Tecnologia

O PC já foi esquecido nos países emergentes, diz Hugo Barra

Em entrevista a EXAME.com, Barra fala sobre a evolução da Xiaomi no Brasil, os preços altos para produtos eletrônicos no país e sobre sua adaptação na China

Hugo Barra: "não há escola melhor do que o Google" (Divulgação/Xiaomi)

Hugo Barra: "não há escola melhor do que o Google" (Divulgação/Xiaomi)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de dezembro de 2015 às 16h35.

São Paulo – “Posso te corrigir? É cháomí, em chinês”, diz Hugo Barra, VP da Xiaomi, enfatizando o acento na sílaba ‘chá’ e prolongando o som no ‘mí’. Não é a primeira vez que o brasileiro ensinou alguém a falar o nome da empresa – em um vídeo no YouTube, Barra explica o significado e a etimologia da palavra.

Ao entrar no Brasil, a empresa simplificou e passou a usar o nome Mi. Em junho deste ano, no evento de lançamento, que estava repleto de fãs, Barra disse que era uma honra trazer a marca ao seu país.

Acostumado com grandes plateias desde a época em que trabalhou como vice-presidente da divisão do Android no Google, o empresário concedeu uma entrevista a EXAME.com. Falamos sobre a consolidação e a evolução da marca no Brasil e o futuro da tecnologia.

Veja abaixo como foi a conversa.

EXAME.com: Como o seu trabalho no Google ajuda na Xiaomi hoje?

Hugo Barra: Tive duas grandes jornadas no Google. A primeira foi nos meus primeiros três anos em Londres, como chefe de produtos de mobile do Google, onde desenvolvíamos os produtos para smartphones. Naquela época, os celulares e produtos para smartphones eram feitos apenas pelo meu grupo.

Foi um aprendizado para desenvolver produtos inovadores e serviços de internet, que é algo que me ajuda bastante na Xiaomi. Nosso modelo de negócio está focado na internet e os dispositivos só servem como um veículo para distribuir o software.

A minha segunda jornada no Google foi no Android, como chefe de produto do sistema operacional. Eu também trabalhava na linha Nexus. Todas as lições de entender o usuário, o design, desenvolver o produto e a interação com a mídia, eu aprendi no Google.

Eu diria que em tudo que você faça hoje na indústria de tecnologia e negócios, não há escola melhor do que o Google.

Como foi sua adaptação à China?

Brasileiro aprende a morar em qualquer lugar. Eu não sei explicar direito por que, mas o brasileiro é o povo mais adaptado do mundo. A barreira de idioma é incrível, mas não é intransponível. Além disso, o povo chinês é extremamente hospitaleiro, se você fala uma palavra em chinês, eles comemoram.

A China é um grande mercado produtor e consumidor de tecnologia. Brasil e Índia também estão entre os maiores mercados. Os emergentes são mais importantes do que nunca para empresas do ramo?

Eu acredito plenamente nisso, pois o mercado consumidor nestes locais cresce muito mais rápido. Para a indústria de mobile cresce mais ainda, pois a internet que os países emergentes conhecem é móvel.

A fase PC foi esquecida nos países emergentes, já o smartphone é uma das compras mais importantes para o usuário emergente, pois ele é o meio de acesso à internet com melhor custo-benefício.

O Brasil é um mercado difícil de se entrar?

O mercado brasileiro é o mercado mais burocrático do mundo e todo mundo sabe disso. Mas as regras são claras, você sabe onde você começa e onde termina. Como empresário, eu diria que o Brasil é um país difícil, mas é tudo questão de planejamento.

A Xiaomi precisou fazer muitos ajustes para trabalhar aqui?

A essência da nossa empresa é muito simples, muito universal. O nosso modelo de negócios é adquirir usuários para a nossa plataforma e vender celular é objetivo secundário. O nosso marketing mais casual, totalmente focado na mídia social é universal, pois usamos Facebook, Instagram e Twitter.

O que muda é o tom, os aspectos culturais e o humor utilizado – somos muito mais irreverentes no Brasil do que no resto do mundo. A nossa filosofia é exatamente a mesma no resto do mundo: é muito focada no nosso fã, que se associa com a nossa marca.

O que fez a Xiaomi mudar a estratégia e vender produtos pela Vivo, depois de iniciar somente no varejo online?

Esses são exatamente os mesmos tipos de parcerias que nós fizemos no mundo. O e-commerce é um canal mais eficiente e nós sempre fomos focados nele. O nosso site ainda é o canal principal de vendas, assim para nós faz sentido usar essa estratégia.

A Vivo é um canal novo, que proporcionou uma experiência para o usuário testar o nosso smartphone antes de compra-lo. Além disso, a Vivo é conhecida em qualquer lugar do Brasil, então isso nos chamou a atenção.

Vivo: para Barra, a empresa proporciona uma experiência para o usuário testar o smartphone antes de compra-lo (Divulgação/Xiaomi)

A Xiaomi tem a estratégia de não inflar os preços. Como você vê a prática de cobrar preços altos?

Os preços no Brasil são comparativamente mais altos pois as marcas calibram seus preços para encaixar no modelo de varejo daqui. A nossa estratégia de preço é calibrada a partir do comércio eletrônico e isso também tem muito a ver com a cultura da empresa, já que lucros altíssimos de celulares não fazem parte da nossa estratégia.

A Xiaomi é uma das quatro maiores fabricantes de smartphones. Como você vê essa evolução e como será o futuro da Xiaomi no Brasil e fora dele?

O nosso primeiro celular saiu em 2011. Eu vejo que esse crescimento da empresa está relacionado ao modo como vemos o mercado. Além disso, nosso portfólio de produtos é muito pequeno e isso permite calibrar uma alta performance e focar na qualidade. Como a nossa cabeça é muito mais voltada para o desenvolvimento de software, nós queremos fazer um smartphone na mesma velocidade que fazemos um aplicativo.

Falando em smartphones, como usaremos o smartphone em cinco anos? 

Eu acho que, em primeiro lugar, o smartphone vai se tornar o centro de um universo de dispositivos conectados, que é chamado de internet das coisas. Todas as tecnologias que estão na sua casa poderão ser monitoradas e controladas pelo smartphone. Ele vai se tornar um controle, um centro de inteligência que centraliza as informações.

Por que lançar a Mi Band aqui no mesmo mês que lançaram a Mi Band Pulse na China?

Para falar a verdade, os dois são praticamente o mesmo produto, como se um fosse 1.0 e o outro um 1.1. Apenas agora que a Mi Band está sendo produzido em alta escala, por isso que nós achamos melhor trazer o antigo do que esperar seis meses para lançar a versão nova.

Acompanhe tudo sobre:EmpresasEmpresas americanasEmpresas de internetempresas-de-tecnologiaGoogleIndústria eletroeletrônicaSmartphonesTecnologia da informaçãoXiaomi

Mais de Tecnologia

EUA impõem novas restrições emchips avançados da TSMC para clientes chineses, diz agência

Tencent e Visa lançam pagamento por palma da mão em Cingapura; primeiro mercado fora da China

Mídia programática com influenciadores: o plano da BrandLovrs para distribuir R$ 1 bi em 4 anos

Canadá ordena fechamento do escritório do TikTok, mas mantém app acessível