(AFP)
Professor da Faculdade Exame
Publicado em 7 de fevereiro de 2025 às 15h51.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2025 às 15h56.
A crescente centralidade da atenção no ambiente digital contemporâneo tem gerado debates sobre seus impactos na política, economia e sociedade.
Em um de seus best sellers, o comentarista político e autor estadunidense Chris Hayes destaca a relação entre as plataformas digitais e o colapso da atenção, algo que tem sido alimentado pela lógica da economia da atenção.
Ao transformar a atenção em um recurso escasso, as plataformas digitais maximizaram seu poder de captura e controle das interações dos usuários, o que, por sua vez, afeta a qualidade da informação e a confiança nas instituições.Hayes aponta para uma transição do antigo modelo de jornalismo, onde jornalistas e veículos, como o The Washington Post, não estavam diretamente ligados ao número de visualizações ou à pressão de algoritmos.
A “moral da atenção” imposta pela lógica de maximizar cliques e interações diminui a capacidade crítica e deliberativa, substituindo o que é importante e verdadeiro pelo que é mais chamativo e provocativo.
Recentemente, essa dinâmica ficou ainda mais evidente com a Meta, que anunciou a interrupção de seu sistema de checagem nos EUA.
A decisão reflete um momento de instabilidade na forma como as plataformas lidam com a desinformação, e pode ser interpretada como uma adaptação à crescente pressão para garantir lucros por meio do aumento do engajamento, muitas vezes às custas da qualidade da informação.
Essa alteração sinaliza um ciclo vicioso alimentado por um sistema em que a atenção e a manipulação de emoções dominam a percepção pública, especialmente em tempos de incertezas políticas.
A análise da interrupção do sistema de checagem de notícias falsas pode ser vista à luz de um contexto mais amplo de regulação das plataformas digitais na Europa e na América Latina.
Nos últimos anos, discutiu-se com mais força a necessidade de regulação para combater a desinformação e os abusos de poder das big techs, gerando um risco considerável ao modelo de negócios das big techs.
Há quem entenda que a decisão da Meta está ancorada na expectativa de que a nova administração de Trump use a força do Departamento de Estado para pressionar outras nações em favor das empresas americanas.
Em um ambiente cada vez mais polarizado, as plataformas se viam divididas entre a pressão de adotar uma postura mais rígida contra a desinformação e as alegações de censura que permeiam o discurso político.
Com a mudança radical de postura, fica claro que o antigo dilema entre responsabilidade e maximização dos lucros cai por terra.
O fato de que as plataformas operam em um espaço onde seus lucros estão diretamente ligados à maximização da atenção, com o papel crescente dos algoritmos na curadoria da desinformação, discursos de ódio são camuflados pela defesa irrestrita da liberdade de expressão, gerando ainda mais receita para essas empresas.
A regulação das plataformas digitais será um dos grandes desafios das próximas décadas.
Apesar do cenário extremamente desfavorável para aqueles que creem em sociedades plurais livres e democráticas, Hayes aponta que há espaço para reação, um novo ciclo de resistência que busque recriar um espaço aberto onde a criatividade e o valor da informação verdadeira possam prosperar novamente.
A resistência pode surgir por meio da descentralização e da busca por alternativas ao modelo centralizado atual, o Bluesky, que buscam reverter o modelo de atenção controlado por grandes corporações e à prova de bilionários.
Ao refletir sobre o futuro das big techs, é essencial compreender que as plataformas digitais não são apenas uma questão de inovação tecnológica, mas também de governança e política pública. A maneira como as plataformas lidam com o controle da informação e as suas consequências sociais será um fator determinante para o rumo das democracias no presente e futuro próximo.