Cientistas demonstraram em laboratório que os impactos do fungicida vão além da geração diretamente afetada (©AFP/Arquivo / Yasuyoshi Chiba)
Da Redação
Publicado em 21 de maio de 2012 às 17h58.
Washington - Quando ratas prenhes são expostas a um fungicida de uso comum em plantações, seus descendentes nas três gerações seguintes apresentam mais ansiedade e estresse do que os filhotes de roedoras que não se expuseram à substância, revelaram cientistas americanos nesta segunda-feira.
O estudo, publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, sugere que o modelo animal pode fornecer uma explicação para o número crescente de casos de distúrbios de ansiedade, autismo e obesidade entre humanos nos últimos anos.
"Estamos agora na terceira geração humana desde que começou a revolução química, desde que os humanos começaram a se expor a este tipo de toxina", disse o autor principal do estudo, David Crews, da Universidade do Texas.
"Não há dúvidas de que temos visto um aumento real em distúrbios mentais como autismo e distúrbio bipolar", acrescentou.
"É mais do que uma mera mudança de diagnóstico. A questão é por quê? É por que estamos vivendo em um mundo mais frenético ou respondemos a isto de uma forma diferente porque fomos expostos? Eu prefiro a última", afirmou.
Para o estudo, os cientistas expuseram ratas prenhes ao vinclozolin, um fungicida comum usado em frutas e legumes e que é conhecido por afetar os hormônios e ter efeitos nos animais através de gerações.
O volume de exposição ao produto químico foi "maior do que se esperaria no ambiente, mas não há um conhecimento completo sobre os níveis ambientais deste composto em particular", afirmou o co-autor da pesquisa, Michael Skinner, da Universidade do Estado de Washington.
Skinner acrescentou que o propósito do estudo não era avaliar o risco para os seres humanos, mas examinar as consequências em potencial causadas pela exposição.
Ele e seus colegas testaram a terceira geração de ratos machos e suas reações a uma situação estressante de limitação física na adolescência, em comparação com roedores mais velhos expostos ao químico e outros sem este histórico.
Os ratos com histórico familiar de exposição ao fungicida tinham um peso superior e níveis mais elevados de testosterona do que os demais.
Eles também se mostraram mais ansiosos, mais sensíveis ao estresse e demonstraram grande atividade em áreas do cérebro relacionadas com o estresse do que descendentes de ratos não expostos, destacou o estudo.
Em um teste em separado sobre sociabilidade, as crias expostas ao fungicida "demonstraram menos interesse em novos indivíduos e ambientes do que outros ratos", acrescentaram os pesquisadores. Estudos com as crias fêmeas estão em andamento, afirmou Skinner.
"A exposição ancestral de seus antepassados altera seu desenvolvimento cerebral, para então, responder ao estresse de forma diferente", explicou Skinner.
"Nós não sabíamos que uma resposta ao estresse poderia ser programada pelas exposições ambientais dos nossos ancestrais", acrescentou.
Os cientistas acreditam que a exposição a produtos químicos altera a composição genética do esperma e dos óvulos e pode fazer com que futuras gerações deem respostas alteradas ao estresse na adolescência.
O vinclozolin começou a ser usado para controlar o crescimento e a deterioração em lavouras americanas no começo dos anos 1980, mas seu uso caiu vertiginosamente depois que estudos demonstraram que ele imitava os efeitos de hormônios masculinos, como a testosterona, e interrompia o desenvolvimento sexual normal.