Mosquitos da dengue: pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) encontraram três espécies que inibem a replicação do vírus da dengue (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr)
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2014 às 16h03.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2019 às 14h36.
Aquidauana (MS) - Num acervo de 4.400 plantas coletadas no Pantanal Mato-Grossense, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) encontraram três espécies que inibem a replicação do vírus da dengue. Os extratos vegetais foram testados em células infectadas com os vírus dos tipos 2 e 3. A pesquisa caminha agora para nova fase, a de testes em animais, para avaliar a toxicidade.
O trabalho tornou-se possível por causa de uma estratégia que tomou fôlego nos últimos cinco anos na Fiocruz - a de descentralizar as atividades e fazer ciência no interior do país, tirando proveito das diferenças regionais.
A Fiocruz já está em nove estados, além do Rio de Janeiro - Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Amazonas, Rondônia, Ceará, Mato Grosso do Sul e Piauí. Está em negociação a abertura de um polo no Rio Grande do Sul.
No Mato Grosso do Sul, os trabalhos dividiram-se em várias linhas de pesquisa - da saúde indígena à busca por novas moléculas a partir da flora local, além da formação de mão de obra. O diretor da Fiocruz-MS, Rivaldo Venâncio da Cunha, diz que a primeira etapa do trabalho em Campo Grande foi identificar as instituições que poderiam ser parceiras da fundação.
"Não vamos repetir o que eles já estão fazendo. A história não começa com a chegada da Fiocruz". Nessa busca por parceiros, chegaram à Universidade Anhanguera-Uniderp, onde o curso de agronomia já tinha catalogado 4 mil plantas do Pantanal Mato-Grossense.
Ao testar as possibilidades terapêuticas das plantas, os pesquisadores chegaram a três famílias capazes de inibir a replicação do vírus da dengue. Uma delas teve atividade fenomenal. "Vamos tentar sintetizar a molécula e testar em modelo vivo", disse a pesquisadora Jislaine Guilhermino. As Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram escolhidas como prioritárias por causa de vazios de desenvolvimento de ciência e tecnologia, diz o presidente da instituição, Paulo Gadelha.
Tecnologia
Se no início do século 20 cientistas como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e Artur Neiva deixavam o Rio para desbravar o país e desvendar as doenças que assolavam os cantos mais distantes, hoje o que se tem é investimento em tecnologia de ponta.
Como a que é levada para o Ceará. A Fiocruz começará a construir no Polo Tecnológico de Euzébio a primeira plataforma para a produção de remédios biológicos a partir de células vegetais. O processo de produção a partir da extração vegetal é uma novidade no País.
A tecnologia garante mais segurança do que os remédios produzidos a partir de vírus e bactérias - geram menos efeitos colaterais. Requer ainda menos investimentos. Vamos usar a célula do tabaco para expressar a proteína do envelope do vírus da vacina da febre amarela, exemplifica o presidente do Conselho Político e Estratégico de Bio-Manguinhos, Akira Homma.
A fábrica também produzirá medicamentos para doenças raras, como a de Gaucher. O remédio será fabricado a partir da célula da cenoura.