policia (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2014 às 13h49.
Cansados de conviver com relatos diários de violência urbana como assaltos e roubos, os estudantes de Ciências da Computação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Márcio Vicente e Filipe Norton, resolveram colocar em prática o que aprendiam na faculdade e criaram o site colaborativo Onde Fui Roubado.
Desde que foi lançada, em junho de 2013, a plataforma já recebeu mais de 17 mil denúncias de 399 cidades em todo o Brasil. São Paulo é a recordista, seguida por Fortaleza, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
"Queríamos mostrar nosso trabalho e, ao mesmo tempo, dar um retorno positivo para a sociedade. Então, desenvolvemos um espaço onde é possível compartilhar informações sobre assaltos com todos os cidadãos", explicou Vicente. Eles também oferecem dicas de segurança como evitar locais mal iluminados, não abrir bolsas e carteiras perto de estranhos ou deixar documentos no carro.
Disponível em 60% das cidades brasileiras (aquelas que são alcançadas pelo Google Maps), o site ajuda a mapear as ocorrências a partir das denúncias anônimas das próprias vítimas. Na página, a pessoa informa local, data, horário, objetos roubados e o próprio sexo. Além de fazer um breve relato sobre a ocorrência, é possível selecionar sete tipos de crime, desde furto até assalto à mão armada e sequestro relâmpago.
Hoje, o Onde Fui Roubado tem entre 20 mil e 30 mil visualizações por dia, entre pessoas que denunciam a violência e que monitoram dados e locais com maior incidência criminal.
Sem falar em investimentos financeiros, Vicente disse que "o esforço foi relativamente alto para um retorno de conhecimento elevado". O próximo passo é lançar um aplicativo para celulares com sistemas operacionais iOS e Android.
Registros
São Paulo lidera o ranking com mais de 2.400 denúncias e prejuízo de R$ 4,6 milhões em dez meses. Do total de ocorrências, apenas 58% das vítimas registraram boletins nas delegacias da cidade. O crime de maior incidência é o assalto à mão armada, seguido de furo, a maioria deles cometidos nos bairros Consolação e Vila Mariana.
Diferentemente de São Paulo, em Fortaleza a maioria dos crimes é cometida durante o dia. Lá, apenas 47% das 1.900 denúncias do site viraram boletins de ocorrência. Em Belo Horizonte, o prejuízo das vítimas chegou a R$ 5,6 milhões. Das 1.790 denúncias, 59% viraram boletins de ocorrência.
No Rio foram 1.400 registros na página, a maioria (960) sobre roubo de celulares, mas apenas 46% das vítimas registraram boletins de ocorrência. O centro é o bairro mais perigoso da cidade, seguido pela Barra da Tijuca, na zona oeste. Os prejuízos ultrapassam R$ 2,2 milhões.
Vicente e Norton orientam as vítimas a procurarem a polícia para registrar as ocorrências. No entanto, apenas 47% seguem o conselho. "Alguns policiais e delegados de várias cidades entraram em contato conosco informalmente e disseram que usam nossos dados também nas estatísticas de criminalidade, porque muitas denúncias do site não chegam na delegacia", disse Vicente. Eles também já foram procurados pela Secretaria de Segurança de Belo Horizonte, mas as negociações não avançaram.
Segurança
Para o sociólogo Bruno Cardoso, do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU/UFRJ)os aplicativos refletem a cultura participativa e colaborativa atual. "Para a maioria das pessoas, o boletim de ocorrência é só uma coisa burocrática. Os aplicativos se baseiam na coletividade e criam um banco de dados relativamente neutro e de fácil acesso, que pode ser usado para pensar a segurança local".