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Para o Google, celulares simples vão conectar próximo bilhão de pessoas

Desacreditados, os celulares básicos ganham novo papel para conectar o mundo e têm até WhatsApp

David Shapiro: executivo lidera divisão do Google para conectar próximo bilhão de usuários à Internet (Google/Divulgação)

David Shapiro: executivo lidera divisão do Google para conectar próximo bilhão de usuários à Internet (Google/Divulgação)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 24 de julho de 2019 às 05h55.

Última atualização em 24 de julho de 2019 às 05h55.

São Paulo – David Shapiro é diretor de negócios no Google responsável pelo projeto global Next Billion Users, que tem como meta levar acesso à Internet ao próximo bilhão de pessoas. Para ele, os celulares simples serão importantes para essa ambiciosa missão.

Segundo a consultoria chinesa Counterpoint Research, a previsão de vendas globais de celulares básicos com acesso à Internet é de mais de 84 milhões de unidades, quatro vezes mais do que em 2017. O sistema operacional KaiOS dá novo fôlego a esses dispositivos. Ele é uma nova encarnação do sistema FirefoxOS, que não deu certo. Baseado no Linux, o sistema funciona em dispositivos com pouca memória RAM e tem até aplicativo dedicado do WhatsApp. Apesar de não ser dona, a empresa onde trabalha Shapiro investe no KaiOS.

Em entrevista a EXAME, Shapiro fala sobre as estratégias para conectar pessoas à Internet, como o Google Station, que tem pontos de Wi-Fi grátis na cidade de São Paulo; o desenvolvimento de conteúdos dedicados para cada mercado; e a aposta nos celulares simples para oferecer acesso à rede. Confira os melhores trechos da conversa a seguir.

EXAME: A missão de levar o acesso à Internet a novos públicos pelo mundo é muito nobre. Mas o que o Google ganha, como negócio, ao ajudar a trazer novas pessoas para a Internet?

David Shapiro: A missão do Google é organizar as informações do mundo e torná-las universalmente acessíveis e úteis. Para nós, da equipe da divisão de Next Billion Users, parece que a questão da universalidade de acesso ainda não estava bem atendida. Por isso esse grupo foi formado na empresa. Garantimos que as pessoas tenham acesso, por exemplo, a conteúdos de importância local ou a dados que podem ser consultados mesmo sem conexão com a rede. Quando as pessoas estão online, fazem o que amam. E, em muitos casos, elas estão usando produtos do Google, o que é ótimo.

 

Qual é a principal iniciativa do Google para prover acesso à Internet a novas pessoas?

O Google Station é importante para essa finalidade, mas a empresa tem muitos projetos para levar a rede ao redor do mundo. Quando pensamos em acesso à internet, em si, há o Wi-Fi. Mas podemos pensar, também, pelo ponto de vista do dispositivo móvel. Um projeto interessante é o sistema KaiOS, feito para funcionar em celulares básicos com conexão à internet. Esse sistema é baseado no Linux. O aparelho tem baixo custo para o consumidor e funciona como ponto de acesso à rede. [O Google investiu 22 milhões de dólares no sistema KaiOS em 2018]. Descobrimos ainda que o conteúdo local disponível no ambiente digital é muito importante, mesmo que as pessoas tenham acesso à internet com boa qualidade de sinal e ótimos dispositivos. Um exemplo de conteúdo local que criamos no Brasil, em Belo Horizonte, foi o aplicativo Files. Ele é um gerenciador de espaço no celular. Notamos que esse aparelho é o principal meio de acesso a serviços online e um dos problemas que os usuários enfrentavam era a constante falta de espaço na memória. Por isso, o Google criou esse app. Portanto, buscamos oferecer soluções para essas três frentes: Wi-Fi, dispositivo móvel e conteúdo relevante para o mercado local.

 

Como garantir que pessoas sem acesso à internet usarão os pontos de Wi-Fi do Google Station?

Esperamos que pessoas que o público seja composto por pessoas que acessam a web esporadicamente e também as pessoas que estão conectadas constantemente. Por isso escolhemos locais estratégicos para posicionar nossos pontos de Wi-Fi, como estações de metrô e parques. O Brasil é um mercado com grandes oportunidades para esse tipo de iniciativa. Observamos que, em outros países emergentes, as pessoas iam a estações de trem e permaneciam lá por até seis horas, não para se locomover, mas para usar a internet.

 

Qual é a velocidade média de internet dos pontos de Wi-Fi do projeto Google Station?

Depende de dois fatores: da congestão da rede e do roteador usado. Garantimos que a qualidade mínima seja o suficiente para transmitir vídeos via internet com resolução de 480p, como a de um DVD. Para dar flexibilidade aos nossos parceiros, nossa solução funciona em roteadores de alto e baixo desempenho.

 

Como o Google Station estimula a criação de novos pontos de Wi-Fi grátis pelo mundo?

O Google provê a plataforma de conexão e uma forma de monetizar o serviço de Wi-Fi gratuito com anúncios que são exibidos na página de login. Em cada mercado, procuramos um parceiro local para oferecer o sinal. No Brasil, a America Net, a Linketel e a Prefeitura de São Paulo têm pontos de Wi-Fi com essa nossa plataforma.

 

Analistas de mercado previam, no passado, o fim dos celulares básicos. Eles ainda são importantes para levar um novo público para a internet?

Com certeza. Antes, a aposta era que eles iriam desaparecer. Mas as vendas continuam em diversos mercados. É difícil de prever o futuro e dizer que essa tendência ainda vai durar.

 

O que vocês aprenderam ao analisar o uso de celulares básicos?

Muitas coisas. Por exemplo, nesses aparelhos, viemos que a voz é um recurso muito importante para a interação com a tecnologia. Em aparelhos simples, o Google Assistente, que atende a comandos de voz, é muito popular na Índia. Por isso, tentamos levar essa funcionalidade para todos os nossos aparelhos.

 

Como vocês fazem para que engenheiros que vivem em mercados com altos níveis de penetração de Internet e dispositivos móveis de alto desempenho consigam criar soluções para dispositivos de baixo desempenho e sinal fraco ou intermitente de Internet? Eles vivem em outra realidade.

Buscamos estar imersos nesse tipo de situação de limitação de acesso. Fazemos muitas viagens aos países do projeto para que a equipe teste nossas soluções em situações de mundo real. Em vez de ficarmos em hotéis e restaurantes luxuosos, tentamos nos hospedar no centro das cidades para ver como é usar os produtos do Google e a Internet nesses locais. Fazemos isso também no Brasil.

 

Os notebooks não são mais importantes para levar novas pessoas para a Internet?

Tipicamente, o que vemos em muitos países é que o smartphone se tornou não só o primeiro, mas o único ponto de acesso à Internet. A revolução da conexão virá do dispositivo móvel.

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