Tecnologia

O X da questão é a desorientação tecnológica da sociedade

Enquanto Elon Musk redefine o Twitter, agora chamado de X, o Brasil enfrenta um embate jurídico que expõe a fragilidade das regras no mundo digital

Miguel Fernandes
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 2 de setembro de 2024 às 09h01.

Última atualização em 2 de setembro de 2024 às 09h03.

A história do Twitter – agora rebatizado como X – é marcada por uma transformação profunda desde sua criação. Inicialmente concebido com a missão de erradicar a solidão no mundo, o Twitter acabou se tornando uma plataforma que, ao longo dos anos, evoluiu para maximizar o tempo dos usuários diante das telas. O conceito de esfera pública contemporânea foi se solidificando, à medida que empresas e personalidades passaram a usar a plataforma para comunicados oficiais, interações públicas e, muitas vezes, embates políticos.

O ponto de virada mais recente foi a aquisição do Twitter por Elon Musk. Sob seu comando, a plataforma foi renomeada para X, um nome que reflete uma nova era, mas cuja natureza e propósito ainda são nebulosos.

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No Brasil, esse rebranding gerou um embate jurídico que parece mais uma comédia de erros ou, dependendo da perspectiva, uma tragédia institucional.

O embate no Brasil: instituições e poder tecnológico

O recente confronto entre o X e as instituições brasileiras expõe a tensão crescente entre as plataformas globais de tecnologia e as autoridades nacionais. De um lado, uma empresa que, por vezes, age como se as leis fossem sugestões; do outro, órgãos governamentais tentando reafirmar sua relevância na era digital.

Não seria surpresa se Elon Musk decidisse, em nome da "liberdade", seguir as "regras ditatoriais monocráticas" impostas por um juiz brasileiro, apenas para voltar ao status quo com algumas manobras jurídicas.

Enquanto o teatro se desenrola, questões mais profundas permanecem sem resposta. As redes sociais, como o X, tornaram-se ferramentas poderosas tanto para a expressão cidadã quanto para a manipulação em massa.

A proliferação de deepfakes e outras tecnologias de desinformação são apenas a ponta do iceberg de um problema muito maior.

A desorientação tecnológica e a precariedade social

No entanto, a questão vai além do impacto nos negócios e nas instituições. Psicólogos e sociólogos alertam para o crescimento de uma geração profundamente desorientada.

A erosão das habilidades sociais e a concentração de renda promovida por esse modelo tecnológico estão criando um ambiente de convivência cada vez mais precário. O sucesso tecnológico é celebrado, mas a inteligência emocional das pessoas parece estar em queda livre.

Enquanto as big techs comemoram números recordes de usuários, essas mesmas pessoas lutam para manter conexões significativas no mundo real. A tecnologia está criando um mundo cada vez mais inabitável para os seres humanos comuns, deixando felizes apenas os entusiastas da tecnologia e os bilionários do Vale do Silício.

A busca por um equilíbrio regulatório

Diante desse cenário, o que fazer? Banir todas as redes sociais ou deixá-las operar sem restrições são soluções igualmente desastrosas. Precisamos de um meio-termo que inclua responsabilidade legal para as plataformas, padrões claros de moderação de conteúdo e uso de IA, especialmente em períodos eleitorais, além de promover a transparência algorítmica.

Na era digital, a soberania democrática e a liberdade de expressão estão intrinsecamente ligadas à forma como usamos – e somos usados por – nossas tecnologias.

A complacência pode nos levar a um futuro onde a tecnologia, em vez de servir ao bem comum, nos transforma em meros operadores de inteligências artificiais.

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