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Por que precisamos de redes inteligentes

Tecnologia de smart grid ajuda a construir cidades inteligentes e a distribuir recursos essenciais, como água e energia, com segurança e agilidade

ENERGIA: Linhas de transmissão são exemplos do sucesso recente das concessões, mas os investimentos ainda estão muito abaixo do padrão (Getty Images/Getty Images)

ENERGIA: Linhas de transmissão são exemplos do sucesso recente das concessões, mas os investimentos ainda estão muito abaixo do padrão (Getty Images/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de junho de 2016 às 19h05.

Última atualização em 7 de julho de 2017 às 12h08.

Mais da metade da população mundial já vive em áreas urbanas e, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a proporção deve chegar a 66% em 2050. O crescimento rápido das cidades, e muitas vezes desordenado, aumenta o desafio de fornecer serviços essenciais à população, como energia elétrica e água. Especialistas discutem como resolver o problema e uma das soluções passa pelo surgimento de cidades inteligentes, aquelas que se baseiam em sistemas de tecnologia para gerar qualidade de vida aos moradores.

Com análise de dados e sistemas automatizados, as cidades inteligentes conseguem criar iniciativas e ações sustentáveis, gerenciar os serviços básicos e ainda engajar o morador na discussão sobre consumo consciente. Mas o processo de mudança é gradativo em todos os países, pois depende de planejamento e de investimento. O Brasil enfrenta desafios extras. Distribuir energia em um país de dimensões continentais, por exemplo, é um trabalho complexo. Mas as concessionárias de energia têm buscado aprimorar seus processos com novas tecnologias.

Veja o caso da Eletrobras, empresa que atende os estados do Acre, Alagoas, Amazonas, Piauí, Rondônia e Roraima. Para otimizar custos, reduzir multas, melhorar a qualidade dos serviços e diminuir o nível das perdas de energia, a empresa criou o projeto Energia+, financiado pelo Banco Mundial. A ideia é investir 247 milhões de reais, até março de 2017, para modernizar a infraestrutura de energia a partir da construção de smart grids, um dos pilares das cidades inteligentes. Tecnologias de smart grid automatizam a distribuição e a transmissão de energia com o uso de sistemas de comunicação e dispositivos eletrônicos, tais como medidores inteligentes, capazes de monitorar o consumo dos clientes em tempo real.

Em abril, o projeto Energia+ inaugurou seu primeiro Centro de Inteligência da Medição, localizado em Brasília. Mas já existem instalações regionais nos estados onde atua. A fase atual do projeto conectará os consumidores para que as informações de consumo cheguem às unidades de monitoramento. Já são 10 000 os clientes atendidos, e a meta é subir esse número para 150 000 até março de 2017.

A equipe técnica está trocando os equipamentos analógicos de leitura por medidores eletrônicos inteligentes para coletar dados de consumo em tempo real. Essas informações são enviadas por uma rede de comunicação para os centros de inteligência. Nesses locais, os técnicos monitoram e avaliam o consumo de cada cliente para identificar falhas e evitar o desperdício de energia. “Esse equipamento é essencial na estrutura de uma smart grid, também chamada de rede inteligente”, afirma Luiz Armando Crestana, diretor comercial das distribuidoras da Eletrobras. “O sistema informa a central rapidamente, quando acontece algum problema, para que a energia seja restabelecida.”

Ganham os clientes e as distribuidoras. Com uma estrutura segura, que ajuda a combater perdas e evitar fraudes, as concessionárias aumentam suas receitas. Uma boa gestão do sistema elétrico também contribui para diminuir os custos e, consequentemente, gerar tarifas mais baixas aos usuários.

Os técnicos têm acesso a dados confiáveis e que são monitorados remotamente. No estado do Arizona, nos Estados Unidos, um projeto chamado Salt River instalou mais de 500 000 medidores inteligentes desde 2003. A mudança permitiu uma economia anual de mais de 210 000 galões de combustível, que seriam usados em viagens caso os funcionários precisassem ir até os locais para resolver os problemas.

Além de receberem um serviço de qualidade, os usuários são, ainda, estimulados a usar a energia de forma consciente. “Ao medir corretamente e estabelecer um controle de fraudes, naturalmente as pessoas tendem a fazer um consumo mais eficiente, porque sabem que tudo está sendo bem monitorado”, afirma Crestana.

Se a distribuidora tem acesso aos dados em tempo real, por que não os consumidores? Segundo Crestana, essa é a segunda etapa do projeto Energia+. A ideia é que a rede inteligente seja aperfeiçoada até o ponto em que os usuários possam acessar, por aplicativos, seus dados de consumo. “Primeiro montamos a rede para depois promover essas facilidades”, diz.

Fornecer aplicativos e informações é essencial para estimular o consumo consciente. “Conforme as pessoas têm acesso à informação de quanto cada equipamento consome, por exemplo, se conscientizam para economizar ainda mais”, afirma Crestana. “Essa conexão estabelece uma relação mais produtiva entre o cliente e a distribuidora”, diz Délberis Lima, professor do departamento de engenheira elétrica do Centro Técnico Científico da PUC-Rio.

Segundo Lima, as redes inteligentes também podem ser usadas para gerir o consumo de água. É possível instalar medidores inteligentes no lugar de hidrômetros para coletar dados sobre consumo e construir uma cidade em que tudo é monitorado e inteligente. A cidade americana de Burbank, na Califórnia, já deu um passo nesse caminho. O departamento americano de energia fez um investimento de 20 milhões de dólares para modernizar a infraestrutura da cidade. Medidores inteligentes estão instalados em 18 000 usuários de água e em 1 000 usuários de energia da distribuidora Burbank Water and Power.

Como forma de amenizar o problema de escassez de água da cidade de Kalgoorlie, na Austrália, foi instalada uma infraestrutura de rede que alcança mais de 31 000 metros de extensão em adutoras de água para monitorar a rede de distribuição, identificar vazamentos e fazer um planejamento que permita a divisão da demanda da melhor forma possível. É consenso entre os especialistas que a incorporação de redes inteligentes nas cidades é um caminho longo, mas sem volta. “Os medidores tendem a ficar mais baratos e as redes de comunicação mais velozes. Apesar de ser um processo lento, a evolução é natural”, diz Délberis Lima, da PUC-Rio. E, assim, as cidades se tornarão cada vez mais eficientes, mesmo quando crescerem desordenadamente.

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