Tecnologia

Países emergentes representarão 60% do tráfego de dados no mundo até 2020, aponta pesquisa

EMC Digital Universe ainda mostra que Brasil representará 4% do volume total de informações que circulam pela web mundial até 2020

cabos (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 29 de abril de 2014 às 18h13.

O volume de dados produzido pelos diversos dispositivos espalhados pelo mundo, chamado de "universo digital", já bate a marca de 4,4 trilhões de gigabytes. Mas esse número deverá crescer dez vezes até 2020, chegando a 44 trilhões de GB, segundo pesquisa divulgada pelo instituto IDC e feita em parceria com a EMC, tradicional empresa da área de TI.

O estudo, chamado de EMC Digital Universe, já é o sétimo feito pela dupla, mas é apenas o primeiro a separar o “universo digital” do Brasil daquele referente ao resto do mundo. Graças a isso, dá para ver a influência que o país exerce (e exercerá) em relação ao volume mundial – e como o tráfego daqui também crescerá muito até 2020.

Mas a pesquisa não trata apenas desse aumento geral no número de informações trocadas nas redes pelo mundo. Ela ainda revela que os países emergentes passarão a representar 60% do tráfego de dados no mundo, invertendo a situação atual. Também mostra que a nuvem será responsável por guardar 40% do total de informações que circula pelo globo, e que a “internet das coisas” terá cada vez mais influência no número final – inclusive aqui no Brasil.

Para comentar o estudo e esses dados, INFO conversou com Marcio Sanchiro, que é gerente de soluções de virtualização da EMC. Além de explicar e falar um pouco mais dessas informações, o executivo ainda mostrou como as empresas poderão aproveitar o crescimento no tráfego de dados pelo mundo. Confira a seguir.

Primeiramente, o que é e o que engloba esse “universo digital” mencionado no decorrer da pesquisa da IDC? E no que exatamente é baseado o estudo?

O universo digital que citamos engloba todos os dados que foram criados de forma digital. Temos, por exemplo, dados que foram feitos por pessoas ou consumidores – como fotos e e-mails pessoais. Mas existem também os dados de empresas: eu, dentro de uma companhia, estou gerando uma informação desse tipo quando escrevo um e-mail, e por isso deixo de ser um consumidor. E há também os que vêm da parte de mídia, como televisão e Netflix, que coloca esses dados para rodar em streaming para todos os consumidores, trafegando – e é exatamente essa parte que está crescendo. Já o cálculo que o IDC fez é baseado nas aquisições de equipamentos que têm memória e que podem armazenar esses dados de alguma forma.

Um dos pontos que mais impressiona na pesquisa é o crescimento do tráfego brasileiro – vai de estimados 212 exabytes em 2014 para 1.600 exabytes até 2020, pelo que é apresentado. Como se explica esse aumento de quase oito vezes nesse período relativamente curto?

Temos que observar especialmente as partes financeiras e de telecomunicações do Brasil. Peguemos, por exemplo, a Telefônica, que é uma empresa espanhola. Lá na Espanha, o número de usuários é pequeno, pela população do país mesmo. Aqui no Brasil, o mercado já é de 200 milhões de habitantes, e por isso mesmo as empresas telefônicas – TIM, Vivo, Oi, etc. – produzem uma quantidade absurda de dados. Bancos privados e públicos, “ajudados” pelo lançamento de programas do governo, também geram uma quantidade maciça de dados. E agora com cada vez mais empréstimos, cada vez mais telefones – que já nem são mais os normais, já que estamos no “boom” dos smartphones –, nós vemos essa explosão, tanto no mercado consumidor quanto do empresarial.

Outro ponto interessante na pesquisa é a inversão que ocorrerá na porcentagem do volume de dados gerado por mercados emergentes e consolidados – hoje, 40% do total vêm de países como Brasil e China, mas o número deve chegar a 60% em 2020. Por que você acha que essa mudança acontecerá?

Principalmente porque muitos dos dados são criados pelos consumidores. Se olharmos para as populações desses mercados emergentes – a da China, por exemplo, passa de bilhões –, basta imaginar o que acontece se cada um dos habitantes estiver usando um smartphone. O volume que eles começam a gerar quando entram no mercado, acompanhados de empresas de mídia, é gigantesco. Além disso, entra aí a questão da maturidade. Nosso mercado ainda tem muito consumidor que pode adquirir tecnologias. Já nos mais maduros, possivelmente, quase todos os consumidores-alvo já estão adotando as tecnologias.

