Profissionais da Cruz Vermelha que trabalham com vítimas do vírus ebola retiram cadáver de casa em Freetown (Francisco Leong/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2014 às 13h21.
Melbourne - O melhor conselho médico para sobreviver ao ebola agora poderia se resumir a uma palavra: beber.
Como levará pelo menos meses para desenvolver vacinas e remédios específicos, médicos e especialistas em saúde pública estão aprendendo com os sobreviventes do ebola quais medidas simples os ajudaram a vencer a infecção.
Beber 4 litros ou mais de solução reidratante por dia – um desafio para qualquer um e, especialmente, para aqueles assolados por ataques constantes de vômitos – é essencial.
“Ao contrair a infecção, as pessoas ficam completamente desidratadas em muito pouco tempo”, disse Simon Mardel, médico de emergência que assessora a Organização Mundial da Saúde em relação ao ebola em Serra Leoa.
“Então, a tragédia é que elas não queiram beber nada”.
A substituição veemente de fluídos foi considerada fundamental para salvar dois profissionais de saúde com ebola no Emory University Hospital em Atlanta, segundo um estudo publicado na revista New England Journal of Medicine na semana passada.
Entrevistas realizadas por Mardel e colegas da OMS com seis dos doze pacientes que sobreviveram ao ebola na Nigéria, onde a taxa de mortalidade foi muito menor, também indicam a importância de beber líquidos.
Ada Igonoh, uma médica que contraiu ebola no final de julho enquanto trabalhava no First Consultants Hospital em Lagos, disse que tomou sais de reidratação oral misturados com água assim que começou a apresentar sintomas gastrointestinais – antes mesmo de ser diagnosticada com ebola.
Após ser hospitalizada, ela vasculhou a internet em seu iPad para saber o que os sobreviventes recomendavam.
Perda de fluídos
Os pacientes na Libéria perderam 5 litros de fluído por dia só por causa da diarreia, escreveram os médicos que estão tratando os casos nesse país em um artigo publicado no dia 5 de novembro na New England Journal of Medicine.
Uma perda severa de fluidos pode causar um tipo de choque que impede que o coração bombeie sangue suficiente para o corpo, o que acaba provocando a falência múltipla de órgãos.
A mortalidade poderia ser reduzida com a transmissão de uma mensagem simples sobre a importância de beber líquidos e escolher os analgésicos certos, disse Mardel.
O paracetamol, ingrediente ativo do Panadol, é o remédio preferencial para dores e febre; outros, como aspirina e ibuprofeno, podem piorar a hemorragia, disse ele.
“Reduziremos a mortalidade pela metade se pararmos de dar anti-inflamatórios e proporcionarmos a reidratação. Devemos realmente insistir nisso”, disse Mardel.
“Quero que cada homem e cada mulher em Serra Leoa saiba disso. Quero que as celebridades do esporte falem sobre isso. Quero que todos falem sobre isso”.
Modelo contra o ebola
Na Nigéria, 40 por cento dos casos conhecidos de ebola morreram. No restante da África Ocidental, a taxa de mortalidade é de cerca de 70 por cento.
O sucesso da Nigéria para deter o ebola mostra como o vírus pode ser derrotado e serve de modelo para outros países em desenvolvimento ameaçados pela doença, disse a OMS após declarar no mês passado que o país mais populoso da África está livre do ebola.
Um déficit de fluídos e um “profundo desarranjo de eletrólitos” parecem aumentar o risco de morte, disse a OMS em um comunicado publicado no dia 9 de novembro.
Nesse documento, a organização com sede em Genebra recomendou a reidratação intravenosa. Nem todos concordam que essa forma de transmissão de fluídos seja o método mais adequado.
A reidratação oral, que é absorvida pelos intestinos, parece ajudar os pacientes a manterem um melhor equilíbrio de eletrólitos, segundo Mardel.
Contudo, o consumo de líquidos apresenta desafios. Os pacientes devem superar as náuseas recorrentes e as dores debilitantes nas articulações que podem dificultar a capacidade de movimento e de segurar objetos.
“Você não quer beber nada”, disse Igonoh. “Você fica fraco demais”. Neste momento, o estado de ânimo é vital, disse a médica, agora com a cabeça raspada, depois que a doença viral fez com que quase todo o cabelo dela caísse.
“É necessário dizer a si mesmo que, independentemente da quantidade de pessoas que morrem, você vai sobreviver. E você vai sobreviver”.