UBER: número de corridas caiu 70% em algumas cidades dos Estados Unidos (Germano Lüders/Exame)
Lucas Agrela
Publicado em 7 de maio de 2020 às 06h58.
Última atualização em 7 de maio de 2020 às 07h01.
O ano não tem sido fácil para empresas de transporte por aplicativo. Com a quarentena, menos pessoas precisam de corridas de carro no mundo todo, o que prejudicou em cheio o principal negócio de empresas com a Uber. O tamanho desse tombo deve ser conhecido nesta quinta-feira (7) com a divulgação dos resultados financeiros trimestrais da Uber. Os números são revelados um dia depois de a empresa anunciar o corte de 3.700 postos de trabalho, ou 14% do quadro de funcionários.
A situação difícil tem se refletido no preço das ações. Desde o começo do ano, os papéis da companhia tiveram uma queda de 10% e hoje são negociadas a um valor 40% menor do que na oferta pública de ações (IPO), em maio de 2019.
A chance de a Uber de ter resultados positivos neste primeiro trimestre é com o crescimento do serviço de delivery Uber Eats, que representou 18% do faturamento da Uber em 2019. O serviço tinha crescido 10% em março, quando diversos países já estavam em quarentena.
Em uma conferência com investidores no início do ano, Dara Khosrowshahi, presidente global da Uber, disse que o volume de corridas tinha caído 70% em algumas cidades nos Estados Unidos, como Seattle. A companhia considera usar seu aplicativo de celular para viabilizar entregas de produtos, como medicamentos e itens básicos.
Khosrowshahi afirmou ainda que a empresa possui 10 bilhões de dólares em caixa para uso irrestrito e que esperava terminar o ano com um saldo de 6 bilhões de dólares, sendo que 1,5 bilhão de dólares estariam reservados para aquisições de empresas. No ano de 2019, a Uber teve um prejuízo líquido de 8,5 bilhões de dólares. Até fevereiro, expectativa da empresa era atingir o lucro líquido até o fim deste ano.
Nesta semana, a americana Lyft, concorrente da Uber, reportou um crescimento de 23% na receita do primeiro trimestre de 2020 em relação ao mesmo período no ano passado, passando de 829,6 milhões de dólares para 955 milhões de dólares. Apesar do resultado positivo, a empresa também demitiu. Quase mil postos foram cortados, o que representa 17% do quadro de colaboradores da Lyft.
A crise do coronavírus afeta não só a saúde pública, mas também os negócios dos unicórnios, como são chamadas as startups que têm valor de mercado de mais de 1 bilhão de dólares, como Uber e Lyft. O tema é pauta de reportagem da edição de hoje da revista Exame.
No setor de hospedagem, o Airbnb passa por dificuldades parecidas. Com as viagens reduzidas ao extremo, a companhia americana teve que demitir 1.900 pessoas, cerca de 25% dos seus funcionários, devido ao que chamou de “a crise mais angustiante desta época”. A startup americana de viagens TripActions, avaliada em 4 bilhões de dólares, também foi afetada pela quarentena e informou que terá que demitir 296 pessoas, cerca de 30% dos funcionários.
No mercado de redes sociais, o aplicativo Pinterest reportou crescimento de 35% no faturamento no primeiro trimestre de 2020, indo de 201,9 milhões de dólares para 272 milhões de dólares na comparação anual. O número de usuários da companhia atingiu 367 milhões globalmente, um aumento de 26%. No entanto, o prejuízo da startup deu um salto e cresceu 241%, chegando a 141 milhões de dólares. O motivo é que a crise do coronavírus desacelerou o mercado publicitário, e os anúncios são o principal negócio do Pinterest.
Por outro lado, na semana passada, o Facebook reportou crescimento de 17% na sua receita entre janeiro e março de 2020, passando de 15 bilhões de dólares no primeiro trimestre do ano passado para 17,7 bilhões. A empresa dobrou seu lucro líquido, passando de 2,4 bilhões para 4,9 bilhões de dólares. As ações da companhia subiram 10% com o anúncio dos resultados financeiros do trimestre.
De acordo com a consultoria americana Pitchbook, a pandemia de covid-19 prepara o terreno para uma nova era de investimentos de capital de risco em startups que não têm escritórios centrais e que podem ditar a tendência dos aportes financeiros na próxima década. Com profissionais qualificados atuando de forma distribuída, em diferentes espaços físicos, a adaptação ao trabalho remoto em caso de outra crise semelhante seria mais fácil, ao mesmo tempo em que as despesas da companhia ficam mais baixas do que as que têm sedes.
Com os novos tempos na era pós-pandemia, investidores irão buscar empresas que possam ser lucrativas e resistentes a crises em diferentes cenários, e não apenas as que prometem ser lucrativas um dia no futuro.