Logo da Samsung: companhia está trabalhando para construir um futuro além dos telefones celulares (Woohae Cho/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2014 às 10h43.
Seul - Yoon C. Lee, executivo da Samsung Electronics, está dando uma volta pela casa nos EUA, localizada em Oakland. Ele mostra a sala de estar e o hall de entrada e em seguida dá uma olhada para fora para checar o jardim.
Ele avalia se liga ou não o sistema de irrigação, mas percebe que as plantas já têm água suficiente.
O detalhe é que ele não está de verdade na Califórnia. Está a 12.800 quilômetros de distância, acompanhado de um repórter, em uma sala de conferências, em Seul.
Lee, um homem alto, de 49 anos, está em uma mesa enorme brincando com um telefone Galaxy S5 que transmite um vídeo ao vivo dos EUA.
Esta é a próxima grande aposta da Samsung, que está trabalhando para construir um futuro além dos telefones celulares, setor em que os lucros estão despencando.
Lee e seus colegas tentam criar outro sucesso a partir daquilo que é conhecido como Internet das Coisas, tecnologia que une telefones, câmeras, irrigadores e estradas.
Se eles tiverem sucesso, o esforço poderá impulsionar as vendas de produtos eletrônicos, eletrodomésticos e chips da empresa por uma geração; se fracassarem, os problemas provavelmente se aprofundarão.
“Imagine se todas essas coisas bobas ao seu redor puderem ser conectadas”, disse Lee. “Para a Samsung, esta é uma grande nova oportunidade, uma enorme mudança de paradigma. Isso vai nos beneficiar em todos os negócios”.
O impulso da Samsung na internet surge justamente no momento em que a Apple, a Google e dezenas de outras empresas estão avaliando a mesma oportunidade.
As gigantes da tecnologia estão disputando a liderança e colaborando entre si onde for necessário. O mercado para a Internet das Coisas deverá atingir US$ 7,1 trilhões até 2020, segundo a firma de pesquisa IDC.
Transferindo engenheiros
Em um sinal de como está levando o esforço a sério, a Samsung está transferindo cerca de 500 engenheiros de sua divisão de telefonia celular e alocando-os, em sua maioria, na iniciativa da internet, segundo fontes familiarizadas com o assunto.
A mudança reflete também o reconhecimento de que a empresa com sede em Suwon, Coreia do Sul, precisa de outro sucesso após os smartphones, disseram as fontes, que pediram anonimato pelo fato de discutirem assuntos internos.
“Este é um mercado obrigatório para a Samsung”, disse Neil Mawston, diretor-executivo da firma de pesquisa Strategy Analytics. “A Internet das Coisas será muito grande para ser ignorada”.
Embora seja mais conhecida por seus telefones celulares, a Samsung Electronics fabrica de tudo, desde televisores e computadores até máquinas de lavar roupa, secadoras e máquinas de ultrassom.
Ela faz parte da Samsung Group, maior conglomerado da Coreia do Sul, que vende seguros, constrói navios, produz canhões e também opera um parque temático.
“A Samsung, a Apple e a Google vislumbram um mundo em que coisas como dispositivos móveis e bens de uso doméstico, que estão ao redor de nós, falarão uns com os outros”, disse Ko Seung Hee, analista da SK Securities em Seul.
“Ao contrário das outras, a Samsung pode oferecer uma linha completa de aparelhos e eletrodomésticos e esse é o ponto mais forte da Samsung”.
Software é ponto fraco
A Samsung vem trabalhando com a Intel para desenvolver seu próprio sistema operacional, o Tizen, embora o esforço tenha ganho pouca força.
A empresa coreana está usando o Tizen em seus relógios inteligentes e câmeras para reduzir sua dependência em relação ao Google.
A Samsung também se uniu ao Thread Group, liderado pela Nest Labs, da Google, que constrói novos padrões domésticos de automação. A empresa também assinou, em fevereiro, um acordo global de licenciamento de patentes com a Cisco Systems, que detém uma das maiores reservas de patentes em aparelhos conectados, para compartilhar tecnologias nos próximos 10 anos.
Aquisições, novas fábricas e um esforço para integrar a fabricação são o núcleo do plano. Em agosto, a empresa comprou a SmartThings, uma startup que produz aplicativos móveis para controlar remotamente aparelhos domésticos.
Em outubro, ela também anunciou planos para uma fábrica de chips de US$ 15 bilhões na Coreia do Sul para produzir chips mais avançados para aparelhos conectados e de vestir.
“Nossa primeira missão é trazer sua casa para sua vida conectada”, disse Lee, na Samsung. “Pelo menos, você nunca terá que dirigir duas horas de volta para casa para checar se esqueceu de trancar a porta ou desligar o forno a gás”.