Também chama atenção na pesquisa o esgotamento na capacidade de armazenamento mundial – hoje, o total disponível já comporta apenas 33% do universo digital, e até 2020 a porcentagem cairá para 15%. É algo para se preocupar?

Temos muitos dados temporários, como os da Netflix. Você baixa, mas não de forma definitiva – eles são absorvidos, mas depois “jogados fora”. Acredito, então, que não é preocupante, também porque a tecnologia está conseguindo colocar cada vez mais espaço disponível em HDs, comprimindo ainda mais os dados. Não sei até onde vamos chegar, mas já temos discos que passam dos 4 TB hoje em dia. Não são discos rápidos, mas eu posso guardar dados que não precisam de tanta agilidade no acesso. Então, dependendo da situação, são discos que podem ser muito bem utilizados. Fora que ainda temos a tecnologia flash, que começou com seus poucos gigabytes, mas que agora chega a suas centenas.

Em relação aos dados armazenados na nuvem, o número dobrará, indo de 20 para 40% do total do tráfego até 2020. O que isso representa para o consumidor e para as empresas?

Para o consumidor, isso é interessante porque é algo que já usamos há muito tempo – e deve crescer mais. Meu primeiro e-mail tinha pouquíssima capacidade, mas então a parte de armazenamento na nuvem começou. Era algo tímido, mas hoje em dia você já consegue fornecedores que entregam 15 GB de graça para guardar arquivos. São várias companhias, como Amazon, Google, Microsoft e Dropbox, fazendo o trabalho, e à medida que o custo de armazenamento vai caindo para elas, mais espaço vai sendo disponibilizado. As próprias empresas, com isso, vão criando suas nuvens privadas, com soluções elásticas que só elas utilizam. Também entra aqui a questão de segurança. As pessoas eram bem mais receosas em relação a guardar algo na nuvem. “Eu realmente vou conseguir manter meus arquivos na nuvem por um longo período sem ter que me preocupar?” Essa característica está mudando, e elas estão começando a usar mais, com mais certeza e estabilidade.

Você acredita que os dispositivos ligados à chamada “internet das coisas” terão seu grau de influência nesse crescimento de tráfego brasileiro e mundial?

Os itens com “internet das coisas” ainda não estão tão populares quanto os smartphones, mas acredito sim que eles começarão a aparecer cada vez mais. Exemplos atuais são os carros que se conectam ao o iPhone, por exemplo, que deixam você conectá-lo a uma nuvem. Fora a parte de eletrodomésticos, com as SmartTVs ligadas à rede de casa, entre outros aparelhos. Já vemos a internet das coisas acontecendo, com cada vez mais dispositivos conectados à internet. À medida que eles se popularizam, acreditamos que gerarão mais dados, que não serão apenas provenientes de um consumidor com smartphone. [A pesquisa mostra que a internet das coisas representará 10% do universo digital brasileiro até 2020.]

Por fim, que tipos de benefícios e oportunidades esse crescimento na presença de internet das coisas pode trazer para as empresas brasileiras?

Na pesquisa, falamos primeiramente de novos modelos de negócios. A partir do momento que as companhias começam a capturar os dados de uso de aparelhos, dá para traçar perfis de consumidor mais facilmente. Então, as empresas começam a entender melhor o que as pessoas compram e como utilizam seus produtos, por exemplo. Dessa forma, os fabricantes podem começar a melhorar o produto, mudá-lo e torná-lo melhor, fazendo algo que seja diferente. Com base nas informações analisados, dá para criar um produto que vai atender exatamente aquilo que a empresa percebeu que os consumidores estão precisando.

Temos ainda o caso dos dados que chegam em tempo real, e que podem ser usados para detectar problemas com rapidez, por exemplo. Um exemplo bom de equipamento que aproveita essa possibilidade está em turbinas da General Electric, que adotam sensores de coleta de dados para que o fabricante entenda como elas estão funcionando e trabalhando. A própria Fórmula 1 também usa tecnologias do tipo, e mostra que você consegue melhorar o produto de forma mais rápida. 

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