Ciberataque: segundo a agência, ainda é cedo para dizer quem está por trás disso (DaLiu/Thinkstock)
AFP
Publicado em 15 de maio de 2017 às 10h56.
Última atualização em 15 de maio de 2017 às 10h59.
A ameaça de um "cibercaos" temida após o ciberataque mundial na última sexta-feira foi afastada nesta segunda-feira à medida que se organizava uma resposta nos 150 países afetados por esta ofensiva sem precedentes, cujos efeitos persistem.
"O número de vítimas parece não ter aumentado e a situação parece estável na Europa", declarou à AFP o porta-voz da Europol, Jan Op Gen Oorth, que celebrou o estabelecimento de muitas correções de segurança no fim de semana.
"Ainda é cedo para dizer quem está por trás disso, mas estamos trabalhando em uma ferramenta de decodificação" dos arquivos afetados pelo vírus, acrescentou.
Este ataque cibernético, não reivindicado e cuja magnitude foi detectada na sexta-feira, foi lançado através de um vírus do tipo "ransomware" ('ransom', resgate em inglês, e 'ware' por 'software', programa de informática) chamado de "WannaCry", que explora uma vulnerabilidade nos sistemas operacionais Windows da Microsoft, afetando empresas e administrações públicas.
Na França, a fábrica da Renault em Douai (norte), uma das maiores da montadoraa no país, estava "preventivamente" fora de operação nesta segunda-feira, segundo um porta-voz.
O ataque cibernético fez outras vítimas no país, de acordo com o chefe da agência francesa para a segurança dos sistemas de informação (Anssi), Guillaume Poupart, que, contudo, não teme um "cibercaos".
"Nos países que retornaram ao trabalho, não houve um gatilho catastrófico", afirmou à rádio France Inter. No entanto, advertiu, "espera-se para os próximos dias, semanas, réplicas regulares".
O ataque cibernético também afetou países asiáticos, os primeiros a despertar nesta segunda-feira, e primeiros a constatar as consequências da infecção.
No Japão, a rede de computadores do conglomerado Hitachi seguia "instável", disse um porta-voz. Na China, "centenas de milhares" de computadores e cerca de 30.000 instituições foram afetados, de acordo com Qihoo 360, fornecedor de softwares antivírus.
A agência nacional responsável pela segurança cibernética, citada nesta segunda-feira pela imprensa estatal, indicou que o ataque continuava a se espalhar no país, mas a um ritmo extremamente lento.
À espera de possíveis novas vítimas, o saldo do ciberataque global já é imponente, da Rússia à Espanha, passando pelo Brasil e Vietnã.
"A última contagem apontava mais de 200.000 vítimas, principalmente empresas, em pelo menos 150 países", declarou no domingo o diretor da Europol, Rob Wainwright, na ITV.
O serviço público de saúde britânico, NHS, parece ter sido uma das primeiras e principais vítimas com centenas de estruturas afetadas, muitas forçadas a cancelar ou adiar procedimentos médicos.
Durante o fim de semana, equipes trabalharam duro para atualizar os computadores da organização, indicou nesta segunda-feira o secretário de Estado da Segurança Ben Wallace na BBC, mas as perturbações ainda eram observadas.
O ataque também afetou o sistema bancário russo, o grupo americano FedEx, a empresa espanhola de telecomunicações Telefónica ou ainda universidades na Grécia e na Itália, e provocou sua cota de turbulência política.
Enquanto os hackers russos são regularmente apontados como culpados, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que seu país "não tinha absolutamente nada a ver" com "WannaCry".
"Sempre buscamos culpados onde não existem", disse, antes de destacar que, de acordo com a própria Microsoft, "os serviços especiais americanos eram a principal fonte desse vírus".
O caso também agitava a classe política britânica, em plena campanha eleitoral para as legislativas de 8 de junho, com a oposição trabalhista acusando o governo conservador de Theresa May de negligência.
O governo se defendeu, lembrando o montante de seu orçamento anual para o setor de tecnologia: 4,2 bilhões de libras.
"WannaCry", um software de resgate combinando as funções de malware e worm, sequestra os arquivos do usuário e os obriga a pagar 300 dólares (275 euros) para recuperá-los.
O resgate é solicitado em moeda virtual, bitcoin, particularmente difícil de rastrear.
De acordo com Rob Wainwright, "aconteceram surpreendentemente poucos pagamentos até agora". A empresa de segurança Digital Shadows relatou no domingo um total de 32.000 dólares pagos.
"Pagar o resgate não garante a restituição dos arquivos", alertou o Departamento de Segurança Interna americano.
Se os autores do ataque não foram identificados e estão sendo procurados, "obviamente, estamos lidando com o crime", disse Poupart.
"Algumas máfias que antes praticavam o tráfico de drogas ou diferentes tipos de tráfico, agora fazem ataques cibernéticos porque é mais fácil, é mais barato, e muito menos arriscado, além de pagar enormemente".
A Microsoft alertou os governos contra a tentação de esconder vulnerabilidades identificadas, como no caso deste ataque, onde a falha no sistema Windows utilizada pelos hackers foi detectada há tempos pela NSA (agência de segurança nacional americana) antes de cair em domínio público através de documentos hackeados de dentro da NSA.