Justiça: empresas enfrentam problemas constantes no Brasil (Brent Lewin/Bloomberg)
Lucas Agrela
Publicado em 1 de março de 2016 às 18h34.
São Paulo – Não é raro ver Facebook e WhatsApp encrencados com a Justiça brasileira. No ano passado, o app de mensagens foi bloqueado, deixando seus 100 milhões de usuários no país sem poder conversar com seus contatos – e até algumas pessoas da Argentina foram afetadas.
Hoje, Diego Dzodan, vice-presidente do Facebook para a América Latina, foi preso preventivamente em São Paulo. O motivo, segundo a rede social, é a desobediência quanto à entrega de dados para a Justiça sobre um caso envolvendo o WhatsApp.
Mas por que acontecem problemas judiciais com as duas empresas com tanta frequência no Brasil?
Segundo o Facebook, o WhatsApp e fontes consultadas por EXAME.com, os motivos são dois e tudo não passa de um mal-entendido da Justiça.
O WhatsApp não armazena os dados de conversas entre usuários em seus servidores. Eles são mantidos somente nos smartphones das pessoas. É por isso, por exemplo, que o WhatsApp Web – versão do app para computadores – requer que o aparelho esteja por perto.
"Nós apenas mantemos as mensagens até que elas sejam entregues. A partir da entrega, elas existem apenas nos dispositivos dos usuários que as receberam", informou o WhatsApp.
A segunda razão é que o WhatsApp não tem sucursal no Brasil. Isso não torna o Facebook responsável pelo que acontece na outra empresa. "O WhatsApp e o Facebook operam de forma independente", garante a dona do app de mensagens mais popular do mundo, com 1 bilhão de usuários ativos mensalmente.
Uma ordem judicial precisa ser devidamente comunicada, entregue ao cliente por meio da via de cooperação internacional com os Estados Unidos. Dessa maneira, a empresa receberá a ordem corretamente.
No entanto, os termos de serviço do WhatsApp impossibilitam a empresa de colaborar com a Justiça quando o pedido é oferecer dados de conversas entre usuários de seu aplicativo.
A companhia ressalta que a prisão preventiva do VP do Facebook para a América Latina, realizada hoje pela Polícia Federal é "com base em dados que não existem".
Muitos advogados demonstravam repúdio à prisão preventiva de Dzodan. No entanto, Maristela Basso, professora de direito internacional da faculdade de direito da USP e advogada associada do Nelson Wilians e Advogados Associados, tem uma opinião contrária.
“Os dados são protegidos e só podem ser revelados por decisão judicial. Estas são as regras do jogo. Quem usa o aplicativo deve saber que a Justiça pode requisitar essas informações à empresa. Quem administra o aplicativo deve manter os dados porque a Justiça também pode solicitá-los. O que está em vigência no Brasil, a exemplos dos demais países, é o Marco Civil da Internet, que manda preservar os dados e revelar apenas se a Justiça requisitar. Empresa que está no Brasil deve seguir as leis brasileiras”, disse, em nota, Maristela.
Já Adriano Mendes, advogado e especialista em direito digital no escritório Assis e Mendes, acredita que a Justiça não tenha agido corretamente. "Aqui, ao invés de entendermos a tecnologia, preferimos punir quem a desenvolve ou represente ao invés de buscar provas e concentrar os esforços contra as pessoas que realmente cometeram crimes", declarou Mendes.
"Tecnicamente considerando que os servidores estão em outro país e que o Brasil é signatário de acordos internacionais como o MLAT [acordo de cooperação penal internacional], qualquer ordem policial deveria ser enviada através deste procedimento ao exterior, ao invés de serem expedidas apenas no Brasil com citação dos representantes do Facebook no Brasil", finaliza o advogado.
Um porta-voz do WhatsApp consultado por EXAME.com explicou que o ato de não armazenar dados nos servidores da empresa é uma medida em prol da segurança dos usuários. "Dessa maneira, se houver um vazamento de dados, as informações das conversas das pessoas estarão protegidas nos smartphones delas", declarou o porta-voz, que disse também que a empresa está criptografando todo o tráfego de dados na troca de mensagens.