Marz Zuckerberg se desculpa no Parlamento Europeu por vazamento de dados (ReutersTV/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de maio de 2018 às 19h11.
O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, reiterou seu perdão no Parlamento Europeu, em Bruxelas, nesta terça-feira (22), bem como fez no Congresso americano, pelas falhas cometidas pela rede social na proteção de dados de seus usuários, mas não conseguiu convencer os europeus.
"Ficou evidente, nos últimos dois anos, que não fizemos o suficiente para impedir que as ferramentas que criamos também fossem usadas para fins prejudiciais", declarou Zuckerberg diante dos líderes dos grupos parlamentes e de seu presidente, Antonio Tajani, entre outros.
O empresário americano se referiu assim tanto ao mau uso dos dados pessoais por parte de empresas, quanto à desinformação ou a ingerência estrangeiras em processos eleitorais. "Foi um erro, desculpem-me", reconheceu Zuckerberg, no início da sessão de cerca de 90 minutos.
Seu novo "mea culpa" pelo escândalo da Cambridge Analytica, que provocou uma onda de inquietação pelo uso de dados pessoais de milhões de usuários do Facebook, não convenceu os presentes, como Manfred Weber (PPE, de direita), para quem elenão deu garantias de evitar que isso se repita.
Para o líder do principal grupo parlamentar, Zuckerberg "não prometeu nada mais do que já prevê a legislação europeia de proteção de dados". "Isso não é suficiente", acrescentou.
Segundo números fornecidos pelo Facebook à Comissão Europeia, os dados de "até 2,7 milhões" de europeus podem ter sido transmitidos "de maneira inapropriada" à Cambridge Analytica, envolvida na campanha presidencial de Donald Trump.
A empresa britânica utilizou dados pessoais de milhões de usuários do Facebook na campanha eleitoral dos Estados Unidos, o que obrigou o magnata de 34 anos a prestar contas ante ao Parlamento Europeu.
"Como quer ser lembrado? Como um dos três gigantes da internet, ao lado de Bill Clinton e Steve Jobs? Ou como um gênio fracassado criador de um monstro digital que destrói nossas democracias?", indagou o influente eurodeputado liberal, Guy Verhofstadt.
Lembrando que a UE terá eleições em um ano, Zuckerberg destacou que uma de suas "prioridades" é evitar influências, como as russas. Por isso, espera lançar antes do verão boreal novas "ferramentas de transparência".
Sob pressão dos influentes eurodeputados, Zuckerberg aceitou que sua audiência fosse transmitida ao vivo na Internet. Os participantes demonstraram sua frustração pelo formato, que deixou algumas perguntas sem resposta.
"Ele se comprometeu a responder por escrito às perguntas" que ficaram no ar, defendeu em coletiva de imprensa posterior Tajani, que comemorou o "êxito" da reunião.
Max Schrems, ativista baseado em Viena e que levou aos tribunais europeus casos de defesa da privacidade online, considerou que "o Parlamento Europeu [fez] o ridículo" com as "respostas sem sentido". "Promessas vagas", segundo os eurodeputados ecologistas Ska Keller e Philippe Lamberts.
A visita à Europa foi organizada para acontecer poucos dias antes da entrada em vigor, em 25 de maio, do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) europeu, que obriga os grupos que operam na Internet a adaptarem suas condições de uso às leis europeias.
O RGPD criará, ou fortalecerá, os direitos individuais e imporá obrigações rigorosas às empresas que coletam, ou processam, informações pessoais dos europeus onde quer que estejam estabelecidas.
Todas essas empresas e organizações que coletam dados, estejam elas presentes, ou não, na Internet, terão de cumprir as regras, ou enfrentar multas pesadas.
Essas regras incluem para os cidadãos o "direito de saber" quem lida com seus dados e para qual finalidade, bem como o direito de se opor a seu uso, principalmente para prospecção comercial.
Zuckerberg confirmou nesta terça que o Facebook espera cumprir a partir de sexta-feira, quando entra em vigor, este regulamento, que prevê sanções de até 20 milhões de euros ou de 4% de seu faturamento mundial anual para as empresas que não cumprirem.