Dinamarca: gastos elevados com programas sociais trazem incertezas para futuro da população do país (Thinckstock)
Da Redação
Publicado em 18 de agosto de 2016 às 18h19.
A Dinamarca tem um problema: o país poderá, em breve, perder a capacidade de oferecer uma vida tão boa para a população.
Saúde gratuita para todos, bolsa mensal de US$ 757 para estudantes universitários e sólidos programas de transferência de renda para os menos favorecidos são coisas que custam dinheiro -- a Dinamarca dedica pouco mais de 30 por cento de seu Produto Interno Bruto aos gastos sociais, um dos níveis mais elevados do mundo desenvolvido.
Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, um “sistema de bem-estar tão generoso exige finanças públicas robustas”.
E embora as finanças da Dinamarca “pareçam ser sustentáveis” por enquanto, as premissas que fundamentam esta visão contêm um alto nível de incerteza, alertou a OCDE em uma pesquisa recente.
Observe por exemplo a participação no mercado de trabalho.
É verdade que a taxa de desemprego abaixo de 4 por cento é uma das mais baixas da Europa e a indústria frequentemente reclama da falta de mão de obra qualificada.
Mas as projeções populacionais mostram que o sistema de bem-estar social da Dinamarca, de 600 bilhões de coroas (US$ 91 bilhões), enfrenta um futuro com mais clientes e menos gente para pagar a conta.
Os benefícios por filhos e a abundância de creches não foram suficientes para produzir um novo aumento da taxa de natalidade. Importar mão de obra do exterior não é uma opção porque o governo de minoria depende do Partido Popular Dinamarquês, que se opõe à imigração (no ano passado, a Dinamarca aceitou menos de um oitavo do total de refugiados que foram acomodados na Suécia, sua vizinha).
Assim como em muitos outros países desenvolvidos, a população da Dinamarca está envelhecendo. Uma solução óbvia é obrigar as pessoas a trabalhar por mais tempo.
Sucessivos governos já cancelaram os esquemas de aposentadoria precoce e elevaram a idade mínima de aposentadoria (para 68 anos a partir de 2030). Novas medidas poderão ser anunciadas no próximo plano econômico de 2025 do primeiro-ministro Lars Loekke Rasmussen.
A alternativa ao corte de custos, claro, é elevar as receitas. Mas a Dinamarca também não está se saindo muito bem nesse aspecto. Com uma produtividade fraca, a economia do país está crescendo mais lentamente do que a da zona do euro.
Uma comissão do governo estimou em 2014 que a produção anual seria 360 bilhões de coroas maior, ampliando o PIB em cerca de 15 por cento no processo, se os dinamarqueses igualassem o nível de aumento da produtividade observado nos EUA desde meados dos anos 1990, quando as empresas americanas intensificaram o uso de computadores e de outros avanços tecnológicos.
Segundo a Confederação da Indústria Dinamarquesa, ainda não é tarde demais para colher os frutos da automação.
“A robótica, a inteligência artificial, a conexão de tudo à internet -- está tudo muito barato agora”, disse Adam Lebech, que representa empresas de tecnologia na confederação.
Lebech acredita que a tecnologia já está trazendo de volta à Dinamarca parte dos 150.000 empregos industriais que foram transferidos ao exterior após a crise financeira.
A Danfoss, por exemplo, hoje é capaz de fabricar termostatos mais sofisticados na Dinamarca graças aos avanços da robótica e da impressão 3D.
Helge Pedersen, economista-chefe do banco Nordea, também acredita que os robôs façam parte da solução.
“Os robôs nos permitem trazer a produção de volta ao país”, disse ele, mas também podem “ajudar a melhorar o retorno sobre o gasto com o bem-estar social”.