Netflix (NFLX34) (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
O ano de 2022 parece ter iniciado mal para a Netflix (NFLX34).
Depois de uma década gloriosa, que levou a Netflix a atingir a marca de 222 milhões de assinantes em todo o mundo, a plataforma enfrenta seu primeiro revés.
A comunicação aos acionistas dos resultados do primeiro trimestre de 2022, conforme exigido pela legislação americana sobre companhias listadas, causou impacto imediato na Bolsa de Valores de Nova York.
Entre janeiro e março deste ano foram registrados 200 mil assinantes a menos. E as ações na Nasdaq sofreram um colapso vertical: -27,5% no after market.
Nos últimos meses haviam sido anunciadas expectativas muito mais otimistas, com previsão de crescimento de 2,5 milhões de assinantes até o final do ano.
Mas não são apenas os números do primeiro trimestre que derrubam as ações da plataforma.
O que deixou muitos investidores preocupados é a perspectiva para os próximos meses, indicada pela própria Netflix: uma perda ainda maior de assinantes estaria à vista.
Para o final de 2022, a previsão é de 2 milhões de clientes a menos.
Essa é primeira vez desde sua criação, em 1997, que a Netflix está perdendo usuários ao invés de ganhá-los.
No momento, a maior empresa do mundo de distribuição de filmes, séries e conteúdo online, comunicou que a desaceleração se deve principalmente à suspensão do serviço na Rússia, por conta das sanções que seguiram a invasão da Ucrânia.
Só na Rússia, a Netflix perdeu 700 mil assinantes.
Mas o resultado foi negativo também nos Estados Unidos e no Canadá, onde foram canceladas 600 mil assinaturas.
Mas, além desse elemento, existiriam dificuldades de alcançar novos assinantes.
Na sede californiana da Netflix, em Los Gatos, no entanto, os executivos sabem bem que o que poderia ter sido uma desaceleração fisiológica.
A Netflix apresentou sua primeira série original em 2013, a conclamada House of Cards, e já chegou a produzir 126 séries e filmes originais no ano recorde de 2016.
Sua capitalização na Nasdaq atingiu quase os US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,5 trilhão) em 2021.
Por isso, uma contração poderia ser até algo normal.
Entretanto, o medo é que esse poderia ser o sinal do início de um período muito mais sombrio do que os felizes últimos anos.
Além da guerra em curso, há quatro razões para esta crise, algumas delas ligadas entre si.
O aumento do preço das assinaturas é talvez o mais concreto e imediato, pois nem todos os clientes aceitaram ou tiveram condição de pagar esse aumento.
As dificuldades econômicas de muitos resultaram na renúncia do serviço, já que as circunstâncias atuais, comparadas a alguns anos atrás, oferecem soluções alternativas à Netflix.
A pandemia de coronavírus e os lockdowns inevitavelmente aumentaram o número de clientes do Netflix.
Mas nos últimos meses, com o fim progressivo da emergência sanitária, as pessoas ficaram menos presas em casa, dedicando-se a outras atividades em seu tempo livre.
Da mesma forma, o surgimento de plataformas concorrentes como Disney+ e Amazon Prime Video, deram aos usuários maior escolha.
Em ambos os casos, o custo da assinatura é muito menor do que o da Netflix, cujo planos vão até R$ 55,90.
Na Disney+ o preço é de R$ 27,90.
No caso da Amazon Prime, a assinatura de R$ 9,90 também inclui frete grátis para o o site de varejo eletrônico.
Diante de um mercado com uma oferta cada vez mais rica, os concorrentes estão desmoronando o monopólio que caracterizou a Netflix na última década.
Os executivos da Netflix estão culpando também a prática de compartilhamento de contas pelos resultados negativos.
Segundo eles, além dos 222 milhões de assinantes oficiais, existiriam cerca de 100 milhões de usuários que usariam contas compartilhadas com amigos, parentes e conhecidos.
Um fenômeno que a Netflix já deixou claro que vai acabar o quanto antes.
Por fim, os jovens entre 14 a 25 anos estão investindo muito mais tempo com videogames e consumindo conteúdos no TikTok, Instagram e YouTube do que na Netflix.
E o fato das gerações mais novas estar mostrando essa tendência é a maior preocupação para o futuro, seja dos acionistas que dos executivos da plataforma.
Isso pois essa leva será a clientela do futuro. E deles vai depender a sobrevivência ou não da empresa.
Por isso, a Netflix já criou uma seção reservada para jogos, sem custos adicionais. Mas ainda não há um diagnóstico claro sobre a eficácia desta opção em termos de assinaturas.
Esses motivos, todos combinados, causaram inexoravelmente uma parada no crescimento da Netflix, que agora trabalha para uma reação imediata e oportuna.
Repetir o sucesso e recordes dos conteúdos como Squid Game (142 milhões de visualizações da série), Bridgerton (82 milhões) e The Witcher (76 milhões), atualmente parece muito difícil.
Entre as iniciativas que a plataforma está cogitando, está a introdução de novos ícones, como foi o caso do polegar duplo.
Ou também está sendo avaliada a possibilidade de permitir que os assinantes possam alterar o final de uma série.
Obviamente isso tudo não é suficiente. E a solução mais imediata e provável, também para a redução do custo das assinaturas, parece ser a introdução de propaganda na plataforma.
O mesmo cofundador e CEO da Netflix, Reed Hastings, já declarou abertamente a possibilidade dessa mudança, justificando-a com a oportunidade de desfrutar de assinaturas mais baratas caso o usuário aceite os anúncios.
Não seria o primeiro caso de propaganda dentro de conteúdos distribuídos por sites de streaming. Na Europa isso é algo que já ocorre em plataformas menores.
Por último, a disseminação da Netflix em muitos países também vislumbra a possibilidade de produzir e distribuir conteúdos cada vez mais personalizados, na base das áreas geográficas.
Entretanto, essa eventualidade levaria custos adicionais para a Netflix. Tudo que, nesse momento, a gestão da empresa não quer ouvir.