Jawed Karim: "Não tínhamos nada a perder" (Robin Brown/Wikimedias Commons)
Da Redação
Publicado em 10 de novembro de 2010 às 05h00.
São Paulo – No fim de janeiro de 2005, Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, então funcionários do PayPal, preparavam-se para lançar a primeira versão do YouTube, um site de compartilhamento de vídeos desenvolvido, como eles mesmos dizem, em um fundo de quintal. O projeto sairia do papel em fevereiro, mas, no dia 25, o Google anunciou uma plataforma com o mesmo princípio e que viria a concorrer com a ideia dos jovens, o Google Video.</p>
Os três consideraram que o anúncio significaria a morte do YouTube, mas decidiram manter o lançamento. “Nosso produto era bom”, justifica Karim, o co-fundador que acabou ficando menos conhecido entre os três. Os meses se passaram e provaram que os amigos não estavam errados. “No fim das contas, o Google Video acabou sendo útil para a gente, ao provar que o vídeo na internet era uma boa ideia”. Um ano e meio depois, a gigante das buscas na internet acabou adquirindo o controle do YouTube por US$ 1,65 bilhão.
Karim, que está de passagem pelo Brasil até o próximo dia 12, contou os bastidores da criação do YouTube nesta terça-feira (9) em evento realizado no auditório da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. Ele lembrou que havia uma diferença crucial entre o Google Video e o YouTube que fez com que seu site acabasse despontando. “O Google fez parceria com uma série de empresas de mídia para colocar conteúdo em sua plataforma e, assim, tinha de ter a maior rigidez para controlar envios de vídeos que violassem direitos autorais”.
No caso do YouTube, a fiscalização dos materiais submetidos, no início, era muito diferente. “O que tínhamos a perder? Se alguém quisesse nos processar, a gente não tinha nem dinheiro para pagar indenizações”, disse o executivo. “O pior que poderia acontecer era nos obrigarem a fechar o site”.
O caráter aberto apregoado pelo YouTube desde o início, e que ao longo dos anos e com o crescimento da empresa acabou gerando uma série de ações ao redor de todo o mundo, foi um dos grandes diferenciais do site em relação a outros concorrentes que surgiam na mesma época, segundo o co-fundador.
“Muitos sites tentam forçar a ideia de comunidade, dizendo que tipo de conteúdo pode ser enviado. Nós éramos muito mais abertos. O usuário podia submeter o que quisesse e o vídeo estaria disponível no momento seguinte”. Para Karim, o controle do conteúdo pelos usuários, inclusive na fiscalização dos vídeos publicados, foi fundamental para o YouTube crescer da forma como fez. Tanto que foi a comunidade de internautas a responsável pela configuração do formato atual do site, que, inicialmente deveria ser um espaço de encontros amorosos.
Poucos sabem, mas os três co-fundadores, inspirados em um tipo de negócio que dava certo nos Estados Unidos, ao criar o YouTube, queriam apenas acrescentar ao modelo a possibilidade de as pessoas se apresentarem por meio de vídeos. Eles chegaram até a publicar no site de negócios Craiglist um anúncio em busca de garotas que se dispusessem a gravar os primeiros materiais. Pelo favor, cada uma receberia US$ 10, mas ninguém respondeu ao classificado.
Como a inovação do grupo estava na tecnologia adotada para a exibição de vídeos nos navegadores, o propósito acabou mudando com o tempo. O próprio trio começou a publicar gravações aleatórias, para mostrar para as pessoas a experiência de reprodução de vídeo em Flash, que acabava com os inúmeros problemas de incompatibilidade de formatos e de codecs que tinham os modos de exibição anteriormente utilizados, como o QuickTime Player e o Windows Media Player.
“Eu tinha muitos vídeos de aviões, porque gosto muito de aviação, e coloquei tudo lá”, conta Karim. É ele, aliás, que estrela o vídeo mais antigo postado no YouTube que ainda está disponível, “Me at the zoo”, datado de 23 de abril de 2005. Um site que fazia muito sucesso na época era o Flickr, que tem a proposta de compartilhar fotos. “Decidimos então que faríamos um Flickr de vídeos”. Nascia a versão atual do site de vídeos mais acessado do mundo.
Karim atribui a uma série de fatores o surgimento, a consolidação e o sucesso do YouTube, exceto à sorte. “Havia uma tendência para a criação de sites de vídeos, como a popularização de câmeras digitais que gravavam filmes, o avanço da banda larga residencial nos Estados Unidos e o lançamento da tecnologia Flash para exibição de vídeos”, recorda. “Mas é preciso saber aproveitar uma tendência para que um negócio prospere”.