O Brasil tem mais de 67 milhões de "gamers". (adamkaz/Getty Images)
“PC da crise” é o nome dado, de brincadeira, pelos aficionados por jogos para uma máquina capaz de rodar os últimos lançamentos custando o mais barato possível. Para montá-lo, o hardware embarcado provavelmente será composto por algumas peças obsoletas que, no passado, tinham recursos que garantiram um bom desempenho e passagem pelos anos.
Tal improviso técnico ajuda os consumidores a driblar os preços do setor que depende da importação e que foi afetado pela desvalorização do real e pela alta demanda global por eletrônicos, alterando alguns valores em até 110% em relação ao ano passado.
E o local encontrado para conseguir as melhores pechinchas são os sites de compras da China, como o AliExpress e Alibaba, que vendem direto dos fabricantes, e, para os que arriscam mais, fornecem peças de segunda mão, muitas vezes reparadas e revendidas para países mais carentes de componentes.
Um dos itens preferidos dos brasileiros são os processadores Xeon da Intel, que foram criados para o uso em data centers e por isso, mesmo quando são modelos de 10 anos atrás, conseguem ter potência suficiente para rodar os games modernos.
Para se ter uma ideia, um kit que inclui placa mãe, processador Xeon, e as memórias rams de 16 gigabytes, sai por 732 reais no AliExpress. Em itens do mercado nacional, não equiparáveis em potência, mas que rodam os mesmo jogos, o preço mínimo está na casa 1500 reais, em pesquisa feita no Mercado Livre.
Contudo, não são apenas estes itens que precisam estar na lista para a máquina funcionar. Se colocar no carrinho a fonte, gabinete, memória, resfriamento e as desejadas placas de vídeo, no Brasil, a compra passa dos 5 mil reais. Já com a importação da China e exceções para marcas desconhecidas, é possível deixar a fatura em 2 mil reais (em cotação usando o processador Xeon 2640 e placa de vídeo Nvidia Gtx 750 ti e sem levar em conta os periféricos).
Mesmo assim, deve-se levar em conta o risco de taxação. Qualquer compra declarada acima de 50 dólares tende a agregar o valor dos impostos. Até 3 mil dólares, a taxa é de 60% sobre o valor aduaneiro (produto + frete + seguro). Logo, os vendedores chineses sabendo do 'jeitinho brasileiro' para as negociações já logo incluem nas decrições dos produtos que, em alguns casos, aceitam declarar a venda por valores mais baixos.
E faz sentido que se esteja recorrendo a uma jornada de compra mais longa e que envolve a falta de garantias e a proteção ao consumidor do mercado nacional. Com a pandemia, os games se tornaram uma alternativa de entretenimento e diversão dentro de casa. Prova disso é que as transações financeiras feitas nas principais plataformas e consoles de jogo cresceram 140% em 2020 ante 2019, segundo um estudo feito pela bandeira de cartões Visa.
Segundo a companhia, também foi registrado um aumento de 105% na quantidade de cartões realizando compras de jogos ou extensões entre outubro de 2019 e setembro de 2020.
A Kabum!, uma das principais varejistas do setor, na tentativa de mitigar a concorrência do exterior, lançou um cartão específico para o público que gosta de jogos. Com parcelamento de até 24 vezes, a ideia é que seja possível comportar e pagar os preços altos dos hardwares sem comprometer a fatura de um cartão usado no cotidiano.
"Notamos que uma parcela expressiva de consumidores posterga ou fraciona suas compras por falta de crédito. A ideia do cartão KaBuM! surgiu para viabilizar e agilizar o acesso a produtos de alta tecnologia, facilitando a aquisição dos itens que nossos clientes precisam ou desejam”, conta Leandro Ramos, CEO do KaBuM!.
No entanto, ainda se trata de uma compra destinada a poucos. Em um mapeamento feito pela Visa, são os clientes de alta renda que mais gastaram com jogos: 45% das transações entre abril e setembro do ano passado vieram deles. No mês de setembro, inclusive, houve uma alta de 35% nas transações desses consumidores em relação ao ano anterior. Mesmo quando o preço cai de 5 mil reais para 2 mil, gastar próximo de dois salários mínimos com games não é pra qualquer um.
Quais são as tendências entre as maiores empresas do Brasil e do mundo? Assine a EXAME e saiba mais.