidade de Standford, nos Estados Unidos, para fazer imagens de espécies raras de tubarão e compartilhá-las na internet em nível mundial.
"Quanto mais dados tivermos, mais significativos serão os resultados", ressaltou Monica.
E assim, em um futuro próximo, as empresas pesqueiras poderão determinar que tipo de tubarões estão capturando e "informar já a partir dos navios às autoridades" a fim de não ultrapassar as cotas estabelecidas para cada espécie.