Tecnologia

Projeto social quer levar blockchain para periferias de Rio e São Paulo

Startup Socialblocks pretende introduzir jovens de baixa renda no desenvolvimento de blockchain para colocá-los em um mercado com demanda cada vez mais alta

Mais do que criptomoeda: Ainda que esteja muito associado ao Bitcoin, a tecnologia de livro-razão descentralizado é aplicável a diversos setores para garantir segurança em diferentes processos (iStock/Thinkstock)

Mais do que criptomoeda: Ainda que esteja muito associado ao Bitcoin, a tecnologia de livro-razão descentralizado é aplicável a diversos setores para garantir segurança em diferentes processos (iStock/Thinkstock)

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Gustavo Gusmão

Publicado em 2 de dezembro de 2018 às 07h00.

Última atualização em 2 de dezembro de 2018 às 07h00.

São Paulo — O blockchain está em alta. Ainda que seja muito associado ao Bitcoin, a tecnologia já se mostrou versátil e aplicável em diferentes setores. Uma análise da empresa de pesquisas de mercado MarketsAndMarkets estima que, entre 2017 e 2022, o mercado em torno do livro-razão descentralizado, base do Bitcoin, vai dar um salto em termos de valor. A área irá de 441 milhões de dólares a 7,6 bilhões de dólares em cinco anos. E uma "startup social" brasileira quer aproximar jovens das periferias da realidade promissora que envolve a tecnologia. Chamada de Socialblocks, a iniciativa foi fundada pelo empreendedor peruano Gustavo Figueroa e pretende formar desenvolvedores de blockchain em comunidades de baixa renda.

O projeto já deu seus primeiros passos na comunidade do Cantagalo, no Rio de Janeiro, e na região do Grajaú, em São Paulo. O objetivo, de acordo com o CEO, é "graduar 160 alunos já em 2019" e deixá-los preparados para esse mercado. Mas mais do que isso, o projeto quer ajudá-los a entrar no ramo, servindo como "vitrine" de talentos e fazendo a ponte com empresas europeias e norte-americanas em busca de profissionais para trabalhar na área. Em troca, espera que os formandos colaborem com 10% do que receberem por dois anos.

A demanda por mão de obra qualificada está cada vez mais alta. O setor já é um das que paga melhor engenheiros e programadores, com salários médios entre 150 e 175 mil dólares anuais, ao menos nos EUA. É quase o que recebem, hoje, especialistas em inteligência artificial, conforme explicou à emissora CNBC a firma de recrutamento Hired. Tudo o que esses profissionais precisam saber é como aproveitar a versatilidade do blockchain e aplicá-lo em diferentes área, como já fazem algumas empresas. A IBM, por exemplo, o usa na logística da cadeia de produção, para registrar atualizações e rastrear o trajeto feito por produto. A startup Storj.io, o aplicou para criar um serviço de armazenamento na nuvem descentralizado. Por fim, a startup Luna desenvolveu uma plataforma de relacionamento baseada na tecnologia.

Enfim, é nos valores altos que a Socialblocks pretende mirar na hora de aproximar alunos das empresas interessadas. "A companhia pode pagar em euros, reais ou dólares", disse Figueroa a EXAME. "A única condição que temos para o contratante é que ele pague o preço de tabela praticado no seu país, não no Brasil. Senão não gera o impacto que pretendemos ter." Alunos que fizerem o treinamento não serão obrigados a trabalhar para empresas de fora, garante o executivo. Quem quiser buscar um emprego fixo, em uma companhia nacional, terá a liberdade para fazer isso. "Não impomos nenhuma condição [para fazer o curso]", disse o CEO.

A formação em blockchain na Socialblocks, porém, não será acessível no início para todos os jovens interessados em programar. A princípio, a startup vai oferecer apenas treinamentos focados na tecnologia, sem cursos básicos de desenvolvimento para ensinar o bê-a-bá. Esses ensinamentos ficarão, no começo, por conta dos primeiros formandos, que deverão ser jovens que já tenham demonstrado interesse e estejam inseridos na área da computação. Figueroa espera fazer deles os porta-vozes do projeto.

Mas esse será só o começo. Em cinco anos, o projeto pretende estar presente em outros oito locais além dos dois iniciais. Mais para frente, a ideia é expandir o rol de aulas, com cursos de programação e também reforços de línguas e matemática. "Esperamos que, em 30 anos, consigamos alcançar nosso objetivo principal: fazer parte da vida de um menino de 7 anos de idade em diante", resumiu Figueroa, que é empreendedor em série, membro da associação Crypto Valley e também CEO e fundador da "fábrica de startups" Manga Science. A meta, portanto, está definida. Resta saber se, com esse conhecimento de mercado e com o apoio dos interessados no projeto, a proposta vai conseguir decolar.

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