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Pesquisa analisa presença estrangeira na construção de SP

Em 4 anos de estudos, projeto contribuiu para a compreensão da relação entre os estrangeiros e as transformações ocorridas na capital paulista desde o século 19

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2012 às 16h04.

São Paulo – Ao longo de quatro anos, um grupo interdisciplinar de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) realizou um amplo estudo com o objetivo de compreender, a partir da presença estrangeira em São Paulo, os processos de transformação física, demográfica, econômica, social e cultural ocorridos na cidade a partir do século 19.

O Projeto Temático “São Paulo: os estrangeiros e a construção das cidades”, coordenado pela professora Ana Lucia Duarte Lanna, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, teve a participação de pesquisadores do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU), da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e do Museu Paulista (MP) da USP.

Segundo Lanna, as pesquisas procuraram abordar a presença estrangeira na capital paulista a partir de sua diversidade de formas – imigrantes, viajantes, visitantes, residentes, nativos ou “eternos estrangeiros” – na heterogeneidade dos modos de viver, descrever e simbolizar o outro.

“O projeto se propôs a evitar a multiplicidade de experiências que constitui o estrangeiro como categoria sociocultural à figura clássica do imigrante, que é normalmente associada à explicação dos processos de modernização das grandes cidades americanas”, disse Lanna à Agência FAPESP.

“Partimos da figura do estrangeiro, mais ampla, com maior heterogeneidade de inserções e experiências, para tentar compreender como a cidade se transforma a partir dessa multiplicidade de encontros possíveis”, disse.


O projeto considerou os estrangeiros também em relação ao universo do trabalho. Os temas de investigação foram articulados em duas linhas de pesquisa: “A transformação dos bairros centrais, a construção de territórios, redes e identidades” e “A transformação dos campos profissionais: práticas, redes, atores e circulação de saberes”.

“As pesquisas incluíram desde estudos sobre trabalhadores italianos, judeus e japoneses até a vinda de intelectuais, artistas, arquitetos e urbanistas. Essa ampla gama de tipos profissionais e nacionalidades, com inserções e tempos de permanência muito variados, permitiu problematizar melhor essa relação que é muito importante para a cidade de São Paulo”, disse Lanna.

As reflexões realizadas sobre os vários grupos de estrangeiros e os aspectos relacionados aos trabalhos foram associadas a outros recortes, abordando categorias como bairro, território e sociabilidade.

O projeto também teve a preocupação de salvaguardar parte dos acervos com os quais os pesquisadores trabalharam, que estavam sob a guarda da FAU e do MP. Uma das principais propostas do projeto consistiu em elaborar um banco de dados que pudesse formar uma plataforma disponível para outros estudos futuros, com as mais variadas abordagens. O banco de dados foi elaborado com base na experiência com catalogação e sistemas de busca por descritores desenvolvidos no Museu Paulista e coordenado pela professora Solange Lima, do MP.

“Grande parte do material – incluindo projetos arquitetônicos e decorativos, plantas, fotografias e mais de mil mapas da cidade de São Paulo, das coleções de arquitetos e fotógrafos estrangeiros – foi tratado e selecionado. Boa parte foi digitalizado”, disse Lanna.


Para que a consulta do banco de dados fosse mais ágil, seu conteúdo foi adaptado e disponibilizado no site http://estrangeiros.fau.usp.br. “O banco de dados continuará sendo alimentado com outras informações ou pesquisas que surjam como desdobramento do Projeto Temático”, disse.

Sentido de ser estrangeiro

O banco de dados disponibiliza também referências a artigos escritos por estrangeiros ou que tratam da presença estrangeira no país, publicados na Revista de Cultura Anhembi, na Revista do Arquivo Municipal e na Revista Sociologia. Além de toda a documentação, várias das pesquisas realizadas no Projeto Temático utilizaram entrevistas.

O site apresenta também uma seção focada em bairros que congregam múltiplos personagens estrangeiros e foram os locais privilegiados de pesquisa. Os bairros do Bom Retiro e Bexiga são intensamente explorados.

“No Temático, nos preocupamos em tentar compreender a construção dos territórios da cidade mais marcados pela presença de estrangeiros. A análise dessas áreas nos permitiu compreender como a presença estrangeira contribuiu para a produção do espaço urbano paulistano”, afirmou Lanna.

Outro produto do Projeto Temático, além do banco de dados e do site, foi o livro São Paulo, os estrangeiros e a construção da(s) cidade(s), publicado pela editora Alameda, com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.

Além de Lanna, participaram da organização da obra Fernanda Arêas Peixoto, professora do Departamento de Antropologia da FFLCH-USP, José Tavares Correia de Lira e Maria Ruth Amaral de Sampaio, ambos professores da FAU-USP.


A obra foi resultado de um dos seminários internacionais realizados no âmbito do projeto e teve a participação de todos os pesquisadores envolvidos com ele, além de vários autores convidados.

“O livro apresenta a discussão sobre São Paulo, mas não se restringe a ela, porque alguns dos convidados trabalhavam com a reflexão sobre a relação entre os estrangeiros e as cidades em outros contextos”, disse Lanna.

Um segundo livro, que deverá ser lançado ainda em julho, abordará a relação entre o estrangeiro e a cidade com foco na questão dos deslocamentos e está sendo organizado por Sarah Feldman, Paulo Gracez, Cristina Leme e Fernanda Torres.

“Os estudos que serão apresentados nesse livro tiveram o objetivo de compreender o sentido de ser estrangeiro e, para isso, é importante avaliar como ele veio ao Brasil, como escolheu o país e a relação estabelecida entre o lugar de origem e o destino”, disse Lanna.

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