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O desejo de ser anônimo se expande pela rede

Cada vez mais usuários fazem o possível para proteger sua identidade na internet, uma tendência que vai na contracorrente das redes sociais populares


	Internet: tendência por anonimato na web disparou com casos de espionagem
 (Lionel Bonaventure/AFP)

Internet: tendência por anonimato na web disparou com casos de espionagem (Lionel Bonaventure/AFP)

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Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2014 às 10h42.

Los Angeles - Cada vez mais usuários fazem o que está ao alcance para proteger sua identidade na internet, uma tendência que vai na contracorrente das redes sociais mais populares e que disparou por causa dos escândalos de espionagem governamental expostos por Edward Snowden.

Os downloads do navegador Tor, ferramenta de referência para navegar na web de forma anônima, duplicaram no último ano, até alcançar 150 milhões, ao mesmo tempo em que proliferam os aplicativos que permitem dizer o que se pensa sem necessidade de revelar nada a mais.

"As pessoas querem proteger a própria privacidade", assegurou Andrew Lewman, diretor-executivo do Tor Project. O software é utilizado de forma constante por uma média de 2,6 milhões de usuários, situados em todas as partes do mundo.

"Tor considera o usuário como anônimo por padrão. As páginas da web não identificam o usuário e nem o local, a menos que estas informações sejam concedidas", explicou Lewman, que, no entanto, disse que não se trata de "anonimato total", algo que acredita não ser possível conseguir, dado que a estrutura em rede de internet faz com que "qualquer coisa possa ser rastreada".

Prova da deficiência do Tor Project é que, segundo Lewman, o software é alvo de ataques de países como Estados Unidos, Rússia, Irã e China, com os quais os hackers buscam impedir que sua tecnologia seja utilizada ou que seja possível adentrar no sistema para descobrir quem são seus usuários.

A Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) e o órgão britânico equivalente (GCHQ) estão nessa lista de "hackers", citada por Lewman, cujo poder, indicou, é tão superior tecnicamente que o cidadão está indefeso.

"Não é possível vencê-los em seu próprio jogo", disse Lewman. De acordo com o diretor, a única possibilidade de defesa frente à espionagem dos governos é a legislativa.

"Poder falar de forma anônima é extremamente importante para que uma democracia seja forte", comentou Eva Galperin, analista de Política Global da Electronic Frontier Foundation (EFF), organização pró-defesa dos direitos civis no mundo digital.

A EFF lidera a campanha contra a NSA, que teve início depois de Snowden divulgar, em junho de 2013, que esse organismo espionava os cidadãos de forma indiscriminada.

"Não acho que a segurança nacional justifique a espionagem na internet", apontou Galperin, que considera que os benefícios do anonimato compensam a impunidade que o acompanha os grupos criminosos e terroristas.

Mais da metade dos entrevistados pelo Departamento de Psicologia da Universidade Carnegie Mellon, para um estudo sobre o uso de internet publicado em 2013, admitiram que participavam de atividades ilegais quando navegavam pela internet de forma anônima.

Outro relatório, de 2012, realizado pela Universidade de Toronto, constatou que mais de 30% das crianças em idade escolar no Canadá tinham sofrido ou cometido abusos cibernéticos.

Michael Heyward, cofundador e diretor-executivo do Whisper, aplicativo que permite publicar mensagens anônimas, acredita que há razões para otimismo.

"A palavra "amor" (em diferentes idiomas) é a mais usada no Whisper", disse Heyward, um empreendedor de 26 anos, de mãe colombiana, que fundou em Los Angeles uma empresa com mais de 50 empregados dedicados a "desbloquear o potencial positivo" inerente à comunicação anônima.

Para usar o Whisper não é preciso dar nenhum dado pessoal, nem criar uma conta, mas sim registrar o lugar de origem das mensagens e permitir ter contato com qualquer membro. A companhia supervisiona o conteúdo para evitar o uso malicioso.

"Não sei quais são as táticas da NSA, mas se nos pedirem as informações não poderemos dar, porque não a temos", afirmou Heyward.

A plataforma é usada por soldados no Iraque e Afeganistão, por pessoas que vivem em zonas de conflito, como Gaza, com a qual buscam uma forma de revelar sua sexualidade e expressar suas opiniões sobre a vida.

Seu editor-chefe, Neetzan Zimmerman, acredita que o Whisper é um instrumento que poderia abrigar vazamentos como o Wikileaks e já tem acordos para facilitar conteúdos ao Buzzfeed, Huffington Post e Univision, entre outros meios.

Ao Whisper (2012) seguiram, em 2013, aplicativos similares como Secret e Yik Yak, enquanto na internet convivem foros anônimos como 4 chan, onde foram publicadas recentemente as fotografias roubadas de famosas nuas, com novos serviços para envios anônimos de e-mails.

Um dos últimos é o Justleak it, que foi lançado em julho e suspenso após 10 dias de operação pelos servidores de e-mail que utilizavam devido ao elevado volume de tráfego (mais de 66 mil e-mails enviados), o que fazia parecer "spam".

O serviço voltou a funcionar e seus criadores advertem: "Se for utilizá-lo para algo ilegal, daremos seu endereço de IP para as autoridades".

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