Flávio Stecca: "um dos nossos objetivos deste ano é melhorar a plataforma para termos uma melhor comunicação com os pais" (PlayKids/Divulgação)
Marina Demartini
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 05h55.
Última atualização em 9 de novembro de 2016 às 16h19.
São Paulo – O PlayKids anunciou recentemente uma série de novidades que transformaram o serviço. A startup, conhecida por seu aplicativo infantil para smartphones e tablets, lançou um app para televisões com conexão de internet, adquiriu um serviço de entrega de livros pelo Correio e, desde o ano passado, está investindo em conteúdo original.
“Nós queremos criar uma interação entre o mundo digital e o mundo real que seja divertida e lúdica para as crianças. Para isso acontecer, precisamos investir em tecnologia”, disse a EXAME.com Flávio Stecca, CEO do PlayKids. Ele ainda falou sobre realidade virtual, bots, serviços para escolas e conteúdo para adolescentes. Veja mais na entrevista abaixo:
EXAME.com: Como foi o processo para a criação de conteúdo original para PlayKids?
Flávio Stecca: Desde o começo do PlayKids nós nos envolvemos com conteúdo. Criamos uma plataforma recheada de histórias. Nossa mascote e nossos personagens foram criados pelos ilustradores que trabalharam na Galinha Pintadinha. A grande motivação para fazer conteúdo original é que o mundo está mudando muito rápido. Estamos vendo o surgimento de novas tecnologias, como bots, realidade aumentada ou virtual e a TV está mais conectada.
Nós pensamos que juntar tecnologia e criação de conteúdo iria ajudar a inovar no campo da interação com conteúdo. Isso expandiria a influência do nosso produto. Com conteúdo original, podemos contar as nossas próprias histórias. Temos essa ideia de que é possível aprender brincando. Acredito que conseguimos criar conteúdo de qualidade que cria essa diferenciação, não só na forma de interação tradicional, que é mais passiva, mas também na mais inclusiva.
Seus usuários estão crescendo. Vocês pretendem criar conteúdo ou um app para adolescentes?
O legal de fazer produto para crianças é que você sempre pode expandir, até o final da vida. Mesmo assim, a resposta direta é não, não pretendemos criar conteúdo para jovens. Na verdade, o que estamos fazendo agora é expandir a idade do nosso próprio público. O PlayKids nasceu muito bebê, voltado para crianças com três, quatro anos. Agora, estamos investindo mais para chegar até aos oito anos.
Quem sabe daqui a dois anos façamos uma oferta para o público adolescente. Um passo de cada vez.
PlayKids tem seis milhões de assinantes no mundo e é líder da categoria kids da App Store em 25 países. Com tantos países no mapa, o conteúdo é diferente em cada parte do mundo?
Nos países que temos licenciamento, que são mais de 40 [América Latina, Espanha, França, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá, Austrália, China e Japão], os conteúdos são diferentes a depender da região. Dificilmente conseguimos um acordo global, então precisamos estudar cada um desses países para fazer o planejamento.
Assim, tem pouca coisa que é igual. Na América Latina é o mesmo conteúdo, mas o conteúdo nos Estados Unidos é diferente dos desenhos e jogos na Inglaterra, na Austrália. Até a mascote do PlayKids recebe uma caracterização diferente dependendo do país.
A plataforma carrega mais de 30 séries brasileiras. Vocês pretendem internacionalizar o conteúdo brasileiro – sejam eles originais ou não?
Não existe um número exato sobre isso, mas o PlayKids é provavelmente a plataforma com mais conteúdo brasileiro. Já existem vários deles com contratos que estão disponíveis fora. Um grande exemplo é a Galinha Pintadinha.
Nós estamos criando espaços para novos produtores e estúdios, e queremos ser um canal para levar esse conteúdo para fora. Então, eu espero que o PlayKids continue crescendo para que isso continue a se desenvolver ainda mais.
Qual é próximo passo com relação à tecnologia? Vocês pretendem investir em bots e realidade virtual?
Temos experimentado quase tudo. Apesar de não termos nada de concreto para ser lançado mês que vem, temos certeza que a realidade aumentada e a realidade virtual serão nosso foco. A experiência de imersão vai se popularizar muito em breve e, por isso, estamos fazendo vários testes com a tecnologia.
Nós focamos muito em contar histórias, queremos a experiência da avó contando uma história aos netos na beira de um lago. Temos apostado que, com a realidade virtual, podemos replicar isso. Já temos algumas demonstrações desse tipo de tecnologia, em que a pessoa conta uma história e tem como pano de fundo um lago e até o barulho da água se movimentando.
Temos brincado bastante com a tecnologia de reconhecimento de face e de reação das pessoas. Nós conseguimos replicar isso com personagens e isso faz com que o usuário "faça parte" do desenho animado. Quando a pessoa se mexe, o personagem também se mexe.
Também temos investido em bots, porém seu uso está mais focado nos pais. Um dos nossos objetivos deste ano é melhorar a plataforma para termos uma melhor comunicação com os pais. Por isso, acredito que os bots podem realizar essa interação de uma maneira bacana.
Vocês compraram o Leiturinha, um serviço de entrega de livros pelos Correios. Querem fazer uma virada também ao mundo offline?
Nós acreditamos que a nossa missão vai além do digital e o Leiturinha é o primeiro passo. Esse livro que chega em casa logo estará conectado com o aplicativo e com atividades digitais. Daqui a pouco, ele também estará ligado com o framer educacional.
A motivação para esse investimento no offline vem desde a primeira versão do PlayKids, há três anos e meio, quando lançamos um programa em que a criança aprendia a desenhar. Começamos com o digital porque é uma escala mais rápida. Hoje, estamos unificando essas duas experiências para criar experiências que realmente enriqueçam o dia a dia da criança e da família. O que queremos é usar a tecnologia para aproximar e desenvolver, não isolar.
Vocês têm vontade de levar o PlayKids para as escolas?
O PlayKids já é usado por professores informalmente. Uma professora da Tailândia escreveu falando que usou o aplicativo de desenhar na aula de educação artística.
Nós vemos as escolas como parceiros. Por isso, queremos complementar os temas que professores já passam aos estudantes, fazendo isso de forma digital e divertida. A gente espera que a partir da metade do ano que vem, tenhamos uma oferta focada em escolas e professores. Iremos pegar a base curricular nacional e mostrar aos professores que estiverem ensinando determinado tema quais recursos do PlayKids eles podem usar.