fukushima (Reuters)
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2015 às 05h44.
Hiroshi Konno entende que as pessoas tenham medo de beber leite de Fukushima. Este criador de gado teve que abandonar sua fazenda após o acidente nuclear e quase quatro anos depois continua lutando para poder exercer o único ofício que sabe fazer.
Sua fazenda estava em Namie, a cidade onde nasceu e viveu toda sua vida, a apenas dez quilômetros da usina nuclear de Fukushima, castigada por um terremoto e um tsunami em 11 de março de 2011. A ordem de evacuação total não demorou a chegar, e sua família abandonou a cidade em 17 de março, embora Konno ainda tenha ficado por mais algum tempo por lá.
"Tinha que cuidar das minhas vacas. Essa era minha obrigação e responsabilidade", contou à Agência Efe este homem de 55 anos que reconhece que, embora fosse perigoso, vigiar os animais lhe dava paz.
Passados três meses, Konno vendeu suas 30 vacas leiteiras pela metade do que valiam e se juntou à família em uma cidade próxima onde vive desde então. Sua história é apenas uma entre as dos 76 criadores de gado que foram obrigados a deixar os arredores da usina após o acidente, dos quais somente 13 conseguiram voltar a atuar na área.
"A produção de leite caiu 80%", afirmou Nasahiro Oka, subdiretor de projeto Fukushima Agriculture Revitalizing Network (FAR-Net), responsável pela Fazenda Minero, perto de Fukushima. O projeto é administrado como uma cooperativa para que os criadores de gado expulsos pelo desastre nuclear possam seguir no ramo.
Logo após o acidente, o governo proibiu toda a venda de leite da região. A suspensão foi retirada um mês depois, mas para os consumidores ainda é difícil acreditar na pureza dos produtos que vêm de fazendas próximas à usina.
Oka garante que não há o que temer, já que os níveis que o leite produzido em sua fazenda registram não passam de 30 bequereis por litro, muito abaixo da medida de 100 bequereis estabelecidos pelo governo.
A cooperativa Minero, da qual vivem cinco criadores de gado retirados da região, incluindo Konno, começou com 45 vacas em outubro de 2012, a partir de uma doação da empresa francesa Danone. Agora, o grupo tem mais de 150 cabeças e produz 4,5 toneladas de produtos diariamente.
"Os preços caíram pela metade. Ganhamos menos do que antes, mas é suficiente para viver", disse Konno, que preferiu não usar sua aposentadoria e "viver de ajuda do governo".
Por enquanto, 70% do leite produzido na fazenda Minero fica na região e o restante é vendido para fora, mas diluído. O fértil campo de Fukushima, a terceira maior cidade em extensão do Japão, sofreu e segue sofrendo o estigma do acidente nuclear.
No ano anterior ao desastre, a produção agrícola foi de 260 bilhões de ienes (R$ 6.678.896), valor que reduziu em 30% no ano seguinte, segundo dados da Universidade de Fukushima. Os números vão melhorando, mas os preços continuam afundados.
"Sem dúvida os produtos continuam com reputação ruim entre os consumidores. Nos mercados, a carne, as frutas e as verduras daqui continuam muito mais baratas do que o restante, apesar dos rigorosos controles", conta à Agência Efe Satoru Mimura, responsável pelo "Centro para o Futuro Regional" da Universidade de Fukushima.
Os agricultores e pecuaristas fazem um enorme esforço para garantir a segurança e já conseguiram com que produtos como o arroz superem todos os controles de níveis de radiação implantados após a crise nuclear de 2011.
Embora o estigma da radiação e o abandono das terras continuem sendo um grande desafio para a região, o professor se mostra otimista.
"Além de trabalhar muito na segurança, apostamos no aumento da qualidade e no cultivo de produtos orgânicos. Isto pode fazer com que os consumidores voltem a usar os produtos de origem Fukushima", afirma ele, em tom esperançoso.