Mulheres e computadores: quase 40% das salas de aula do curso de ciência da computação nos anos 60 e 70 eram compostas por mulheres (Keystone/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 29 de fevereiro de 2016 às 17h52.
Última atualização em 7 de março de 2017 às 16h39.
São Paulo – O dia 8 de março de 2010 foi um dos momentos mais decisivos na vida de Camila Achutti. Poderia ser mais um Dia Internacional da Mulher para qualquer menina. Aquele foi, no entanto, seu primeiro dia de aula de ciência da computação na Universidade de São Paulo (USP).
A sua primeira recordação é o susto que levou ao ver a lousa coberta de números. Completamente perdida, Achutti olhou ao redor para pedir ajuda a um colega. Foi nesse momento que percebeu que era a única garota da sala.
Eu chorei o caminho de volta inteiro, disse a EXAME.com. Hoje, Achutti é cientista da computação e embaixadora do Technovation Challenge Brasil, a maior competição do mundo para meninas em tecnologia.
Depois do choque inicial, ela se esforçou para responder uma questão: por que tão poucas mulheres cursam faculdade de tecnologia?
Ela não é a única a pensar sobre isso. Gina Gotthilf é vice-presidente global do Duolingo, um dos principais apps para aprendizado de línguas. Em sua análise, faltam ícones femininos nesse meio. Eu posso enumerar muitos homens famosos no mundo da tecnologia e só duas ou três mulheres, disse a EXAME.com.
Marília Rocca, vice-presidente da Totvs, tem leitura parecida: As jovens se sentem desconfortáveis e não têm em quem se inspirar, disse em entrevista.
De maneira prática, Gotthilf é um exemplo de como a falta de incentivo faz com que meninas fujam da tecnologia. Formada em filosofia, ela nunca havia pensado em fazer ciência da computação. Hoje em dia eu vejo que eu deveria ter feito um curso relacionado a TI.
Anualmente, empresas de tecnologia publicam relatórios de diversidade. A verdade é que a quantidade de mulheres nas áreas de tecnologia dessas companhias ainda é muito baixa.
Em média, 30% dos funcionários das maiores empresas de tecnologia do mundo (Google, Facebook, Microsoft e Apple) são mulheres. Por outro lado, apenas 16% dos empregados da área de TI do Facebook, por exemplo, são mulheres. Veja os dados das quatro empresas neste infográfico.
O cenário é ainda pior em startups. Dados da Dow Jones VentureSource mostram que apenas 1,3% das startups analisadas tinham mulheres como fundadoras e 6,5% mantinham uma mulher como CEO. O estudo analisou mais de 20 mil startups americanas.
Além da quantidade baixa de mulheres em startups e empresas, para Gina Gotthilf, as mulheres não conseguem tanto investimento quanto os homens para abrir companhias. Uma das empresas que investiu no Duolingo investe em outras 50 companhias, sendo que nenhuma delas tem uma mulher como diretora executiva, fundadora ou co-fundadora. É nítido que há um problema", diz.