Twitter: conta no microblog - obrigatoriamente pessoal, com o nome e o rosto do político, e jamais do seu “Palácio” ou “Prefeitura” - é um espaço de exercício de personalidade (Leon Neal/AFP)
Claudia Gasparini
Publicado em 4 de outubro de 2013 às 11h00.
São Paulo - Dilma Rousseff está de volta ao Twitter. A retomada da conta oficial no microblog da presidente, inativa há quase três anos, faz parte de uma estratégia para melhorar a comunicação digital do governo federal. O objetivo é, a um só tempo, fazer-se mais presente na rede - uma necessidade sentida sobretudo após as manifestações de junho - e preparar-se para as eleições de 2014.
O microblog não é a única mídia social em que Dilma está investindo. Recentemente, tuítes da governante também anunciaram uma reformulação de sua página oficial no Facebook, uma conta do Palácio do Planalto no Instagram e um novo portal para comunicação com o governo federal. Mas é inegável a importância central do perfil no Twitter para a estratégia de comunicação da presidente.
Importância essa que está longe de passar despercebida por outras figuras políticas brasileiras. Comparada a Barack Obama, a ex-senadora Marina Silva articulou habilmente sua presença nas mídias sociais para conquistar projeção nas eleições presidenciais de 2010, com ênfase no Twitter. Mesmo fora do poder, Marina segue recorrendo ao microblog para mobilizar adeptos e realizar movimentos políticos. Para citar o exemplo mais recente, a ex-senadora convocou esta semana um “tuitaço” para pressionar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a aprovar o registro do seu partido, o Rede Sustentabilidade.
Essa tendência pode ser generalizada. Sem exagero, é válido afirmar que o Twitter é a mídia social favorita dos políticos do continente americano: dos 15 políticos mais seguidos do planeta, 10 são provenientes das Américas.
O presidente dos Estados Unidos e autor do tuíte mais compartilhado de todos os tempos, Barack Obama, é o governante mais acompanhado no microblog, com mais de 37 milhões de seguidores. O perfil de Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela, é o 3º mais popular do mundo, mantendo sua base de 4,2 milhões de seguidores mesmo após a morte do político em março de 2013. Os presidentes latino-americanos Cristina Kirchner, da Argentina, Enrique Peña Nieto, do México, e Juan Manuel Santos, da Colômbia, também figuram na lista dos 15 políticos mais seguidos no Twitter. Dilma Rousseff aparece em 13º lugar, acompanhada por 1,9 milhões de pessoas.
Mas o que explica a popularidade das mídias sociais, e em particular do Twitter, entre os políticos das Américas?
Antes de tudo, a resposta passa pelo fato de que aqui predominam tanto populações jovens - as mais familiarizadas com as novas tecnologias - quanto regimes democráticos. Entre outras explicações possíveis, essa combinação certamente contribui para a criação de um ambiente favorável à intersecção entre política e mídias sociais de forma geral.
A partir desse ponto, também podemos refletir sobre oportunidades especificamente trazidas pelo Twitter para quem está - ou quer estar - no poder.
Uma conta no microblog - obrigatoriamente pessoal, com o nome e o rosto do político, e jamais do seu “Palácio” ou “Prefeitura” - é um espaço de exercício de personalidade. Isso é extremamente importante em tempos de internet. Com a rede e as mídias sociais, começou-se a esperar algo que nunca foi tão cobrado das figuras públicas: a sensação da sua presença.
Os tuítes de um governante são uma representação por excelência da sua proximidade no dia a dia das pessoas. Superamos há muito tempo a fase de mandar cartas para algum órgão de comunicação oficial, torcendo para obter alguma resposta. Hoje queremos sentir que conhecemos pessoalmente nossos representantes, a ponto de os chamarmos pelo nome, de cobrá-los e elogiá-los diretamente. É aí que cabe a pergunta: quantas outras formas de comunicação são tão naturais e intimistas quanto um tuíte?
A cerca de um ano das eleições presidenciais, os políticos brasileiros começam a se aquecer para a disputa. A proporção direta entre menções no Twitter e sucesso nas eleições foi demonstrada por estudos recentes. Já tendo testemunhado a contribuição das mídias sociais para a ascensão de Marina Silva em 2010, essa correlação chega a ser quase intuitiva para os brasileiros.
O Twitter pode servir como um palanque com capacidade infinita de espectadores. Qualquer que seja o resultado das eleições, 2014 será um ano de vitória para quem souber trabalhar sua estratégia nesse ambiente, ganhando a confiança dos eleitores e reforçando sua presença na esfera pública aos poucos, de tuíte em tuíte.