Brad Smith: presidente da Microsoft acredita que limite para regulação da inteligência artificial seja 2025 (Chona Kasinger/Bloomberg via Getty Images/Getty Images)
Lucas Agrela
Publicado em 1 de maio de 2021 às 09h00.
Última atualização em 1 de maio de 2021 às 15h10.
Brad Smith, presidente global da Microsoft, acredita que o tempo é curto para regular a inteligência artificial no mundo para, ao mesmo tempo, proteger direitos como a privacidade e aproveitar o boom de crescimento que será oferecido pela tecnologia.
“Na segunda metade desta década, veremos aplicações práticas de inteligência artificial se espalhando muito rapidamente.Pagaremos um preço alto se falharmos na regulação. Vejo o debate sobre o tema na União Europeia algo importante para todo o mundo. O desafio é ter limites que não tornem a inovação morosa ou que reduzam a velocidade de adoção de tecnologias que serão transformadoras para determinados setores da economia. Por exemplo, a agricultura, um dos setores mais antigos do mundo, será transformada pela inteligência artificial”, afirmou Smith. “O ano de 2025 é um bom deadline para a regulação da inteligência artificial”, complementou o executivo.
O executivo falou sobre o tema nesta semana, quando participou de um debate online no YouTube com Ronald Lemos, especialista em direito digital, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e professor visitante na Universidade Columbia, nos Estados Unidos.
Smith também falou sobre a importância da regulação da privacidade na era dos dados, uma vez que os dados alimentarão algoritmos de inteligência artificial de diferentes aplicações, desde análises preditivas ao reconhecimento facial.
“A primeira coisa que penso sobre privacidade é o quanto as coisas podem ficar ruins quando algo dá errado. Acredito que o pior lugar onde isso aconteceu foi na Alemanha, durante a Segunda Guerra, com nazistas construindo um banco de dados de judeus. Essa história pode servir de exemplo e, ainda bem, não precisamos passar por aquele horror novamente para aprender com a situação. Na criação de uma legislação para privacidade na internet, o Brasil pode aprender com casos globais e locais. É importante usar esses casos para reconhecer que a privacidade é um direito humano e que ele precisa ser protegido”, disse o presidente da Microsoft.
Smith se opõe, por exemplo, ao monitoramento de locais públicos com câmeras que tenham tecnologia de reconhecimento facial, como o sistema de segurança pública da chinesa Huawei, usado no Brasil pelo governo da Bahia.
“Há muitos bons usos do reconhecimento facial que precisamos reconhecer, como para encontrar pessoas desaparecidas ou mesmo para desbloquear o celular e o computador. Mas essa tecnologia também é usada em câmeras em locais públicos. Como colocamos limites para ela? Sem limites, os direitos de privacidade das pessoas podem ser abusados. Uma das minhas preocupações é que isso possa ser usado para identificar os participantes de um protesto pacífico. Ou para abafar algum acontecimento”, afirmou Smith, que acredita na necessidade de ordem judicial para o acompanhamento de indivíduos com a tecnologia de reconhecimento facial.
Mesmo em um país com uma histórica falta de profissionais de tecnologia, Smith acredita que o Brasil tenha uma boa chance de ser um país importante na era dos dados. No entanto, além da questão da formação de profissionais, o desafio burocrático de abrir mais dados precisará ser vencido.
“O Brasil está muito bem posicionado para ser um líder global em inteligência artificial. A primeira coisa que precisa ser feita é usar os dados. Sem isso, não há como usar muito bem a inteligência artificial. Por fim, viveremos em um mundo onde a quantidade de dados que pode ser usada refletirá mais do que o tamanho de um país ou sua população. O Brasil pode liderar nisso, mas é preciso abrir mais dados. Nós, da Microsoft, buscamos mais aberturas de pontos de dados em países do hemisfério sul para que eles possam ser usados para resolver problemas da sociedade”, disse o executivo da Microsoft.
Além dos desafios de base de dados, uso ético da tecnologia e a necessidade da regulação, Smith também aponta como desafios para a adoção da inteligência artificial em ampla escala a responsabilização de máquinas que tomam decisões e a eliminação do viés humano da tecnologia.
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