Tecnologia

Para tornar Gmail seguro, Google pode criptografar mensagens

Empresa estaria tentando facilitar o uso de ferramentas de encriptação de dados mais complexas no serviço

Gmail: ideia do Google seria, aparentemente, dificultar ainda mais o trabalho da NSA, agência nacional de segurança dos EUA (Fixthefocus/Flickr)

Gmail: ideia do Google seria, aparentemente, dificultar ainda mais o trabalho da NSA, agência nacional de segurança dos EUA (Fixthefocus/Flickr)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2014 às 15h44.

São Paulo - O Google parece mesmo estar levando a sério a segurança do Gmail. Depois de criptografar todo o tráfego de e-mails trocados, a empresa estaria tentando facilitar o uso de ferramentas de encriptação de dados mais complexas no serviço. A informação vem do VentureBeat, que a ouviu de uma fonte de dentro da companhia e cita o PGP (ou sistema parecido) como um desses programas.

Conhecido também como Pretty Good Privacy (ou “privacidade muito boa”, em tradução livre), o PGP é reconhecidamente um dos protocolos de criptografia ponta e ponta (“end-to-end”, no original em inglês, se preferir) mais difíceis de quebrar. O problema é que, apesar de incrivelmente seguro, o programa também não é dos mais fáceis de usar, como aponta o site – o que acaba afastando a grande maioria dos possíveis usuários, inclusive os do Gmail, com o qual atualmente é compatível.

A ideia do Google seria, aparentemente, dificultar ainda mais o trabalho da NSA, agência nacional de segurança dos EUA. O órgão, principal nome no escândalo de espionagem que veio à tona no meio do ano passado, tem no histórico a interceptação de dados e a invasão de servidores da companhia – o que deixou Eric Schmidt revoltado em novembro.

Caso venha a ser de fato implementado, o PGP agiria como uma segunda camada de proteção aos dados dos e-mails. Ele reforçaria a segurança provida pelo HTTPS, adotado como padrão nas comunicações do Gmail, e ainda poderia evitar que brechas como o Heartbleed tenham um efeito tão devastador como o visto na última semana.

Chaves de criptografia

Para os mais preocupados em segurança e privacidade, a notícia parece ótima. Algumas questões em relação a essa adoção do protocolo ficam no ar, no entanto. A principal delas, como bem aponta o The Verge, é sobre quem ficaria com as chaves de criptografia: os próprios usuários ou o Google?

Mas para entender melhor essa dúvida, é essencial saber como funciona o PGP e essa criptografia de ponta a ponta (end-to-end). Basicamente, a expressão indica que apenas os clientes (ou as "pontas", destinatário e remetente) conseguem decifrar o conteúdo enviado. Cada usuário tem duas dessas chaves mencionadas, sendo uma privada e outra pública. Enquanto a primeira fica guardada, a segunda é acessível pela outra "ponta", de forma a conseguir ler a mensagem recebida.


O primeiro cenário citado, portanto, seria o ideal, com os donos da conta "carregando" consigo a chave principal e entregando a chave pública para os contatos, que assim poderiam desencriptar o conteúdo do e-mail. O funcionamento, claro, seria parecido com o de apps de mensagem para Android, com os dois lados precisariando adotar o PGP para que isso seja possível – o Silent Text, criador pelo desenvolvedor do protocolo, é um bom exemplo.

Do contrário, a mensagem aberta fica ilegível para quem por acaso ganhar acesso a ela, mas não à chave, como seria o caso do Google – o texto visualizado não passaria de um monte de caracteres aleatórios. Mas precisamos lembrar que a empresa vive de publicidade, e e-mails criptografados não teriam utilidade. A companhia, então, apenas receberia os “pacotes” protegidos nos servidores para encaminhá-los a quem consegue decifrá-los, o que não geraria um retorno.

O problema é que, caso a empresa tenha em mãos as chaves e as mantenha guardadas, elas ficariam suscetíveis a vazamentos. Fora também que o governo poderia intimar o Google a entregar os códigos, mais ou menos como fez com o Lavabit, serviço de e-mail usado por Edward Snowden, mas hoje descontinuado.

A solução mais segura para o esse caso seria cara e pouco prática: de forma simplificada, envolveria adotar servidores “frios” – desconectado da web – para armazená-las, e transferir os e-mails para uma análise toda vez que fosse preciso gerar anúncios baseado no conteúdo das mensagens. Ela ainda não resolveria o segundo ponto, do governo, que só seria solucionável com as chaves longe das mãos do Google – o que gera um impasse.

Senhas

Outra dúvida em relação à adoção do PGP envolve as senhas: se as tais chaves de criptografia não ficarem nas mãos da empresa, o protocolo não permitirá dar um “reset” nas combinações – como acontece no Firefox Sync, por exemplo. Assim, usuários mais temerosos, que têm receio de um dia esquecer a palavra-chave para acessar o Gmail, podem hesitar em ativar o programa, qualquer que seja sua forma de implantação ao serviço de e-mail.

Como disse a Electronic Frontier Foundation (EFF) ao VentureBeat, será preciso ao Google destacar esse ponto no sistema aos usuários, de forma a impedir que os mais receosos – ou esquecidos – o adotem sem saber. Ou quem sabe ativar uma técnica de “key stretching” para deixar mais fortes mesmo as senhas mais fracas.

Mas claro, no final de tudo, ainda falta à empresa esclarecer se de fato trará o PGP ao Gmail. E em caso afirmativo, quando e como ele será aplicado – seria um plugin? Um recurso no e-mail? Um botão simples? INFO entrou em contato com o Google, e a nota será atualizada quando recebermos um posicionamento da empresa.

Acompanhe tudo sobre:E-mailEmpresasEmpresas americanasEmpresas de internetempresas-de-tecnologiaGmailGoogleNSAseguranca-digitalTecnologia da informação

Mais de Tecnologia

Meta lança aplicativo de edição de vídeo em meio a banimento do CapCut

Líderes de tecnologia acompanharam Trump em culto antes da posse presidencial

Meta pode sair ganhando com proibição do TikTok nos EUA

Cabos submarinos danificados na Europa foram resultado de acidentes, e não de sabotagem russa