TikTok: aplicativo foi banido na China sob a alegação de problemas de privacidade (Getty Images/Getty Images)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 29 de junho de 2020 às 17h39.
Última atualização em 9 de julho de 2020 às 13h26.
Em uma decisão histórica no mercado de tecnologia e alegando motivos de segurança nacional, o governo da Índia resolveu proibir o uso de aplicativos chineses no país. Entre eles, estão serviços que se tornaram populares no Brasil, como a rede social TikTok, o gerenciador de arquivos ES File Explorer e programas de edição da fabricante chinesa Xiaomi.
Essa é a primeira vez que o governo indiano ordenou a proibição de tantos aplicativos de uma só vez. Dos 59 apps, 27 deles foram os 1.000 programas mais populares para Android em maio. Conforme reportado pelo TechCrunch, especialistas em segurança virtual da Índia afirmaram que identificarem muitas “representações de cidadãos sobre segurança de dados e violações de privacidade, impactando questões de ordem pública”.
Segundo autoridades indianas, os aplicativos chineses podem ser utilizados para obter dados dos usuários indianos. A justificativa oficial é de ameaças “à segurança nacional e à defesa da Índia” e que esses programas “acabam colidindo com a soberania e a integridade". Com cerca de metade de sua população de 1,3 bilhão de pessoas conectada à internet, a Índia é o segundo maior mercado digital do planeta.
A polêmica afeta diretamente os negócios de diferentes companhias. O TikTok deixa de oferecer sua plataforma para 200 milhões de usuários indianos. A Xiaomi superou a Samsung pela oitava vez seguida na venda trimestral de smartphones no país. A plataforma de e-commerce chinesa Club Factory tem 40 milhões de usuários na China, mais da metade do total de 70 milhões de clientes.
Se atrapalha as empresas chinesas, a proibição indiana abre ainda mais espaço para que empresas de outros países, principalmente americanas, se beneficiem de uma nova demanda criada. O TikTok é o atualmente o principal rival dos aplicativos Instagram e Snapchat. No varejo, a Amazon terminou 2018 com 30% de participação nas vendas por comércio eletrônico no país, segundo a consultoria RBC Capital Markets.
No caso do Instagram, a maior rede social de fotos e vídeos do planeta e que pertence ao Facebook, conta com cerca de 88 milhões de usuários na Índia, seu segundo maior mercado no mundo, na frente do Brasil com 82 milhões de internautas e atrás de Estados Unidos com 120 milhões de usuários. Os dados são da consultoria alemã Statista.
Ao TechCrunch, Tarun Pahak, analista da consultoria Counterpoint, afirmou que a decisão vai impactar um a cada três usuários de smartphones no país. Dados do último mês repassados pela consultoria mostram que os aplicativos banidos somaram mais de 500 milhões de usuários mensais na Índia.
O escrutínio digital protagoniza o mais novo capítulo na problemática relação entre os dois países recentemente. Duas potências nucleares, Índia e China entrarem em confronto direto na região do Himalaia há algumas semanas. Pela primeira vez em 45 anos, um incidente deste tipo deixou fatalidades. Foram pelo menos 20 indianos mortos e um número desconhecido de óbitos chineses.
Em nota enviada após a publicação desta reportagem, o TikTok informou que "embora o governo da Índia tenha emitido uma ordem provisória para bloquear 59 aplicativos, a equipe da ByteDance, de cerca de 2.000 funcionários na Índia, está comprometida em trabalhar com o governo para demonstrar nossa dedicação à segurança do usuário e nosso compromisso com o país em geral".
*Esta reportagem foi atualizada para incluir o posicionamento do TikTok