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Pesquisadores isolam efeitos nocivos da maconha

O potencial terapêutico dos compostos derivados da 'cannabis sativa' são de grande interesse para o tratamento de diversas doenças

Pesquisadores poderão comprar cannabis dos produtores autorizados pelo Instituto de Regulação e Controle de Cannabis (IRCCA), ou poderão solicitar ao órgão autorização para produzirem eles mesmos (Pablo Porciuncula/AFP)

Pesquisadores poderão comprar cannabis dos produtores autorizados pelo Instituto de Regulação e Controle de Cannabis (IRCCA), ou poderão solicitar ao órgão autorização para produzirem eles mesmos (Pablo Porciuncula/AFP)

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Da Redação

Publicado em 9 de julho de 2015 às 16h24.

Barcelona - Pesquisadores espanhóis conseguiram dissociar os efeitos prejudiciais da maconha, como a perda de memória, de suas propriedades analgésicas, o que abre um novo caminho para desenvolver fármacos com a cannabis.

A pesquisa, dirigida pelo chefe do Laboratório de Neurofarmacologia do Departamento de Ciências Experimentais e da Saúde (CEXS) da Universidade Pompeu Fabra (UPF), Rafael Maldonado, com participação da pesquisadora do Instituto Hospital do Mar de Pesquisas Médicas (IMIM), Patricia Robledo, foi publicada nesta quarta-feira pela revista "PloS Biology".

Maldonado explicou que o potencial terapêutico dos compostos derivados da 'cannabis sativa' são de grande interesse para o tratamento de diversas doenças, mas seus efeitos psicoativos, especialmente as alterações que estas substâncias produzem em nível cognitivo, limitam o desenvolvimento de novos remédios baseados na planta.

Esta pesquisa mostrou em um ensaio com ratos que é possível dissociar determinados efeitos terapêuticos dos canabinóides de seus principais efeitos indesejáveis, e identificou novas terapêuticas no sistema nervoso central que permitirão projetar novos remédios.

A pesquisa revelou que em determinadas estruturas cerebrais as moléculas responsáveis pelos efeitos psicoativos dos canabinóides, os receptores CB1, formam heterômeros (unidades de dois receptores diferentes) com receptores de tipo serotonérgicos 5HT2A, que são também alvo de grande interesse terapêutico.

"Estes heterômeros são responsáveis por alguns dos efeitos psicoativos dos canabinóides e, mais concretamente, das alterações cognitivas, da ansiedade e dos efeitos relacionados à conduta social induzida por estas substâncias psicoativas", detalhou Maldonado.

"A interação entre os dois sistemas de receptores já estava descrita, mas o mecanismo não era conhecido", especificou Patricia Robledo.

Segundo a pesquisadora, o mecanismo "se baseia no fato de que os dois receptores estão nas mesmas estruturas do cérebro, a ativação do receptor de serotonina 5HT2A libera um tipo de endocanabinóide, e a perda do receptor CB1 em ratos interrompe a atividade relacionada à serotonina no córtex pré-frontal do cérebro".

Por outro lado, os receptores CB1 monoméricos, sem acoplarem os receptores serotonérgicos, são os responsáveis por algumas ações terapêuticas induzidas pelos canabinóides, como seus efeitos analgésicos.

Assim, os pesquisadores demonstraram que é possível obter respostas analgésicas dos canabinóides e, ao mesmo tempo, evitar os efeitos indesejados sobre a memória mediante o uso de peptídeos bloqueadores que atuam interferindo e dissociando os receptores CB1 dos heterodímeros.

Segundo Robledo, "um dos efeitos do principal ingrediente psicoativo da maconha é a deterioração da memória, o que limita o uso médico desta substância para a dor, as náuseas e a ansiedade".

Maldonado concluiu que "a descoberta destes heterodímeros e o benefício de evitar sua formação abre novas possibilidades para desenhar ferramentas farmacológicas que permitam desenvolver um uso terapêutico dos canabinóides sem os principais efeitos adversos psicoativos destas substâncias". 

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