DJ KOH, PRESIDENTE DE MOBILIDADE DA SAMSUNG: ele afirmou que a Samsung empresa “aprendeu as lições”; agora é ver se o público compra a ideia / Brendan McDermid/ Reuters
Da Redação
Publicado em 29 de março de 2017 às 17h51.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h03.
Sérgio Teixeira Jr., de Nova York
A Samsung apresentou na tarde desta quarta-feira em Nova York seus mais novos smartphones, chamados Galaxy S8 e S8 Plus. O evento foi realizado no David Geffen Hall, onde se apresenta a Filarmônica de Nova York, e teve a pompa esperada de uma apresentação de um produto de tecnologia de ponta: um telão de cerca de seis metros de altura se estendia até cobrir parte do teto sala de concertos, e animações computadorizadas mostravam com detalhes os componentes internos do novo celular.
A prestidigitação e os efeitos especiais podem seduzir momentaneamente jornalistas, analistas e consumidores, mas para a Samsung o que está em jogo é muito mais que o sucesso um novo produto. Depois de passar pelo vexame dos celulares que explodiam e pela prisão de seu CEO, Jay Y. Lee, na Coreia do Sul, o Galaxy S8 é o primeiro passo no caminho da redenção.
Pelo que se pode ver na apresentação e no breve contato que os presentes tiveram com os aparelhos, o novo smartphone traz várias inovações. A principal delas talvez esteja no design: o Galaxy S8 (e seu irmão maior, o S8 Plus) eliminaram as bordas laterais. A tela se estende por praticamente todo a face do aparelho (nas partes de cima e de baixo ainda há uma estreita borda preta). O efeito é marcante, e esse novo design — também esperado no iPhone 8, que deve ser anunciado no segundo semestre — permite que o celular seja ligeiramente mais estreito, sem que a tela seja menor.
A Samsung batizou a nova tela de “infinity display”, algo como “tela infinita”. A resolução da tela também foi ampliada e é possível assistir a vídeos de alto contraste dinâmico (HDR, na sigla em inglês) em serviços como o Amazon Video, concorrente da Netflix. A tecnologia HDR está disponível em apenas alguns televisores mais novos.
A câmera traseira, em geral mencionada com destaque nas apresentações de novos smartphones, é exatamente a mesma da geração anterior. Mas a câmera frontal, ou a câmera das selfies (provavelmente a mais usada por boa parte dos consumidores) recebeu um upgrade importante. As imagens agora terão resolução de 8 megapixels, e a lente também tem foco automático. Como a tela agora ocupa quase toda a face do celular, o sensor de impressão digital agora fica nas costas do aparelho, ao lado da lente — uma escolha duvidosa, pois num rápido manuseio foi difícil acertar o lugar correto do indicador.
Mas o Galaxy S8 traz dois novos tipos de autenticação: leitura da íris e reconhecimento facial. Ambos ainda serão colocados à prova por testes de especialistas e pelos consumidores no dia a dia, mas parece claro que os dias de digitar um código numérico para desbloquear o celular — e para entrar no aplicativo do banco ou autorizar compras online, por exemplo — parecem contados.
Os celulares Samsung são baseados no sistema Android, do Google, mas a empresa tradicionalmente faz adaptações no software. Ao que tudo indica, o novo aparelho evita ao máximo as interferências, em nome da usabilidade e da estabilidade do smartphone (a única maneira de ter acesso ao Android puro é usando o celular do próprio Google, o Pixel). Um dos adendos apresentados pela Samsung é o assistente Bixby, essencialmente um competidor do Google Assistant, da Siri (da Apple) e da Alexa (da Amazon). A ideia é que o Bixby seja um assistente ainda mais inteligente que os da concorrência — ou pelo menos um pouco menos burro.
A ideia é interessante. O Bixby, por exemplo, é capaz de entender o contexto de algumas operações. Para editar uma foto, por exemplo, é possível comandar o programa apenas com a voz, em vez de usar os comandos do software (para girar ou enviar uma foto, por exemplo). O objetivo, diz a empresa, é fazer com a voz tudo o que hoje é feito com a ponta dos dedos. Mas, por enquanto, isso só será possível com cerca de dez aplicativos da própria Samsung. Os outros dependerão de atualizações dos produtores.
Uma das funcionalidades mais interessantes envolve um pouco de realidade aumentada. Apontando a câmera para um objeto, o Bixby é capaz de reconhecê-lo e indicar sugestões. Na apresentação, um dos executivos da Samsung mostrou um uso que pode ser útil para turistas: mirando a câmera no Flatiron Building, um dos edifícios mais famosos de Nova York, o assistente reconhece o prédio e o bairro e oferece sugestões de restaurantes. Produtos geram recomendações de onde comprar — em lojas parceiras, como a Amazon. Um teste rápido com objetos como uma caneta ou um iPhone trouxeram resultados irrelevantes, mas a ideia parece promissora.
A palavra segurança foi mencionada mais de uma vez no evento de lançamento do Galaxy S8, em relação às funcionalidades de autenticação dos usuários mas também numa referência clara ao Note 7. O aparelho, lançado no ano passado, tinha um grave defeito nas baterias que podia levar à combustão espontânea dos celulares. DJ Koh, responsável pela área de mobilidade da empresa sul-coreana, afirmou que a empresa “aprendeu as lições”, mas serão as vendas do novo smartphone a melhor medida da confiança dos consumidores em relação à Samsung. O recall do Note 7, no fim do ano passado, custou mais de 5 bilhões de dólares, e a empresa disse recentemente que pode vender algumas unidades recondicionadas do aparelho.
O Galaxy S8 estará à venda a partir de 21 de abril em alguns países — ainda não há data confirmada para o início das vendas no Brasil.