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Preocupado com poluição, afegão cria carro solar-elétrico de R$ 4 mil

Mustafa Mohammadi fabricou em 45 dias um carro que custou cerca de 4,3 mil reais

tuktuk (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 6 de março de 2015 às 05h35.

Entre drones, atentados e um conflito que está longe de acabar, um afegão inovou em meio a complicadas condições para lidar com problemas cotidianos como a poluição e os engarrafamentos.

Mustafa Mohammadi fabricou em 45 dias um carro solar-elétrico e que também pode ser movido com auxílio de pedais para diminuir o impacto ao já contaminado ar de Cabul e possibilitar a milhares de pessoas a chance de adquirir um veículo. Reconhecendo que a sombra da insegurança e o conflito afetaram os afegãos durante as últimas três décadas, este jovem de 25 anos ressaltou à Agência Efe que desenvolveu esse trabalho para que as pessoas possam viver melhor.

"Me entristece muito saber que centenas de crianças e idosos afegãos morrem anualmente de doenças respiratórias causadas pela poluição do ar", disse Mohammadi no pequeno escritório onde fabricou o veículo.

Mohammadi queria encontrar uma solução para os riscos que passam famílias inteiras que viajam em motos inseguras durante o rigoroso inverno ou o implacável verão, entre poeira e chuva contaminadas nas cidades.

"Apresentei o desenho do meu carro a um amigo. Felizmente ele gostou e financiou o projeto", que custou 90 mil afganes (4,3 mil reais).

O resultado foi Photon, um carro com capacidade para duas pessoas, impulsionado por um motor de 60 volts de potência, alimentado por cinco baterias conectadas cada uma delas a um painel solar colocado no teto do automóvel.

"Com as baterias totalmente carregadas, tem potencial para percorrer 50 quilômetros com uma velocidade máxima de 40 km/h", relatou.

Mohammadi defende que este é o primeiro carro solar afegão, embora também tenha a possibilidade de receber carga elétrica em dias nublados e até acionar o uso dos pedais em último caso, "para emergências". No entanto, as opções para o protótipo ir além são incertas.

O governo do Afeganistão carece de um órgão que legalize este tipo de inovação, por isso seu criador não dispõe de documentos para colocar Photon para circular legalmente pela cidade.

De acordo com o professor da Universidade Politécnica de Cabul Abdul Ahad Khaliqi, há centenas de afegãos, inclusive sem formação acadêmica, com ideias inovadoras que não podem implementar por conta de limitações e falta de apoio técnico e financeiro.

"Ainda não temos um escritório especial governamental para analisar e apoiar o trabalho ou incentivar nossos inovadores, portanto em geral não há alternativa a não ser guardar as ideias na cabeça", lamentou.

Além disso, os criadores podem encontrar problemas originados pelo fato de viverem em um país em conflito, como aconteceu com um inventor que ficou temporariamente preso por seu avião não-tripulado ter sido confundido com um drone pelos corpos de segurança.

Para Khaliqi, Mohammadi representa uma geração que "finalmente quer sair do conflito e pensar sobre o futuro e a prosperidade da nação, mas que ainda enfrenta desafios".

"Se formos às escolas das regiões rurais, vamos ver as crianças fazendo desenhos de soldados, armas e tanques. Isso significa que ainda estamos em guerra e que temos que brigar para, pelo menos, mudar a mentalidade da geração mais jovem para ter um futuro mais brilhante em vez de ter pistolas, carros e aviões de guerra", disse.

Para o próprio Mohammadi, o conflito no Afeganistão é mais do que um assunto de segurança para os inovadores que vivem no país.

"Se não houvesse conflito, pelo menos algumas companhias poderiam desenvolver o projeto do meu carro para produzir mais deles, mas agora acho que meu veículo vai ficar velho e quebrar antes mesmo de chegar aos meus compatriotas", disse.

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