Repórter
Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 14h48.
Última atualização em 24 de janeiro de 2025 às 15h12.
Na paisagem industrial global, a América Latina frequentemente é vista como um mercado cheio de desafios e potencial inexplorado. Mas para a Epson, gigante japonesa de tecnologia e conhecida por fabricar impressoras, a região já se consolidou como um dos pilares de sua operação global. E poucos países exemplificam essa aposta estratégica tão bem quanto o Brasil.
Em uma visita rara e simbólica, Yasunori Ogawa, CEO global da Epson, desembarcou no Brasil com a missão de reforçar a presença cultural de sua liderança. Acompanhado por Fábio Neves, vice-presidente de vendas e marketing da Epson América Latina, Ogawa visitou primeiramente a sede e parque industrial de São Paulo e depois partiu para outra agenda no México.
"O Brasil é um mercado essencial para nós. Diferentemente de regiões como Europa e Japão, onde vemos desaceleração econômica, a América Latina apresenta grande crescimento. Aqui, nossas atividades de vendas são intensas, e a receptividade dos consumidores aos nossos produtos é excelente", afirmou Ogawa, destacando que a América Latina responde por 11% das vendas globais da Epson, com o Brasil concentrando 33% desse total.
[caption id="attachment_5205482" align="aligncenter" width="1024"] Yasunori Ogawa: CEO global da Epson[/caption]No centro dessa estratégia está a fábrica brasileira da Epson, localizada em Barueri. É a única unidade de produção da empresa fora da Ásia, um feito que, segundo o CEO, reflete o compromisso de longo prazo da companhia com o mercado local.
"Essa fábrica é um marco. Além de produzir impressoras feitas por brasileiros para brasileiros, ela utiliza a mesma tecnologia de ponta das plantas asiáticas, mas com adaptações às demandas específicas do mercado local. Isso nos permite não apenas atender às necessidades do Brasil, mas também exportar inovação para outros mercados da América Latina".
A operação brasileira também se destaca por sua capacidade de inovação. Neves compartilhou um exemplo emblemático: a criação das impressoras para dye-sublimation, voltadas para o mercado têxtil, nasceu da observação de como empreendedores brasileiros utilizavam impressoras de tinta de maneira criativa para estampar tecidos. "Nossos engenheiros japoneses vieram ao Brasil há 12 anos, reconheceram essa solução e a transformaram em um produto global. Hoje, somos líderes no segmento de dye-sublimation, e a maior parte das estamparias brasileiras utiliza nossas máquinas".
Uma das maiores histórias de sucesso da Epson no Brasil é a linha de impressoras EcoTank. Lançada com o objetivo de atender a uma demanda dos consumidores por maior eficiência e menores custos, [grifar] a EcoTank eliminou a dependência dos cartuchos tradicionais de baixa capacidade, permitindo que usuários imprimissem mais e gastassem menos.
"Esse produto é resultado direto de nossa atenção à voz do cliente", explicou Ogawa. "Os brasileiros queriam uma solução que eliminasse o incômodo de trocar cartuchos constantemente, e a EcoTank entregou exatamente isso."
O impacto foi tão grande que a Epson conquistou 70% do mercado de impressoras residenciais no Brasil. Além disso, a tecnologia da EcoTank foi complementada por recursos inovadores, como o smart panel, que permite aos usuários imprimir diretamente de smartphones e dispositivos conectados como Alexa.
Ainda que no imaginário popular "gastar papel" signifique desperdício, tornar sua cadeia produtiva em algo sustentável é um dos pilares da estratégia da Epson, tanto no Japão quanto na América Latina. Ogawa relembra que a empresa, fundada em 1942, nasceu com um compromisso ambiental intrínseco: "Nosso fundador dizia que nossa produção nunca poderia poluir o Lago Suwa, que circunda nossa sede no Japão, em Nagano. Esse pensamento moldou nossa cultura empresarial."
Desde então, a Epson foi pioneira em práticas como a abolição do uso de CFCs — composto que ficou conhecido por causar buracos na camada de ozônio — em 1992, e o uso exclusivo de energia renovável em todas as suas operações globais desde 2023.
Fábio Neves destacou a tecnologia da linha WorkForce, de impressoras corporativas que substituem o toner por cabeças de impressão a frio, eliminando resíduos plásticos e reduzindo o consumo de energia. "Ao eliminar impressoras de toner, estamos reduzindo significativamente o impacto ambiental, enquanto oferecemos maior eficiência para nossos clientes empresariais."
Com a digitalização transformando a forma como pessoas e empresas trabalham, a Epson tem encontrado maneiras de se adaptar. "A necessidade de impressão não desaparece, mas muda de forma. Papel não sai de moda", disse Neves.
Além disso, a empresa está expandindo para novos segmentos, como os projetores compactos para home cinema. "Com as pessoas passando mais tempo em casa, o entretenimento doméstico se tornou essencial. Estamos expandindo o conhecimento dos consumidores sobre os nossos projetores, que combinam alta qualidade de som e imagem com integração a plataformas como Google TV, para transformar a experiência de nossos consumidores."
Ao falar sobre o futuro, Ogawa apresentou uma visão ousada: tornar a Epson uma empresa negativa em carbono até 2050, eliminando o uso de recursos fósseis e investindo em tecnologias que promovam um ciclo fechado de recursos. Ele mencionou inovações como a que permite reciclar papel sem uso de água, e o desenvolvimento de materiais sustentáveis que podem substituir o plástico.
Além dos compromissos empresariais, Ogawa compartilhou sua conexão pessoal com o Brasil, país que visitou pela primeira vez há 33 anos. "Gosto muito da música brasileira e tenho boas memórias de lugares como São Paulo, Salvador, Manaus e Rio de Janeiro", disse o executivo, que ressaltou o calor e carinho dos brasileiros como a mais marcante das impressões.